Qual a importância da prática de exercício físico para a saúde mental? Quais os principais benefícios?
A prática de exercício físico tem inúmeros benefícios para a nossa saúde e bem-estar geral. No que toca às mais-valias para a nossa saúde mental, destaco a prática de atividade física como uma das muitas formas de podermos contribuir para a nossa autorregulação emocional, ou seja, de conseguirmos libertar energia acumulada e, dessa forma, conseguirmos recuperar, desligando a nossa mente de preocupações, bem como de outras tarefas e atividades do nosso dia-dia.
A atividade física permite-nos, por um lado, mantermo-nos ativos e, por outro, recuperarmos o equilíbrio em termos energéticos.
Quais são os primeiros sinais que podem indiciar estados de ansiedade, depressão e burnout? Quais as causas mais frequentes que levam a estes estados?
A ansiedade, depressão e burnout são temas que, embora se possam relacionar, são diferentes. Vou centrar-me no tema do burnout.
De forma muito sucinta, burnout diz respeito a situações em que os mecanismos de oscilação – capacidade de irmos reequilibrando o nosso corpo/mente numa base regular – não foi ocorrendo no dia-a-dia. Nestes casos, em que há uma incapacidade de gerar ritmos oscilantes, o nosso corpo/mente entra progressivamente em exaustão emocional, até um ponto em que não consegue funcionar de forma equilibrada, estagnando num estado afetivo negativo que pode conduzir a limites de inoperância complicados.
De que forma a atividade física pode ajudar a prevenir o burnout?
A atividade física é uma das várias formas de podermos cuidar de nós, dado que contribui para a nossa autorregulação, mantermo-nos ativos e recuperarmos o nosso equilíbrio.
Além da prática desportiva, que outras medidas podem ser adotadas para promover a saúde mental?
Há muitas formas de promover a saúde mental. Falarmos do tema, como estamos a fazer nesta entrevista, é uma delas, dado que promove a reflexão (individual e coletiva) e o aumento de literacia sobre esta temática.
No seguimento das perguntas anteriores, em que falávamos da oscilação dos nossos níveis de ativação, por um lado é fundamental termos atividades que nos estimulem, que nos ativem mentalmente e por outro, outras que nos permitam desligar de aspetos como o trabalho e os problemas diários.
Ter objetivos ativa-nos mentalmente. Através deles temos uma direção para o nosso comportamento. Se os objetivos forem bem formulados, poderão ser o motor da nossa atividade. Preferencialmente quando são objetivos que só dependem de nós (de tarefa).
Depois temos a outra face da moeda, que é a recuperação. Esta terá de ocorrer com várias atividades, sendo o exercício físico uma delas, mas podem ser também atividades artísticas, espirituais e outras atividades de lazer. A vertente social, o estar com amigos e com parentes, é também muito importante. Em suma, qualquer atividade que nos permita desligar a mente pode funcionar e cada indivíduo deverá procurar o que melhor se adequa ao seu caso.
Em resumo: a dupla situação em que, por um lado, é importante sermos ativos e, por outro, termos de desligar de determinadas atividades, é fundamental na prevenção e na melhoria da saúde mental.
Em que consiste a psicologia do deporto e quais são os principais objetivos?
O objetivo da psicologia do desporto prende-se, essencialmente, com dois parâmetros: promover o rendimento desportivo – ajudar o atleta a ser melhor naquilo que faz; e promover o bem-estar do indivíduo.
Portanto, a psicologia do desporto desenvolve o seu conhecimento em torno daquilo que é a promoção de competências para otimizar o desempenho e o bem-estar dos diferentes agentes desportivos, sejam eles atletas, treinadores, árbitros, dirigentes ou dos cuidadores que estão à volta dos atletas.
Quais considera serem os maiores desafios ou obstáculos que Portugal enfrenta do ponto de vista da saúde mental e o que pode ser feito? Qual a importância de campanhas como a ‘Viva! Para lá da depressão’, em que participou, para promover a literacia da população sobre a saúde mental e quebrar o estigma associado?
Um dos maiores obstáculos que Portugal enfrenta está muito relacionado com a falta de literacia sobre o tema da saúde mental. Todos nós sabemos o que fazer quando estamos constipados, no entanto, poucas pessoas sabem o que fazer quando se deparam com uma manifestação de ansiedade prévia a um desempenho que é percecionado como difícil e/ou importante. A nossa falta de literacia sobre este tema é gritante e campanhas como o “Viva! Para lá da depressão” são essenciais.
É evidente que tudo o que se possa fazer para aumentar a literacia do público em geral sobre estes temas inerentes à saúde mental é muito importante e ajuda a desmistificar a procura de apoio nesta área, o que é fundamental.
Contudo, uma aposta nacional ao nível do treino de competências emocionais seria essencial. Temos de ajudar as pessoas a gerir melhor, desde tenra idade, as suas próprias emoções. Na minha opinião, deveria existir um plano nacional de treino de competências emocionais, a começar logo no ensino pré-escolar, para fornecer ferramentas de base a todas as pessoas (saber reconhecer e aceitar emoções seria um bom começo). Julgo que só desta forma conseguiríamos melhorar, a longo prazo, o nível de competências nesta área, na nossa população. Talvez com isso, daqui a uns 15-20 anos, tivéssemos um panorama completamente diferente quer ao nível do conhecimento, quer ao nível das pessoas serem competentes na autorregulação das suas emoções. Provavelmente isso poderia conduzir a um melhor nível global da saúde mental dos portugueses. Não é obviamente a única causa, mas poderia amenizar muito o sofrimento de muitas pessoas.
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