Em Portugal existem cerca de 40.000 doentes diagnosticados com Artrite Reumatoide (AR).
Esta é uma doença inflamatória crónica de etiologia desconhecida e de evolução crónica, que envolve primariamente as articulações. Nos casos clínicos típicos manifesta-se sobre a forma de uma poliartrite (definida pelo envolvimento de três ou mais articulações), bilateral (afeta articulações nos dois lados do corpo), simétrica (afeta as mesmas articulações dos dois lados do corpo), progressiva, destrutiva e deformante.
Esta evolução culmina, após 10 a 20 anos de evolução da doença, em particular nos doentes com resposta parcial aos tratamentos instituídos, em algum grau de incapacidade motora.
A causa é desconhecida, estando contudo identificados vários fatores de risco, como as infeções, a genética e alterações hormonais. Trata-se de uma doença autoimune, o que significa que as defesas do organismo atacam os seus próprios tecidos.
A doença pode ocorrer em qualquer fase da vida mas é mais comum na meia-idade e cerca de 2 a 3 vezes mais frequente na mulher.
A artrite reumatoide tem início predominantemente como uma doença articular, com uma ou várias articulações afetadas, mais frequentemente as pequenas articulações das mãos e dos pés, de forma bilateral e simétrica. Podendo, no entanto, manifestar-se também como uma doença extra-articular com fadiga, anorexia, perda de peso e febre baixa, durante meses antes do surgimento do quadro de poliartrite.
O diagnóstico precoce é fundamental, uma vez que esta doença, diagnosticada nos primeiros três a seis meses do seu curso clínico e tratada corretamente, tem grandes probabilidades de não evoluir para a incapacidade funcional para o trabalho, diminuir a comorbilidade e não reduzir a esperança média de vida.
O diagnóstico precoce é feito com base na verificação de:
- edema, rubor, dor e calor de três ou mais articulações;
- envolvimento das articulações dos pés e mãos;
- rigidez matinal superior a trinta minutos (sensação de movimentos presos);
- simetria do envolvimento articular.
Não existem análises ou exames que deem 100% o diagnóstico de artrite reumatoide, mas alguns testes e exames podem ser úteis. As análises de sangue podem revelar a presença de anticorpos como o fator reumatoide ou os anti-CCP que, podendo estar presentes em população saudável, numa população com queixas sugestivas de AR pode ajudar a confirmar o diagnóstico. Ter estes anticorpos não é o mesmo que ter a doença, pois se existem algumas pessoas saudáveis com estes anticorpos no sangue, existem doentes com AR que não os têm.
Outros testes importantes são a velocidade de sedimentação ou a PCR para ver o nível da inflamação. O hemograma, que é a contagem dos glóbulos vermelhos e brancos, também é um exame importante, especialmente para determinar a presença de anemia (baixa dos glóbulos vermelhos/ hemoglobina) que é muito comum na AR. Os Raio-X, a cintigrafia, a ultrassonografia e a ressonância magnética nuclear, também são exames úteis, pois são estes que traduzem o grau de inflamação das articulações.
Os doentes com artrite reumatoide devem ser acompanhados por um médico reumatologista.
O tratamento da doença evoluiu significativamente nos últimos anos, em consequência da avaliação da atividade inflamatória, do conhecimento dos fatores de pior prognóstico, do uso precoce de fármacos antirreumáticos de ação lenta, do aparecimento de terapêutica combinada e, mais recentemente, da terapêutica biológica.
Os objetivos do tratamento são reduzir a dor e a inflamação, atrasar ou parar o envolvimento e a lesão das articulações e, por fim, melhorar a sensação de bem-estar e manter a pessoa ativa e válida para a sociedade.
Tratar globalmente a AR implica não só a utilização de fármacos, mas igualmente o recurso a outras opções, como programas individualizados de medicina física e de reabilitação, termas, exercício físico e cirurgia ortopédica.
Os doentes com artrite reumatoide têm também um risco aumentado de doenças cardiovasculares. Por isso, controlar o peso, praticar exercício físico, não fumar e controlar os lípidos do sangue (ex: colesterol, LDL, triglicéridos) é fundamental. Para além disso, o seguimento regular em consultas e a antecipação de problemas pode ser a chave para um melhor prognóstico na AR.
As explicações são da médica Cláudia de Jesus, especialista em Medicina Interna.
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