“A saúde mental é um tema que tem vindo a ser identificado como problemático na nossa comunidade e em todo o país pela falta de recursos. A falta de acessibilidade aos serviços de psicologia é uma realidade muito evidente”, disse Patrícia Lopes, adjunta do presidente da Câmara de Gaia.

À agência Lusa, a responsável referiu que o “Feliz(Mente)” – que é apresentado hoje nas I Jornadas de Saúde Mental – é “um programa baseado na promoção e na prevenção, na desestigmatização da saúde mental e no procurar ajuda”.

“Queremos pôr Gaia a falar disto com naturalidade. Queremos evitar a vergonha associada a problemas de saúde mental”, resumiu.

Com atividades e subprogramas dedicados à comunidade local, infância, adolescência e juventude, pais e outros educadores, terceira idade, bem como a organizações, destaca-se a criação de equipas que vão estar disponíveis nas Juntas de Freguesia com psicólogos e educadores sociais a atender pessoas que necessitem de apoio ou procurem esclarecimentos para si ou para outros.

Patrícia Lopes acredita que estes gabinetes de apoio psicológico estarão disponíveis em 2023.

“Vamos tentar que a consulta psicológica seja mais acessível. Temos noção que as pessoas que necessitam de consultas de psicologia, quando são encaminhadas para os centros de saúde ou para os hospitais, demoram muito tempo a ser atendidos”, descreveu.

Este atendimento destina-se a interessados que se inscrevam nas consultas, mas as Juntas de Freguesia, “porque conhecem o seu agregado”, podem fazer a avaliação e sinalizar pessoas, acrescentou a adjunta do presidente, salvaguardando que existem casos não elegíveis.

“Quem padece de perturbações mentais graves, quem precisa de acompanhamento de psiquiatria, utentes seguidos por outra resposta, intervenções para fins judiciais ou crianças e adolescentes com pais divorciados sem consentimento de ambos para participar, não fazem parte do leque”, exemplificou.

No âmbito do “Feliz(Mente)”, a Câmara de Gaia, no distrito o Porto, também vai estabelecer um protocolo com a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) para “promoção da literacia em saúde psicológica e bem-estar da comunidade”, lê-se na informação sobre o projeto remetida à Lusa.

“Sozinhos não conseguimos fazer nada”, vincou Patrícia Lopes, ao explicar a colaboração com a OPP, bem como com outras associações e instituições e o envolvimento da rede social de Gaia.

A iniciativa inclui vários subprogramas como o “Sábados no Parque”, que visa “promover a ligação entre o corpo e a mente e prevenir o isolamento” através de atividades como dança, sessões de ‘mindfulness’ (conceito que deriva da antiga meditação budista), yoga, musicoterapia, terapia do riso, ou caminhada, entre outras.

As atividades vão decorrer em parques urbanos ou em praias, de acordo com o período estival.

Patrícia Lopes frisou que é objetivo da autarquia fazer um programa “transversal e inclusivo” quer nas idades, quer no tipo de público que abrange, daí também a aposta em “Grupos de Vida Social Apoiada”, um subprojeto do “Feliz(Mente)” para jovens, preferencialmente a partir dos 18 anos com deficiência e/ou incapacidade intelectual e/ou adaptativa.

Na prática, disse, serão grupos de jovens que criam a sua rede de contactos, identificam as atividades que gostariam de realizar – ver um pôr de sol no Jardim do Morro, ir a um concerto ou ao cinema, por exemplo – e combinam a atividade entre si, contando com o apoio de técnicos e de voluntários.

“Durante esse período [fins de semana de 15 em 15 dias] os pais ou cuidadores aproveitam para fazer as suas tarefas ou para descontrair”, acrescentou a responsável.

O “Feliz(Mente)” conta com outras iniciativas, nomeadamente a realização, em Gaia e anualmente, da Semana da Saúde Mental, ou a criação de grupos de desenvolvimento de competências parentais como o “Pais Reais Precisam-se!” ou o grupo de partilha “Pais (im)perfeitos” dedicado a grávidas e jovens pais.

A autarquia descreve o concelho conta com mais de 300 mil habitantes, sendo que a depressão, o abuso do álcool e a demência constituem alguns dos principais problemas ao nível da saúde mental. Acrescenta ainda que cerca de 10% dos utentes inscritos nos centros de saúde locais foram diagnosticados com depressão, sobretudo mulheres entre os 20 e os 79 anos, e 8% com demência, principalmente a partir dos 80 anos.