“Continuamos sem conseguir sequer apoiar os mais vulneráveis dos vulneráveis”, alertou o bastonário da Ordem dos Psicologia Portugueses (OPP), Francisco Miranda Rodrigues, referindo-se às crianças e jovens em casas de acolhimento, numa carta aberta a Marcelo Rebelo de Sousa.

“Não será difícil considerarmos a necessidade destes jovens e o imperativo que é podermos dar-lhes uma resposta, atempada e continuada”, lembrou o responsável, considerando que esta falha pode colocar em causa o desenvolvimento e projeto de vida dos jovens em casas de acolhimento.

Na missiva, o bastonário começa por recordar as situações vividas recentemente com impacto na saúde mental dos portugueses, apontando a pandemia, a insegurança e incerteza resultantes da continuidade da guerra na Ucrânia e o agravar do conflito israelo-palestiniano.

A estes fenómenos – recorda – juntam-se “a crise na habitação e a inflação, que aumentou a privação material da generalidade da população”.

Francisco Miranda Rodrigues sublinhou que, nos últimos anos, aumentou a procura de serviços de psicologia, apontando o estudo socioprofissional realizado pela OPP na altura da pandemia.

Destacou igualmente a falta de investimento na contratação de psicólogos para o Serviço Nacional de Saúde, particularmente para os cuidados de saúde primários.

Na carta, o bastonário apelou ainda a Marcelo Rebelo de Sousa para que esteja atento, sublinhando a necessidade de o próximo Governo vincular os psicólogos nas escolas, uma situação prevista no Orçamento do Estado.

Segundo Francisco Miranda Rodrigues, esta será a forma de evitar “uma catástrofe para as escolas portuguesas, como seria a saída de cerca de 500 psicólogos”.

“O trabalho dos psicólogos é cada vez mais reconhecido e tornou-se indispensável e uma necessidade permanente das escolas, fruto da demonstração clara, no dia-a-dia, das mais-valias do seu impacto”, referiu.

Sobre a necessidade de investimento público na empregabilidade dos jovens profissionais, o bastonário lembra os jovens que terminam o curso e pretendem realizar o Ano Profissional Júnior (estágio profissional).

A este propósito, informou que, dos mais de 1.100 estágios profissionais realizados por ano, “90% são nos setores social e privado”, lamentando que exista “pouco investimento público nesta exigência legal”.

“Nas escolas, os Governos não fazem qualquer investimento nestes estágios”, escreveu o responsável, recordando que no SNS se realizam, no máximo, cerca de 30 estágios profissionais por ano.

O novo quadro legal “torna tudo mais exigente para os jovens profissionais na nossa área”, considerou o especialista, pedindo mais investimento público na empregabilidade destes profissionais.