A investigação publicada hoje na reputada revista “Scientific Reports”, do grupo Nature, e pode abrir pistas para perceber a origem do declínio cognitivo e o processo natural de envelhecimento.

O grupo de trabalho junta Joana Cabral, Nuno Sousa, Paulo Marques, Ricardo Magalhães, Pedro Silva Moreira (todos do ICVS), Morten Kringelbach (Universidade de Aarhus, Dinamarca) e Gustavo Deco (Universidade Pompeu Fabra, Espanha).

A equipa gravou e analisou a atividade cerebral de 100 idosos portugueses saudáveis com níveis diferentes de capacidades cognitivas e descobriu padrões distintos, graças a um novo método de deteção que desenvolveu para o efeito, o “Leading Eigenvector Dynamics Analysis”. Concluiu-se que os participantes com melhor desempenho cognitivo têm uma maior atividade cerebral mesmo quando estão a descansar dentro do aparelho de ressonância magnética.

Na prática, a conectividade funcional dos idosos que têm menor desempenho cognitivo alterna de forma errática entre configurações de rede diferentes no cérebro; já os restantes idosos conseguem construir e manter padrões de conetividade específicos durante mais tempo e seguem redes mais estruturadas de reconfigurações.

Estes resultados apontam para nova evidência relacionando as dinâmicas da conetividade funcional com o desempenho cognitivo em idades avançadas, reforçando o papel funcional da atividade cerebral espontânea para o processamento cognitivo.

A influência da educação e da vida ativa

“Ao usar este novo método podemos caracterizar de forma eficiente o repertório de estados de rede que o cérebro humano explora durante o descanso”, diz a autora principal Joana Cabral, que na altura do estudo estava na Universidade de Oxford, no Reino Unido.

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“Fomos capazes de demonstrar que o desempenho cognitivo na vida avançada está relacionado com a paisagem dinâmica dos estados cerebrais, que podem ser moldados ao longo da vida através de fatores como a educação, o estatuto socioeconómico, a participação em atividades exigentes em termos cognitivos ou até a disposição”, realça.

Este estudo ajuda a perceber as dinâmicas do cérebro saudável no envelhecimento e mostra desigualdades significativas entre pessoas que apenas diferem na sua capacidade cognitiva.

“A longo prazo, esperamos caracterizar a evolução destas mudanças ao longo dos anos nos mesmos indivíduos, visando a identificação precoce daqueles que possam precisar de ajuda. Por outro lado, isto pode também ajudar a identificar algumas das capacidades cognitivas que caracterizam a sabedoria da idade”, acrescenta Morten Kringelbach.