Num iluminado corredor da casa de repouso de Tallhojden, em Sodertalje, a cerca de 35 quilómetros de Estocolmo, há um banco, um mapa da cidade e uma placa com o logotipo da empresa municipal de transportes, o número da linha e os horários.

Caroline Wahlberg, responsável pela instituição, senta-se nesta paragem de autocarro improvisada com Edward, um residente de cerca de 80 anos, cujos penetrantes olhos azuis parecem distantes.

"É muito comum, especialmente numa determinada fase do diagnóstico de Alzheimer e demência, em que eles têm essa preocupação e querem ir para casa", contou à AFP. "Alguns chegam com as malas prontas" enquanto esperam no banco, acrescentou.

The sign for a fake bus stop installed in a corridor of the Tallhojden nursing home in Sodertalje, southwest of Stockholm, a facility dedicated to patients with dementia on October 13, 2023. Waiting for a bus that never comes: A Swedish nursing home has installed a fake bus stop in a hallway to ease the minds of anxious dementia patients eager to leave. In a brightly lit corridor at the Tallhojden nursing home in Sodertalje, a town 35 kilometres (22 miles) southwest of Stockholm, a bench is push
The sign for a fake bus stop installed in a corridor of the Tallhojden nursing home in Sodertalje, southwest of Stockholm, a facility dedicated to patients with dementia on October 13, 2023. Waiting for a bus that never comes: A Swedish nursing home has installed a fake bus stop in a hallway to ease the minds of anxious dementia patients eager to leave. In a brightly lit corridor at the Tallhojden nursing home in Sodertalje, a town 35 kilometres (22 miles) southwest of Stockholm, a bench is push Casa de Repouso de Tallhojden, em Sodertalje, arredores de Estocolmo, na Suécia créditos: VIKEN KANTARCI / AFP

A paragem de autocarro foi instalada há quatro anos, e embora não seja utilizada diariamente, já ajudou os pacientes em diversas ocasiões.

"Uma senhora que morava aqui vinha à paragem todos os dias, várias vezes ao dia, e pedia aos familiares que a viessem buscar", disse Wahlberg. "Sentávamo-nos com ela no banco e esperávamos. Aí começávamos a conversar (...) e ela acalmava-se e ficava feliz. Então íamos comer ou ver televisão", relatou.

Reviver memórias

As falsas paragens de autocarro começaram a ser instalados em 2008 em parques próximos a casas de repouso na Alemanha para oferecer aos pacientes um lugar onde pudessem sentar-se instintivamente.

Sodertalje
Sodertalje Sala na Casa de Repouso de Tallhojden, em Sodertalje, arredores de Estocolmo, na Suécia créditos: VIKEN KANTARCI / AFP

Nesta instituição sueca com 17 residentes, a medida faz parte do tratamento dos residentes. "Isso trouxe algumas mudanças aqui, é como uma terapia para eles", contou Louise Bass, uma enfermeira que trabalha no local há 13 anos.

A procura pelo banco aumenta no final do dia, quando os pacientes se sentem mais inquietos.

"Eles reconhecem a placa, então às vezes pensam que o autocarro está a chegar. Sentamo-nos aqui e conversamos (e) eles esquecem que queriam sair. Isso ajuda muito", relatou a enfermeira.

Sala na Casa de Repouso de Tallhojden, em Sodertalje, arredores de Estocolmo, na Suécia
Sala na Casa de Repouso de Tallhojden, em Sodertalje, arredores de Estocolmo, na Suécia Corredor da Casa de Repouso de Tallhojden, em Sodertalje, arredores de Estocolmo, na Suécia créditos: VIKEN KANTARCI / AFP

Segundo Rebecka Gabrielsson, administradora de várias casas de repouso na região, a paragem de autocarro "reaviva memórias".

"Eles podem falar sobre onde trabalharam, para onde viajaram. É uma ferramenta que os ajuda com os sintomas", disse.

Entretanto, embora a medida tenha sido adotada para reduzir o número de pacientes com demência que tentam fugir para as suas casas, um artigo publicado em 2019 pelo Israel Journal of Health Policy Research analisou que as falsas paragens de autocarro também podem aumentar os sentimentos de frustração e decepção dos residentes.