O consumo de bebidas alcoólicas está a diminuir ou a estagnar nos estados mais ricos, mas tende a aumentar nos países cujo padrão de vida tem vindo a crescer, como Índia e China, o que compromete a luta contra os efeitos nocivos dessas bebidas, aponta um estudo publicado nesta quarta-feira (08.05).
Essa "mudança de cenário" deve encorajar os países afetados a adotarem medidas que se mostraram eficazes em outros lugares, como "o aumento dos impostos, uma restrição da disponibilidade e a proibição de marketing e propaganda ao álcool", argumentam os autores do estudo publicado na revista médica britânica The Lancet.
O álcool representa "um importante fator de risco" no surgimento de muitas doenças, bem como em lesões e acidentes, ressaltam. Em Portugal, estima-se em 12,3 o consumo em litros per capita.
Cada adulto no mundo consumiu uma média de 6,5 litros de álcool puro em 2017, em comparação com 5,9 litros em 1990. Essa quantidade deve chegar a 7,6 litros em 2030, de acordo com as estimativas estabelecidas com base nos dados de 189 países.
Atualmente, o consumo per capita mais elevado no mundo está concentrado na Europa, mas se encontra em declínio (-20% em 27 anos, para 9,8 litros per capita), especialmente devido à redução acentuada em algumas antigas repúblicas soviéticas e países do Leste Europeu.
No sentido contrário, há um fenómeno de ascensão em países de rendimento médio, como China, Índia e Vietname, apoiado por "transições económicas e crescimento da riqueza". Esses três países agora têm "níveis mais altos de consumo do que alguns países europeus" (7,4 litros, 5,9 litros e 8,9 litros, respetivamente), descreve o artigo.
Em todo o Sudeste Asiático, o consumo médio duplicou entre 1990 e 2017, para 4,7 litros per capita. Na região do "Pacífico Ocidental", que inclui China, Japão e Austrália, o consumo cresceu 54%.
O nível de consumo de álcool permanece estável e muito limitado no Norte da África e no Oriente Médio (menos de um litro por adulto e por ano). Também tem sido tradicionalmente mais baixo na América do Sul do que nos países da América do Norte, de acordo com o estudo, que indica tendências relativamente estáveis nas Américas nos últimos 13 anos.
Em 2017, o consumo de álcool puro para ambos os sexos foi de 9,7 litros, na América do Norte (com alta renda); de 6,2 l, no Caribe; de 5,8 l, na América Central; de 5,6 l, na região andina; de 9,6 l, na América do Sul; e de 7,4 l, nos países tropicais.
Ao nível global, os hábitos variam segundo o sexo. Os homens consumiram em média 9,8 litros de álcool puro em 2017, em comparação aos 2,7 litros ingeridos pelas mulheres. Esta diferença deve cair ligeiramente até 2030, segundo os investigadores.
Ainda que uma maioria da população mundial (53%) não consuma álcool regularmente hoje, "as estimativas indicam que até 2030 metade dos adultos vai beber" álcool pelo menos uma vez por ano.
Além disso, um quarto (23%) da população experimentará alcoolismo maciço (seis doses em uma ocasião, ou seja, 60g de álcool puro) pelo menos uma vez por mês. Em 2017, essa percentagem foi de 20% e, em 1990, de 18,5%.
Essa tendência vai contra os objetivos da Organização Mundial de Saúde (OMS) de reduzir o "consumo nocivo de álcool" em 10% até 2025, alerta o principal autor do estudo, Jakob Manthey, da Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha.
A carga para o sistema de saúde vai, "provavelmente, aumentar em comparação a outros fatores de risco", aponta.
Medidas como o aumento dos preços de venda e de controlo de distribuição, eficazes nos países ricos, poderiam ser menos satisfatórias em países onde a maior parte do consumo se dá por meio de circuitos não oficiais, adverte Sarah Callinan, do Centro de Pesquisa de Políticas sobre Álcool da Universidade La Trobe, em Melbourne, na Austrália.
A investigadores recomenda, num comentário independente sobre o estudo, em insistir em "restrições rígidas à propaganda e a outras atividades promocionais", bem como em "medidas rigorosas contra quem dirigir sob efeito do álcool".
O consumo nocivo de álcool causa 3 milhões de mortes por ano, sendo os homens mais de três quartos das vítimas, de acordo com a OMS. Esta contagem inclui pessoas mortas em acidentes de trânsito ou em episódios de violência relacionados com o consumo de álcool.
O álcool também aumenta o risco de desenvolver inúmeras doenças, como patologias digestivas e cardiovasculares, bem como alguns tipos de cancro.
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