Trigo e água. Dois ingredientes base necessários para se produzir a maioria das massas alimentícias (vulgarmente designadas simplesmente por massas) que se comercializam em Portugal. Contudo, para além de se poder usar outro tipo de cereal, também podem ser adicionados outros ingredientes que enriquecem as massas, desde extratos de produtos hortícolas (que dão cor à massas), passando por especiarias, ovos, vitaminas, fibra, entre outros. De destacar que as massas serão sempre alimentos de grande simplicidade, aliada a um valor nutricional importante para o suprimento diário das necessidades nutricionais da população. Neste âmbito, é possível destacar, principalmente, hidratos de carbono complexos, importantes para conferir energia ao organismo; fibras alimentares (solúveis e insolúveis), vitaminas do complexo B, e minerais como, por exemplo, potássio, fósforo e magnésio. Além disso, contêm um baixo teor de gordura. 

No campo da Saúde, são vários os benefícios que poderemos atribuir ao consumo de refeições à base de massas, sobretudo se optarmos pelo consumo das suas versões integrais, tais como uma maior regulação do trânsito intestinal, a melhoria do humor e sensação de bem-estar, a diminuição do risco ou melhoria de doença cardiovascular (por via da diminuição da pressão sanguínea e colesterol LDL), de diabetes tipo 2, entre outros. Desta forma, o consumo de massas deve ser promovido, dentro das suas recomendações de consumo (1 porção equivale a 35g de massa crua ou 110 g de massa cozinhada), sendo imprescindível que se diversifique o tipo de massas que se consome, de forma a aumentar o leque de nutrientes aportados e tornar as refeições menos monótonas. A Roda da Alimentação Mediterrânica aconselha um consumo de 4-11 porções do grupo de alimentos que inclui as massas, o que nos pode remeter para uma recomendação de consumo de 1-2 porções de massa numa refeição de almoço ou jantar. A preparação e confeção culinária são também dois elementos chave para um consumo mais consciente das massas, pois apesar das massas serem um alimento bastante equilibrado sob o ponto de vista nutricional, se optarmos por lhes juntar ingredientes de menor qualidade nutricional (ex: carnes processadas e enchidos) ou seguirmos confeções culinárias mais desequilibradas teremos um resultado final global desinteressante. Assim, atendendo a que as massas são um alimento extremamente versátil na cozinha e que se conjugam muito bem com outros alimentos chave para potenciarem uma melhor saúde e por vezes menos consumidos, como os produtos hortícolas, as frutas, os frutos oleaginosos (ex: nozes, amêndoas, avelãs) ou as leguminosas, poderão representar um bom veículo para a adoção de um estilo alimentar mais inspirado na Dieta Mediterrânica.  

Em Portugal o consumo de massas remonta há muitos anos atrás, havendo registo de receitas com massas desde o tempo da rainha D. Maria I. É comum encontrar receitas clássicas que incluam este ingrediente, como a Massa à Lavrador, a Aletria, o Rancho… e, por isso, é igualmente importante que cada um de nós se envolva na transmissão deste tipo de tradições e identidade gastronómica nacional, passando estes saberes e sabores às gerações mais jovens.

O consumo de massas pode ainda ser visto segundo outra perspetiva – a perspetiva da sustentabilidade alimentar. Sabemos que em Portugal não temos capacidade produtiva suficiente para produzir a quantidade necessária de cereais para alimentar toda a população, contudo, há já algumas massas no mercado que incluem cereais nacionais e que devem ser privilegiados, sempre que possível. Contudo, não será através da massa em si que conseguiremos ser mais sustentáveis, mas sim através dos ingredientes que escolhemos para combinar num prato de massa. Deveremos procurar escolher hortofrutícolas da época, pescado dentro da sua época, carnes brancas, incluir mais vezes ingredientes de origem vegetal para fornecer a componente proteica do prato como as leguminosas ou os frutos oleaginosos, usar ervas aromáticas frescas para aromatizar os pratos de massa, entre muitas outras soluções que permitem criar refeições mais sustentáveis. Ainda neste âmbito, não esquecer a gestão do desperdício alimentar, procurando cozinhar apenas as quantidades necessárias ou canalizar as sobras para outras refeições.  

Em súmula, poderemos considerar as massas como um alimento de interesse a incluir na nossa alimentação diária, uma vez que se trata de um alimento versátil, nutritivo, económico e fácil de cozinhar, adaptáveis a ingredientes locais e sazonais, estando presente à mesa dos diferentes povos no mundo. Existem massas para todos os gostos, com diferentes cereais na sua base, com diferentes cores e sabores ou enriquecidas em nutrientes (ex. vitamina D, fibra) e que podem ser incluídas em qualquer fase do ciclo de vida.

Um artigo de Helena Real, nutricionista e secretária-geral da Associação Portuguesa de Nutrição.