“O impacto da pandemia também passou pela nossa equipa, no sentido de acesso às respostas. Houve uma fase, com o fecho de muitos serviços e com as respostas a ficarem cada vez mais lotadas, que dificultava a intervenção e dificultava a execução dos projetos de vida dos utentes. Por exemplo, fazer os cartões de cidadão”, disse Ana Sofia Nunes, a psicóloga que coordena a equipa de rua da Associação Vida Autónoma (AVA), uma das quatro associações que têm equipas destas a trabalhar em Lisboa, financiadas pela Câmara Municipal.

“Sinto que agora estamos a chegar a uma fase com o padrão anterior ao da pandemia”, acrescentou, em declarações à agência Lusa.

A equipa de rua da AVA intervém na zona norte oriental de Lisboa, onde a maioria dos casos que acompanha “já têm muitos anos de rua”, havendo poucas pessoas que ficaram sem casa por causa da pandemia.

O percurso da própria AVA tem sido feito, praticamente, todo em pandemia.

A associação nasceu em setembro de 2019 e a equipa de rua foi criada em novembro de 2020, constituídas por pessoas que já trabalhavam e tinham experiência nesta área.

Até agora, a equipa de rua já contactou e acompanhou 235 pessoas, “algumas até à sua plena autonomia e integração”.

O trabalho da equipa “não acaba no momento em que saem da situação de rua”.

“Fazemos ‘follow-up’ aos três, seis e 12 meses. O primeiro ano, geralmente, é o mais frágil e qualquer contratempo pode facilmente fazer regressar à situação”, disse Ana Sofia Mendes.

Cabe também à equipa de rua perceber qual a melhor solução de alojamento para uma determinada pessoa, em função da sua vontade e perfil, sendo que as respostas que há hoje em Lisboa podem ser um centro de acolhimento, uma residência comunitária, apartamentos partilhados ou o “Housing First” (apartamento individual).

“É muito importante que a integração seja feita por uma resposta que efetivamente se adeque à situação daquele utente. Não é só tirar uma pessoa da rua, isso efetivamente é muito fácil de se fazer, tirar todo o contexto de rua daquela pessoa é que é muito complicado. Por exemplo, nem todo o utente consegue viver sozinho numa casa de ‘Housing First'”, afirmou a presidente da AVA, Rochele Kothe.

“Não há aqui um padrão, nem da pessoa em situação de sem-abrigo, nem do tipo de intervenção. É tudo muito individualizado”, acrescentou Ana Sofia Nunes.

Quando uma pessoa é encaminhada para um alojamento da associação, a AVA começa “a trabalhar um plano de desenvolvimento pessoal” vocacionado para as necessidades e vontade do utente, explicou Rochele Kothe, que disse haver “muitos casos” de pessoas que “num espaço relativamente curto de tempo” conseguiram um trabalho e arrendar um quarto por sua própria conta.

Para estes casos, a AVA trabalha com o projeto Emprego Primeiro — Porta Aberta Agência de Empregabilidade, que arrancou em 2020, pelas mãos da Associação Bairros e o apoio da Câmara de Lisboa, e se destina a “públicos em situação de vulnerabilidade”.

Mas também há pessoas que entram na residência solidária da AVA e “não vão nunca passar para uma resposta de maior autonomia”, disse Patrícia Cabral, psicóloga da associação.

“Temos de trabalhar com as realidades que temos. Não podemos criar falsas expectativas porque depois corre muito mal. Sabemos que temos pessoas que nunca vão chegar ao apartamento, como temos outras que rapidamente vão chegar ao apartamento, só precisam aqui de um pequeno empurrãozinho e depois seguem a sua vida autónoma, sem precisar de estar dependentes de associações, de apoios sociais, do que quer que seja”, garantiu Patrícia Cabral.

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