Com os termómetros a marcarem 40,5°C no oeste da Alemanha, o país bateu o seu recorde absoluto de calor, anunciou o serviço meteorológico alemão (DWD). "Um novo recorde de temperatura na Alemanha. Com 40,5°C, o recorde anterior era de 40,3°C (Kitzingen, 5 de julho de 2015) para toda a Alemanha foi batido hoje em Geilenkirchen", escreveu o DWD no Twitter.
Bélgica e Holanda também registaram recordes históricos de calor, com respetivamente 38,8ºC e 39,9ºC.
Nunca fez tanto calor em Gilze Rijen, sul da Holanda, como ontem, onde o termómetro chegou aos 38,8ºC. O último recorde remontava a 1944, com 38,6°C, segundo o Instituto Real Meteorológico Holandês (KNMI).
A Bélgica, onde um "alerta vermelho" de calor foi emitido pela primeira vez, também registou um recorde histórico, com 39,9°C, em Kleine-Brogel, no nordeste. De acordo com o diretor de previsões do Instituto Real Meteorológico (IRM), David Dehenauw, trata-se da "temperatura mais elevada desde o início das observações em 1833".
Os especialistas alertam para uma nova subida das temperaturas até sexta-feira. Esta quinta-feira, deve ser a vez de Paris superar o seu recorde de 1947, quando registou 40,4°C.
Em França, o nível de alerta pelo calor foi revisto para "vermelho" na parte norte, incluindo a capital.
"É a primeira vez que isso atinge departamentos do norte do país, com um perfil urbano e populações que não estão acostumadas a temperaturas neste nível", advertiu a ministra da Saúde, Agnès Buzyn. "Por esse motivo peço que redobrem a atenção", frisou.
No Tour de France, os organizadores decidiram autorizar o reabastecimento das equipas de ciclistas desde o "quilómetro zero" (ponto de largada real da etapa), em vez de permitir que aconteça apenas a partir do quilómetro 30 da corrida, como é normalmente.
Em Cofidis, uma geladeira elétrica extra foi instalada para transportar as bolsas de gelo que os desportistas usam para se refrescarem. Em Groupama-FDJ, seis pessoas estão à disposição para fazer reposições ao longo da corrida. Quando está menos calor, costumam ser apenas duas.
Bona, a cidade mais quente
Na Alemanha, todo o país está sob alerta pelo calor. Às 14h30, com 38,7ºC, Bona era a cidade mais quente de todo território. Lagos e rios estão particularmente cheios, e pelo menos três pessoas morreram por afogamento desde a terça-feira à noite. Para hoje, a expectativa é que os termómetros cheguem aos 41°C, ultrapassando o recorde de 2015 registado na Baviera, quando chegou aos 40,3°C.
O Reino Unido também deve "bater o recorde de calor de julho, que é de 36,7°C, e tem até a possibilidade de bater o recorde absoluto de 38,5°C", afirma o Met Office.
Em Londres, a polícia anunciou estar à procura de três pessoas dadas como desaparecidas, depois de se banharem no Tâmisa.
À espera de temperaturas acima de 35ºC, o Luxemburgo anunciou que vai declarar alerta vermelho.
Itália também sofre com a onda de calor e as autoridades locais elevaram o alerta para nível 3 ("vermelho") em Bolzano, Brescia, Florença, Perúgia e Turim. Outras cidades, incluindo a capital, Roma, devem entrar em alerta vermelho amanhã, quando se prevê um pico de temperatura.
Mundo cada vez mais quente
As temperaturas no mundo nunca subiram tão rapidamente nos últimos 2.000 anos como agora, de acordo com dados publicados na quarta-feira que, segundo especialistas, deveriam calar todos os céticos em relação ao aquecimento global.
Enquanto boa parte da Europa sofre uma segunda onda de calor em menos de um mês, dois estudos diferentes analisam dois mil anos de tendências da história climática recente do planeta Terra.
Os investigadores usaram dados de temperatura compilados de cerca de 700 indicadores: anéis de crescimento de árvores, núcleos de gelo, sedimentos de lagos e corais, bem como termómetros modernos.
O primeiro estudo, publicado na revista Nature, destaca que durante a "pequena era glacial" (de 1300 a 1850), apesar de ter sido registado um frio extremo na Europa e nos Estados Unidos durante vários séculos, não ocorreu o mesmo em todo o planeta.
"Quando olhamos para o passado, encontramos fenómenos regionais, mas nenhum em todo o mundo", explica Nathan Steiger da Universidade de Columbia em Nova Iorque. "Por outro lado, atualmente, o aquecimento é global. Agora, 98% do planeta sofreu um aquecimento após a revolução industrial", acrescenta.
Um segundo artigo, divulgado na Nature Geoscience, examina a média das variações de temperatura em períodos curtos, de várias décadas. As conclusões são claras: em nenhum momento desde o início da era cristã, as temperaturas subiram tão rapidamente e de maneira tão regular como no final do século XX.
Este resultado "destaca o caráter extraordinário da mudança climática atual", afirma Raphael Neukom da Universidade de Berna na Suíça, coautor do estudo.
Estes estudos "deveriam derrubar definitivamente os argumentos dos céticos das alterações climáticas que defendem que o aquecimento global observado recentemente se inscreve num ciclo climático natural", destaca Mark Maslin da University College de Londres.
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