Esta informação permite o planeamento de sessões intensivas de musculação, preferencialmente a metade e no final de cada ciclo, quando o nível de testosterona está no máximo.
"É importante saber quando são os meus picos e testosterona, no momento em que se sente melhor e no qual será mais forte nos treinos", disse a nadadora de 29 anos que irá disputar a modalidade 10 km em águas abertas nas Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Recentemente, o INSEP (Instituto francês de Desporto, Especialização e Desempenho) divulgou o programa 'Empow'her', criado para entender melhor o ciclo menstrual e o rendimento desportivo das atletas.
"Não deve sentir vergonha da menstruação, é um elemento de rendimento como a nutrição e o treino", que pode provocar tanto elementos positivos como negativos, afirma Carole Maître, ginecologista do INSEP.
Apenas 9% dos estudos são dedicados à fisiologia feminina
No ano passado, os treinos de Jouisse foram analisados diariamente durante seis meses,(medidas hormonais, cardíacas e psicológicas) e comparados entre as diferentes fases do seu ciclo menstrual.
"Antes de começar o programa, não sabia que existiam estas fases todas", disse a nadadora, que realiza 10 sessões de natação e três treinos de musculação por semana nesta etapa de preparação para os Jogos.
Segundo a atleta de ski cross-country Juliette Ducordeau, o programa 'Empow'her' permitiu que descobrisse "tendências bastante impressionantes" sobre o seu desempenho e "conhecesse melhor" o seu corpo.
"Os momentos em que as minhas sessões são ótimas são durante a fase de ovulação, do primeiro ao 15º dia do ciclo", enquanto os últimos dias são mais difíceis, partilhou a atleta de 25 anos.
Desde que foi lançado em 2020, 130 atletas francesas de nove federações desportivas participaram na iniciativa, que também procura preencher o vazio a nível científico sobre a fisiologia feminina.
Segundo a coordenadora do programa, Juliana Antero, apenas 9% dos estudos sobre ciências do desporto são focados em mulheres, enquanto 71% são dedicados à fisiologia masculina.
"Existem muito poucos estudos de alta qualidade, por isso, até ao momento não há um consenso sobre o impacto da menstruação no desempenho desportivo", afirma a investigadora, acrescentando que os sintomas são relativamente semelhantes (dores de cabeça, dores no abdómen, etc), embora a temporalidade e intensidade variem de uma atleta para outra.
Tabu
O tema da menstruação continua a ser um tabu. A atleta de ski Clara Direz, ex-participante do programa 'Empow’her', percebeu que os treinadores, a maioria homens, "sentem-se desconfortáveis para falar sobre o ciclo menstrual e não estão muito envolvidos nem interessados".
"É importante consciencializar as atletas, mas antes de tudo é preciso consciencializar os treinadores", afirma Caroline Jouisse.
Com a proximidade dos Jogos, as federações francesas parecem mais preocupadas: a de ciclismo participou recentemente num estudo que indica que as suas atletas têm um melhor desempenho a meio do ciclo.
Já a federação de natação constatou uma diminuição da frequência cardíaca durante o período menstrual de 14 nadadoras que participaram no programa em 2023.
"Antes era necessário que a paciente desportiva tivesse desconfortos para atender à procura. Agora, estamos a sistematizar o acompanhamento", afirma Carole Maître.
Para ampliar o acesso ao programa 'Empow’her', Juliana Antero está a criat um "kit científico" para acompanhar atletas amadoras.
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