“A tendência é para temperaturas mais altas, menos precipitação e também fenómenos climáticos mais intensos”, afirmou Fernanda Carvalho, acrescentando que “as estações do ano também sofreram alterações desde 1948, estando os invernos mais quentes em cerca de 0,4 graus Celsius”.

A meteorologista falou à agência Lusa a propósito do Dia Meteorológico Mundial que se comemora na quinta-feira.

Nos Açores, a delegação regional do IPMA assinala a data com um conjunto de palestras, sob o tema “Compreender as nuvens”, e visitas ao Observatório Afonso Chaves, em Ponta Delgada, de 23 a 30 de março.

Segundo Fernanda Carvalho, a década mais quente nos Açores foi entre 1998 e 2008, sendo que 2008 “foi mesmo o mais quente de todos nos últimos 17 anos”.

A meteorologista explicou que o aumento da temperatura tem um impacto significativo ao nível dos recursos hídricos, salientando que “quanto mais quente fica a atmosfera maior é a capacidade de conter o vapor de água e mais difícil é a passagem desse vapor ao estado líquido”. “Iremos ter, por isso mesmo, menos nuvens e menos chuva orográfica”, referiu Fernanda Carvalho, adiantando que entre 1948 e 1990 houve uma diminuição de 3% da precipitação registada nas ilhas”.

De acordo com a meteorologista, os dados registados indicam que as alterações climáticas a nível global estão também a influenciar fenómenos como os ciclones tropicais, sobretudo ao nível do aumento de potência dos mesmos. “Os estudos sugerem que o índice de potência dissipada dos ciclones tropicais do Atlântico norte deverá aumentar durante o século XXI. Sugerem, ainda, que estas alterações do clima levarão ao aumento da intensidade destes fenómenos, não ao aumento da frequência dos ciclones”, esclareceu Fernanda Carvalho.

O Governo dos Açores prevê concluir no próximo mês o Plano Regional para as Alterações Climáticas, documento que está a ser elaborado por uma comissão e vai custar meio milhão de euros.

A decisão do executivo regional de elaborar uma estratégia para fazer face às alterações climáticas foi tomada em maio de 2014, como revela a resposta da tutela em agosto de 2016 a um requerimento do deputado do PPM no parlamento dos Açores.

Do programa comemorativo do Dia Meteorológico Mundial, Fernando Carvalho referiu que o conjunto de palestras, de entrada livre, vão abordar, além das alterações climáticas, temáticas como a sismicidade nos Açores, nuvens, biodiversidade marinha, ciclones tropicais e a relação entre a meteorologia e a saúde. “A principal motivação é interagir com a sociedade, abrir as portas, sensibilizar para as questões da meteorologia e climatologia, e explicar a importâncias de transmitir conhecimentos e informação”, justificou a meteorologista.

O IPMA está presente nas nove ilhas do arquipélago, contando ao serviço com meteorologistas, observadores meteorológicos e geofísicos.