"A endometriose está muito subdiagnosticada. Em primeiro lugar, porque não estamos apenas a falar de dores menstruais intensas, mas também de dores fora deste período que podem ter localizações variáveis no corpo da mulher. Em segundo lugar, porque também há casos em que é assintomática. O tempo médio estimado para o diagnóstico pode ser bastante longo e varia entre quatro e 11 anos. Por isso, as mulheres que têm dor crónica não a devem normalizar. É importante procurar um médico para despistar esta ou outras doenças", explica a especialista da Clínica IVI Lisboa.

De acordo com Tetyana Semenovaa endometriose consiste na presença do tecido endometrial fora da sua localização habitual: nos ovários, nas trompas de Falópio, nos ligamentos que sustentam o útero e no revestimento da cavidade pélvica ou abdominal.

"É um tecido sensível às alterações hormonais ao longo do ciclo menstrual e daí os sintomas que produz, sendo os mais frequentes dor e infertilidade. Apesar disso, algumas mulheres podem ser assintomáticas", acrescenta. Daí que, em alguns casos, o diagnóstico apenas surja quando procuram ajuda para conseguir engravidar. "Há uma estreita relação entre endometriose e infertilidade: cerca de 35% das mulheres com endometriose são inférteis", afirma.

Sintomas inespecíficos

Dor menstrual (dismenorreia), dor na relação sexual (dispareunia), dor ao evacuar (disquezia) e dor ao urinar (disúria) são os principais sintomas, mas há outras dores associadas como a abdominal ou torácica e cada doente apresenta sintomas diferentes e níveis distintos de dor.

Tetyana Semenova, médica ginecologista
Tetyana Semenova, médica ginecologista

A médica sublinha que a dor pode estar relacionada ou não com a menstruação, mas também podem existir sintomas gastrointestinais ou urinários se os implantes de endometriose invadirem o intestino ou a bexiga. “Esta é, de facto, uma doença que diminui muito a qualidade de vida da mulher, a sua vida sexual e até a vida profissional porque pode ser incapacitante ao ponto de a mulher não conseguir trabalhar”, explica a Dra. Tetyana Semenova.

A endometriose pode causar também obstrução das trompas ou formação de quistos ováricos que, em determinadas ocasiões, necessitam de cirurgia, com a consequente perda de tecido ovárico e diminuição da reserva ovárica.

Perguntas e respostas

Como se diagnostica?

O diagnóstico de suspeita pode ser estabelecido com base na clínica e visualização ecográfica ou na ressonância magnética  de quistos e/ou nódulos de endometriose. A confirmação é feita através da visualização direta das lesões. Em determinadas ocasiões, têm um tamanho mínimo e apenas é possível identificá-las através de laparoscopia.

É possível engravidar?

A endometriose pode dificultar a gravidez, principalmente quando envolve as trompas e os ovários. Por isso algumas mulheres que sofrem de endometriose, precisam de realizar tratamentos de procriação medicamente assistida (PMA). É importante que as mulheres grávidas com endometriose sejam acompanhadas regulamente pelo médico-obstetra para prevenir complicações: aborto, gravidez ectópica, parto prematuro, pré-eclâmpsia, entre outras.

A endometriose tem cura?

Esta é uma doença crónica, sem cura. O objetivo do tratamento da endometriose (médico ou cirúrgico) é melhorar a qualidade de vida da mulher, prevenir a eventual progressão da doença, preservar a sua fertilidade e/ou ajudar na concretização do projeto reprodutivo. A fertilização in vitro é um tratamento apropriado para a infertilidade associada à endometriose quando outras técnicas mais básicas fracassam. A gestação em muitos casos proporciona a melhoria da clínica da endometriose, embora temporária.

Quando operar?

A cirurgia, por norma, está indicada para os casos de endometriose mais graves. Consiste na recessão das lesões endometriais nas suas diferentes localizações e restabelecimento da anatomia pélvica. Em muitos casos, é um procedimento complexo que exige uma equipa multidisciplinar (ginecologista, cirurgião geral, urologista), especializada em laparoscopia avançada.

Guia da Endometriose do IVI tem informação útil sobre a doença e ajuda a esclarecer as dúvidas relacionadas com esta condição ginecológica que afeta milhões de mulheres em todo o mundo.