A doença de Lyme é provocada pela Borrelia, uma bactéria transmitida através da mordida da carraça e que é pouco valorizada em Portugal. A primavera-verão é a altura mais propensa para ser atacado por este parasita que quando instalado no corpo humano pode provocar problemas do sistema nervoso central semelhantes à artrite reumatóide ou fibromialgia.

A bactéria Borrelia é transmitida através da mordida das carraças e os javalis, assim como outros animais selvagens, podem estar cheios delas.

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Houve cinco casos de transmissão da doença em Portugal em 2014, segundo o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e 360 mil na Europa nos últimos 20 anos. Estima-se que ocorram cerca de 65 000 casos anualmente em solo europeu. Os países com maiores incidências reportadas localizam-se na Europa Central, com um gradiente decrescente para oeste e para sul.

As áreas com maior risco para a transmissão da doença são tipicamente florestas e matas, com elevado grau de humidade. Nos últimos anos tem-se assistido ao aumento da sua incidência e à expansão geográfica da sua distribuição na Europa.

Em Portugal, apesar da escassez de dados epidemiológicos, alguns trabalhos sugerem uma crescente importância desta patologia, em particular nas regiões norte e centro do país. A doença passou a ser de notificação obrigatória em Portugal em 2015.

A doença de Lyme é uma patologia multissistémica, crónica, com importantes manifestações clínicas do foro dermatológico.1 É causada pela infeção por espiroquetas do complexo Borrelia burgdorefi sensu lato, transmitidas pela mordedura de carraça, pertencente ao género Ixodes. 1
A doença de Lyme é uma patologia multissistémica, crónica, com importantes manifestações clínicas do foro dermatológico.1 É causada pela infeção por espiroquetas do complexo Borrelia burgdorefi sensu lato, transmitidas pela mordedura de carraça, pertencente ao género Ixodes. 1 A doença de Lyme é uma patologia multissistémica, crónica, com importantes manifestações clínicas do foro dermatológico. É causada pela infeção por espiroquetas do complexo Borrelia "burgdorefi sensu lato", transmitidas pela mordedura de carraça, pertencente ao género "Ixodes"

O aumento dos movimentos migratórios e das viagens a áreas endémicas poderá também contribuir para o crescimento do número de casos de doença de Lyme em território nacional.

As carraças podem libertar-se do seu hospedeiro (especialmente se este tiver sido morto) e procurar um hospedeiro novo, onde se esconde em sítios difíceis de encontrar. "Durante a caça ao javali, assim que o animal é morto, a carraça procura imediatamente um novo hospedeiro", explica em comunicado de imprensa Maria das Neves Paiva Cardoso, investigadora no Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), na Universidade de Trás-os-Montes.

Sintomas e prevenção

A maioria dos indivíduos infetados pela Borrelia recorre à consulta de Dermatologia após uma mordedura de carraça ou com lesões compatíveis com eritema migrans.

Outras manifestações cutâneas da doença de Lyme, como o linfocitoma borreliano e a acrodermatite crónica atrófica, são raras e pouco observadas na prática clínica. Perante uma mordedura de carraça deve ser efetuada a sua remoção e vigilância clínica por um período de 30 dias, não estando recomendada a utilização de terapêutica profilática em países europeus.

A promoção de medidas preventivas como a utilização de vestuário adequado em áreas endémicas é fundamental. O diagnóstico de eritema migrans é clínico e a terapêutica antibiótica de primeira linha é doxicilina, verificando-se taxas de eficácia elevadas.

Nas formas de apresentação cutânea mais raras, os estudos serológicos são essenciais para o diagnóstico e o exame histopatológico tem um papel importante. A terapêutica precoce está associada a uma melhoria clínica mais rápida e significativa, com menos sequelas a longo prazo.

Se a carraça for descoberta no prazo máximo de 24 horas depois de se alojar no ser humano, a probabilidade de ficar infetado com a bactéria é baixa. Porém, se esse hiato ultrapassar as 36 horas o risco aumenta.

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Perante uma potencial exposição, devem ser utilizadas estratégias preventivas como o recurso a calçado protetor e a vestuário de cor clara, que cubra toda a superfície corporal, e à utilização de repelentes de carraças, aplicados na pele e vestuário. Ao final do dia, deve ser analisada toda a superfície corporal, sem esquecer o couro cabeludo, e efetuada rápida remoção de carraças identificadas

Usar as meias por fora das calças, aplicar repelente, manusear os animais mortos com luvas, verificar se tem carraças no corpo quando se chega a casa, são as recomendações para os caçadores e outras pessoas que trabalham ou efetuam atividades de lazer ao ar livre em espaços agroflorestais.

Para que a transmissão da infeção ocorra, a carraça deve alimentar-se na superfície corporal por um período mínimo de 24 horas, estando demonstrado que 96% dos indivíduos que identificam e removem precocemente a carraça da superfície corporal não são infetados, mesmo em áreas de elevada endemicidade.

Os cães devem estar desparasitados e usar coleiras contra as carraças. Mas há que considerar também locais onde os animais podem deixar as carraças. "Os caçadores transportam o javali dentro do carro que, muitas vezes, é a viatura da família. As carraças vão ficar no jipe e podem lá sobreviver durante vários meses", refere Maria das Neves Paiva Cardoso.

Os sintomas podem surgir em poucos dias ou décadas depois, já que a bactéria pode estar inativa no organismo do homem vários anos. Assim que se começam a expressar - geralmente por fragilização do sistema imunitário - podem provocar doenças do sistema nervoso central.

Os primeiros sintomas são manchas vermelhas no local da picada que vão aumentando ao longo do tempo (eritema migrans) e que podem chegar aos 30 centímetros, cansaço, febre ou dor de cabeça. Outros sintomas são mal-estar geral, rigidez da nuca, mialgias, artralgias migratórias e linfadenopatia.

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Outras manifestações tardias são poliartrite com preferência pelas grandes articulações, artrite crónica, meningite asséptica, nevrite craniana, encefalomielite, meningoencefalite, radiculopatias (radiculoneuropatia), bloqueio auriculoventricular, miocardite.

Se o problema não for detetado, a doença pode evoluir e provocar problemas nos músculos faciais, inflamação na medula espinal, dores e inchaço nas articulações e manchas em outras partes do corpo. O não-tratamento da doença leva ao desenvolvimento de artrite e problemas graves no sistema nervoso central.

A doença geralmente tem cura, através da toma de antibióticos, mas alguns sintomas, como dor nas articulações, podem persistir.

Bibliografia: Revista SPDV 76(2) 2018; Doença de Lyme: Epidemiologia e Manifestações Clínicas Cutâneas; Pedro Miguel Garrido, João Borges-Costa.