A catarata é uma patologia causada pelo aparecimento de opacidades no cristalino, que impedem de uma forma parcial ou total a correta visão do doente. Em Portugal, estima-se que cerca de 170.000 pessoas sofram de catarata, sendo que 6 em cada 10 pessoas com mais de 60 anos apresentam sinais desta doença.

As cataratas são a principal causa de cegueira evitável em todo o mundo, provocando 48% das cegueiras - mais de 18 milhões de pessoas. Atualmente a única opção terapêutica para as cataratas é a cirurgia.

Anualmente realizam-se quase 22 milhões de cirurgias de catarata em todo o mundo e cerca de 100 mil em Portugal, convertendo-se numa das intervenções cirúrgicas mais comuns.

O número de intervenções da catarata está a crescer rapidamente devido às alterações demográficas, às exigências cada vez maiores por parte dos doentes e ao acesso crescente aos cuidados médicos em todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde calcula que até 2020 vão realizar-se mais de 32 milhões de operações de cataratas por ano6 em todo o mundo.

Facoemulsificação

Entre as abordagens cirúrgicas mais habituais para o tratamento das cataratas encontram-se a facoemulsificação. Durante a facoemulsificação, o oftalmologista realiza uma incisão na córnea para introduzir uma microssonda com ultrassons para desagregar a parte interna do cristalino. Depois, o cristalino é aspirado para ser substituído por uma lente intraocular.

Recentemente começou a ser utilizada a tecnologia laser para as cirurgias de catarata. A intervenção utiliza um laser rápido denominado laser de femtosegundo combinado com a aspiração posterior do cristalino. Esta técnica é conhecida com o nome de “femtophaco” e também através das siglas em inglês FLACS (Femto Laser Assisted Cataract Surgery).

Sobre o Femtophaco, o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), professor Joaquim Murta, afirma que "esta técnica permite um controle muito mais preciso de toda a cirurgia, uma maior segurança para o doente, a utilização de menor quantidade de ultrassons que podem afetar a córnea, bem como um acesso bastante mais seguro em caso de cirurgias complexas de catarata".

As principais diferenças entre a cirurgia denominada como "clássica" e a cirurgia com laser de femtosegundo prendem-se, sobretudo, com a maior precisão que a utilização do laser permite face ao bisturi. As incisões anteriormente realizadas à mão através de um bisturi atualmente são realizadas pelo laser, assegurando uma maior precisão quanto às dimensões do corte, à profundidade e à posição dessas incisões. A capsurolexis (corte circular realizado na face anterior do cristalino) é realizada de forma precisa pelo laser, facilitando a posterior colocação e posicionamento centrado da lente intraocular.

"Assim, a cirurgia de catarata deixou de ser unicamente um meio de substituir uma estrutura que estava opaca por uma transparente (lente intraocular), para fundamentalmente ser uma cirurgia que, através de tecnologia muito precisa, permite aos doentes ficarem muito menos dependentes de óculos na grande maioria das suas atividades diárias", conclui o Professor Joaquim Murta.

Da mesma forma, o laser de femtosegundo permite fragmentar a parte central do cristalino, onde se encontra a catarata, através de pulsos curtos do laser que evitam os danos nos tecidos próximos à catarata e facilitam a sua posterior aspiração.

Segundo Rui Martinho, especialista em Oftalmologia do Hospital Lusíadas no Porto, "esta fragmentação prévia da catarata faz com que não seja necessária a utilização de tanta quantidade de ultrassons, o que indica esta técnica para situações em que a córnea do doente esteja mais vulnerável. Há ainda outras situações de cataratas mais complicadas em que este laser de femtosegundo nos pode facilitar a cirurgia nomeadamente, algumas cataratas traumáticas e olhos com a parte anterior muito baixa (ângulos estreitos). Em conclusão, os doentes que pretendem para além da extração da catarata, uma correção refractiva, isto é, corrigir o astigmatismo ou a presbiopia, terão mais indicação para ser operados por esta técnica com laser".