Atualmente, é largamente generalizada a constatação de que a obesidade constitui uma ameaça grave em termos de saúde pública pelas suas consequências com outros quadros de morbilidades associadas, que igualmente comprometem a qualidade de vida. A prevalência das situações de obesidade tem aumentando ao nível mundial e Portugal não é exceção, tendo os números aumentando nos últimos anos, em adultos e em crianças.

Ainda que seja reconhecido o papel de fatores genéticos na etiologia da obesidade e para o aumento de sua prevalência, grande parte da responsabilidade está também associada a fatores claramente comportamentais, relacionados com os hábitos e estilos de vida, nomeadamente prática inadequada de atividade física, alimentação nutricionalmente pobre, vida sedentária, ritmo de sono e rotinas potencialmente stressantes.

As intervenções para a gestão do peso devem assim ser baseadas precisamente nestes hábitos e estilos de vida, e as recomendações do National Institute of Health-USA sugerem que, para além da promoção de uma restrição calórica e prática de exercício físico regular, devem também ser incluídas estratégias de modificação de comportamento, sendo esta última área, por excelência, o campo de intervenção da Psicologia. 

Estas intervenções comportamentais pressupõem um efeito indireto nos comportamentos através da influência em condicionantes internas (ex., motivação, competências) ou externas (ex., oportunidades, exposição a fatores de risco), de forma a estimular o cidadão para modificar comportamentos através do aumento da sua literacia em saúde, empowerment e em decisões autónomas e auto-reguladas. A intervenção realizada pela Psicologia pode ter contribuições muito benéficas para a melhoria da saúde, em paralelo com outras intervenções realizadas nas áreas da Nutrição, Medicina e Fisiologia do Exercício (etc), sendo a obesidade uma área de trabalho multidisciplinar. 

É necessário conhecer o comportamento alimentar e analisar a composição nutricional da dieta (por exemplo), mas também será importante lidar com uma imagem corporal mais empobrecida, uma baixa auto-estima, ajuda na gestão do stresse, promoção da literacia, aumento da auto-regulação e da autonomia, ou lidar com a alimentação “emocional” no dia-a-dia (emoções que influenciam as escolhas alimentares que fazemos).

Contudo, não podemos esquecer que alterar e mudar comportamentos é, por si só, tradicionalmente difícil. Os hábitos dão segurança e conforto e mudá-los pode implicar resistência, medo e desconfiança. Assim, num processo de mudança é crucial ter em conta que:

  • As mudanças não devem ser extremamente radicais, mas sim feitas com planeamento, em pequenos passos consistentes, com dificuldade e desafios progressivos;
  • Os objetivos para a mudança de comportamento devem ser realistas, coerentes e adaptados à realidade de cada pessoa;
  • Irão ocorrer momentos de não cumprimento dos planos/objetivos que podem trazer alguma frustração, mas que são inerentes e fazem parte integrante do processo de mudança. O importante é tentar antecipar (se possível) esses momentos, ou, no caso de ocorrerem, reconhecer que existem e tentar voltar “à estrada” assim que possível, sendo flexível, redefinindo objetivos e atuando ao nível de auto-regulação (ex. não conseguir resistir a um doce, e por isso, nesse dia fazer uma caminhada extra para além do plano).

Porém, hoje em dia, alcançar e sobretudo manter um peso saudável não é um processo fácil… A fisiologia humana exerce para a grande maioria das pessoas uma “pressão” interna para poupar energia e armazená-la como gordura, e, por outro lado, a pressão do meio acaba por oferecer todo um reportório vasto de “tentações” alimentares altamente calóricas, e impor uma rotina em que o sedentarismo e a falta de prática de atividade física acabam por se instalar. A associar a estes aspetos, de forma frequente as estratégias usadas para reduzir o peso são frequentemente muito restritivas e não se enquadram no estilo de vida da pessoa, nem nas suas rotinas do dia-a-dia, como por exemplo alterações alimentares radicais e altamente restritivas, sem prática de atividade física. Como consequência, estas estratégias tendem a durar pouco tempo e a pessoa acaba por desistir e regressar aos comportamentos anteriores. 

Desta forma, num processo de gestão e de perda de peso é importante a pessoa explorar os seus próprios recursos, as suas preferências pessoais e capacidades de forma a promover a sua autonomia. O processo tem que estar associado a características, valores, objetivos e significados pessoais, para que a integração dos “novos” comportamentos seja mais fácil de concretizar. Se a pessoa se sentir bem com as alterações que faz, menor é a probabilidade de desistir, e maior a probabilidade de manter essas alterações a médio-longo prazo (porque foram compreendidas e integradas no seu estilo de vida). E, se a todos estes fatores se associar ainda a característica hedónica (de prazer, de divertimento) do “novo” comportamento, então as potencialidades da sua manutenção tornam-se ainda maiores, porque é algo que fica e se mantém … para a vida.

Mens sana in corpore sano.

Um artigo de Teresa Santos, Coordenadora de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Tecnologia da Universidade Europeia.