“Somos um exemplo ao nível da Ásia e de outros países (…) em relação não só às recomendações que foram dadas, como também ao cumprimento [por parte] da população”, defendeu o pediatra que integra a equipa médica de Macau envolvida na linha da frente do combate ao surto do novo coronavírus.

Em entrevista à Lusa, o especialista elogiou tanto as medidas tomadas pelas autoridades para conter a propagação da epidemia que já causou mais de duas mil mortes e infetou mais de 74 mil pessoas a nível mundial, como “o comportamento impecável da população”, que tem seguido os apelos das entidades competentes “à risca”. 

Recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS)

  • Caso apresente sintomas de doença respiratória, as autoridades aconselham a que contacte a Saúde 24 (808 24 24 24). Caso se dirija a uma unidade de saúde deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.
  • Evitar o contacto próximo com pessoas que sofram de infeções respiratórias agudas; evitar o contacto próximo com quem tem febre ou tosse;
  • Lavar frequentemente as mãos, especialmente após contacto direto com pessoas doentes, com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;
  • Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir;
  • Evitar o contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;
  • Adotar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo);
  • Seguir as recomendações das autoridades de saúde do país onde se encontra.

Por outro lado, sublinhou a qualidade e quantidade dos equipamentos nos Serviços de Saúde do território, com a existência em número suficiente de material para exames para o rastreio do vírus.

“A prova provada é que não temos casos nem em enfermeiros, nem em médicos. (…) Por alguma razão é”, argumentou, destacando o trabalho efetuado pela equipa de 23 médicos e 60 enfermeiros “que trabalha com as pessoas que têm mais probabilidade de serem infetadas”.

O chefe dos serviços de pediatria do Centro Hospitalar Conde de São Januário aproveitou para deixar um alerta, apesar dos “resultados fantásticos de Macau”, há 14 dias sem registar novos casos: “Isto ainda não acabou. Macau é uma cidade de 600, 700 mil habitantes, mas estamos rodeados por milhões, tanto do lado de Hong Kong, como pelo lado da China”.

Jorge Sales Marques salientou que “esta é uma luta que não envolve só os serviços de saúde, os profissionais de saúde a as entidades competentes, é uma luta da população em geral contra este vírus, porque é um vírus de muito fácil contágio”.

Macau conta atualmente com cinco casos de infeção no território. Dos 10 casos identificados desde o início do surto, cinco já receberam alta hospitalar.

Após um encerramento de 15 dias, iniciado a 04 de fevereiro, os casinos têm 30 dias, a partir de quinta-feira, para reabrir as portas na capital mundial do jogo, sob fortes medidas de prevenção determinadas pelas autoridades de saúde.

As escolas permanecem fechadas, jardins, assim como parques, jardins, espaços desportivos e culturais, bem como estabelecimentos de diversão noturna, enquanto os serviços públicos a garantirem desde segunda-feira serviços mínimos.

Numa fase inicial, o Governo de Macau foi obrigado a fazer uma encomenda de 20 milhões de máscaras de países como Portugal e Estados Unidos, face à falta de resposta do mercado chinês, e decidiu mesmo racionar a sua venda, com a população a apenas poder adquirir 10 máscaras a cada 10 dias. Recentemente, garantiu também um milhão de máscaras para crianças entre os 3 e os 8 anos, cuja aquisição também foi racionada.

As medidas excecionais praticamente paralisaram a economia da capital mundial do jogo, onde chegam anualmente quase 40 milhões de visitantes e cuja indústria turística é também muito dependente do mercado chinês.

O coronavírus Covid-19 provocou 2.004 mortos na China continental e infetou mais de 74 mil pessoas a nível mundial.

Além das vítimas mortais no continente chinês, há a registar um morto na região chinesa de Hong Kong, um nas Filipinas, um no Japão, um em França e um em Taiwan.

Veja em baixo o mapa interativo com os casos de coronavírus confirmados até agora

Se não conseguir ver o mapa desenvolvido pela Universidade Johns Hopkins, siga para este link.

O que são coronavírus?

São uma larga família de vírus que vivem noutros animais (por exemplo, aves, morcegos, pequenos mamíferos) e que no ser humano normalmente causam doenças respiratórias, desde uma comum constipação até a casos mais graves, como pneumonias. Os coronavírus podem transmitir-se entre animais e pessoas. A maioria das estirpes de coronavírus circulam entre animais e não chegam sequer a infetar seres humanos. Aliás, até agora, apenas seis estirpes de coronavírus entre os milhares existentes é que passaram a barreira das espécies e atingiram pessoas.

Qual o modo de transmissão?

Os animais são a fonte primária de transmissão, mas já está confirmada a transmissão entre seres humanos. Ainda não há informação suficiente sobre as formas exatas de transmissão entre humanos. O vírus parece ser transmitido por via respiratória, através da tosse ou secreções de pessoas infetadas.

O período de incubação está estimado entre dois a 12 dias, podendo ir até 14 dias. Há indicação de que pode haver transmissão do vírus mesmo antes de os sintomas se manifestarem.

Quais os sintomas?

Os principais sintomas são respiratórios e podem ser comuns ou semelhantes a uma gripe: febre, tosse, dificuldade respiratória, dores musculares e cansaço. Há doentes que desenvolvem pneumonia viral e até septicemia.

Há grupos de maior risco?

Pessoas de todas as idades podem ser afetadas pelo coronavírus. Contudo, pessoas mais velhas ou com doenças crónicas (como asma ou diabetes) parecem ser mais vulneráveis a ter doença grave quando infetadas. As autoridades destacam contudo que não há ainda informações suficientes para definir as pessoas atacadas de modo mais severo.

Um estudo hoje divulgado pelo Centro Chinês de Controlo de Doenças indica que 80% dos casos da infeção são ligeiros, que apenas 4,7% são considerados críticos e que as pessoas idosas ou com problemas de saúde prévios à infeção são as que correm mais riscos.