"Sono de beleza". Esta afirmação tem sustentação científica nos vários estudos clínicos que têm sido realizados.
Uma das principais funções da pele é a de barreira aos fatores de stress externo como as toxinas ambientais e o dano induzido pela exposição solar. Por sua vez, o sono é vital para o crescimento e renovação do sistema imunitário e vários outros sistemas do nosso corpo. Num ensaio clínico recente que envolveu mulheres na idade pré-menopausa, as que se incluíam na categoria de má qualidade de sono mostraram ter objetivamente mais sinais de envelhecimento cutâneo, incluindo rugas finas, pigmentação e redução da elasticidade, com menor capacidade de recuperação após exposição solar intensa.
A pele, como a maioria dos outros sistemas, tem um ritmo circadiano associado à ritmicidade endógena. Uma série de genes circadianos influenciam diretamente a proliferação celular, a sua renovação e o envelhecimento. Essa renovação celular cutânea ocorre sobretudo durante a noite, quando também há maior secreção de melatonina, adenosina, cortisol e hormona de crescimento e que vão influenciar as propriedades anti-inflamatórias e regenerativas da pele.
Quando esse ritmo não é respeitado, a aparência facial é afetada, favorecendo edema palpebral, olheiras, olho vermelho, palidez cutânea e o aparecimento de rugas, para além de comprometer a recuperação da barreira cutânea após agressão externa.
A auto-perceção de atratividade também fica afetada, com repercussão até a nível social e relacional.
Num outro aspeto verificado no estudo supra mencionado, o grupo categorizado como tendo má qualidade de sono tinha maior índice de massa corporal.
De facto, o sono tem um papel fundamental também na regulação do nosso metabolismo, e a sua má qualidade tem como consequência o aumento de peso e maior probabilidade para doenças metabólicas como a diabetes e a obesidade. A privação de sono aumenta não só a vontade de comer mas, sobretudo, a vontade de comer “mal”, com predileção por alimentos como os açúcares, carbohidratos e snacks salgados. A fundamentação científica prende-se com a influência do sono na produção das hormonas que regulam o apetite, tendo como efeito net o aumento da fome. Por outro lado, com a falta de sono, a área do cérebro responsável por controlar os nossos impulsos mais primários (o córtex pré-frontal), fica menos ativo e por isso controlamos menos os nossos impulsos alimentares.
Finalmente, a falta de sono diminui significativamente os níveis de testosterona no homem e interfere negativamente com a regulação das hormonas femininas e sabemos a influência que essas hormonas têm a nível cutâneo.
As boas notícias são que as novas gerações, como os millenials (nascidos nos anos 80 e 90), têm mais tempo de sono/dia do que a Geração X (nascidos entre os anos 65 e 80) o que parece denotar a sensibilização para a importância do sono na nossa qualidade de vida e que se traduz, naturalmente, na nossa aparência física.
Um artigo da médica Cláudia Loureiro, pneumologista, sonologista, e formada em medicina estética e antienvelhecimento.
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