O que é o burnout?

Mauro Paulino, coordenador da "Mind | Psicologia Clínica e Forense, define o burnout como “uma síndrome caracterizada por um estado mental negativo e persistente, fruto do trabalho realizado e da exposição prolongada a situações de stress no trabalho. Causa exaustão, descrença em relação à profissão e uma sensação de ineficácia na realização das tarefas”.

De que forma se chega a este ponto?

“O burnout é o ponto final de um longo processo de exposição ao stress no trabalho”, alerta Mariana Moniz, psicóloga júnior na Mind | Psicologia Clínica e Forense. Por isso, salvaguarda a psicóloga que “se um sujeito perceciona que os desafios da sua profissão são mais exigentes do que a sua capacidade para lidar com estes, vai esgotando, ao longo do tempo, os seus recursos emocionais, levando a sentimentos de exaustão. Exausto, o profissional distancia-se e descompromete-se das tarefas e do trabalho, desenvolvendo sentimentos de cinismo e crítica em relação a este. Por fim, se estas condições se mantêm, o profissional põe em causa a sua própria eficácia”.

Mauro Paulino refere que “ao colocar-se em causa o profissional acaba por se questionar «será que é isto que eu quero fazer para o resto da minha vida? Será que sou eficaz no meu trabalho?». A partir daí, estão abertas as portas para condutas incessantes para tentar que não sejam levantadas críticas ao seu trabalho, bem como a uma multiplicidade de problemas psicológicos e comportamentais que ameaçam o bem-estar do sujeito”. 

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Quais as consequências?

“As consequências do burnout são diversas”, afirma Mariana Moniz, psicóloga júnior com investigação realizada no âmbito do burnout em profissionais forenses (Juízes, Procuradores e Advogados). Acrescenta que “esta síndrome é uma das principais responsáveis por sentimentos de insatisfação no trabalho, por pouco comprometimento neste, por conflitos com colegas e pelo absentismo e abandono laboral”. Por outro lado, descreve que “o burnout também é causador de problemas a nível físico”, enumerando “dores de cabeça, fadiga crónica, tensão muscular, tonturas, problemas respiratórios e gastrointestinais, hipertensão e até diabetes”. 

A nível psicológico, refere que “o burnout é inseparável de sintomas de ansiedade, irritabilidade e baixa autoestima e está também ligado ao desenvolvimento de perturbações mentais mais nocivas, como é o caso de depressões”. Explica que “em função destes sintomas, verificam-se alterações comportamentais e os profissionais, muitas vezes, adotam comportamentos de risco para lidar com esta sintomatologia, recorrendo ao consumo de substâncias estupefacientes e de medicamentos”. 

Mauro Paulino, psicólogo clínico e forense, acaba por referir que “o burnout não afeta apenas a vida profissional das pessoas. Os conflitos desenvolvidos no trabalho são, inevitavelmente, trazidos para casa e acabam por afetar a vida pessoal e familiar dos profissionais. Por seu turno, este ambiente familiar tenso agrava a sintomatologia sentida e leva ao aumento do mal-estar do sujeito no trabalho. Estamos, assim, perante um círculo vicioso que, se não intervencionado, se perpetua e agrava ao longo do tempo”. 

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Quais as intervenções mais recomendadas pela evidência científica?

A psicóloga Mariana Moniz, com formação em Autocuidado, Gestão do Stress e Prevenção do Burnout, sublinha a importância da intervenção no burnout, afirmando que “a intervenção pode ser direcionada ao indivíduo ou ao ambiente em que este se insere”.

No primeiro caso, “o objetivo é, através da intervenção psicológica especializada, equipar os profissionais com competências e estratégias para diminuir os efeitos que os stressores no trabalho têm em si, através de técnicas de relaxamento ou intervenções cognitivo-comportamentais que providenciam estratégias mais eficazes para lidar com o stress e ansiedade no trabalho e trabalhar atitudes e perceções em relação à profissão”.

Por sua vez, no segundo caso, “procura-se alterar as condições laborais que provocam o burnout, reduzindo a carga de trabalho, aumentando os sentimentos de controlo e de autonomia e trabalhando a rede de suporte social do sujeito, entre outros”. Acrescenta que “existem também modelos mistos, onde a intervenção individual do sujeito inclui também medidas para alterar o ambiente laboral e métodos de trabalho”. 

Mauro Paulino salienta que “a prevenção é fulcral e o burnout, quando instalado, está para ficar, sobretudo na ausência de qualquer intervenção especializada. Os sinais do seu aparecimento não devem ser ignorados e apenas a intervenção especializada pode mitigar os seus efeitos e levar à sua total dissipação”.