Music Sessions #53, a nova música de Shakira, após o término do casamento com o futebolista espanhol Piqué, agitou as redes sociais e deixa no ar diversas questões: Porque é tão dolorosa a perda de uma relação amorosa? Porque não se segue simplesmente em frente? Porque parece que é frequentemente necessário desvalorizar o outro, ignorando-se, muitas vezes, que há filhos em comum? São estas reações exclusivas das celebridades, já que, não raras vezes, as músicas abordam este tema?

A perda de uma relação, enquanto perda primária, envolve um conjunto de perdas secundárias, como é exemplo a perda do suporte emocional, funcional e/ou financeiro, do parceiro sexual e da identidade familiar.

Por acréscimo às perdas das dinâmicas do presente, destaca-se ainda o doloroso “luto pelo futuro não vivido”, referente às expectativas e sonhos para o futuro, (em alguns casos) a oportunidade de uma parentalidade conjunta, a família sonhada e idealizada.

Neste sentido, por oposição à perda de uma pessoa por morte, na perda de um relacionamento, a pessoa perdida pode continuar a magoar a pessoa que se sente rejeitada e abandonada (aumentando, diariamente, o sofrimento da mesma).

Inclusivamente, o processo de luto pela perda de uma relação pode ver analisado segundo o (mais famoso) modelo de fases do luto de Kubler-Ross, psiquiatra pioneira na investigação sobre o luto e autora do livro “On Death and Dying”. Ora vejamos:

  1. Fase da negação, em que a pessoa nega o término e anseia por uma potencial reconciliação (procurar a pessoa; pedir perdão, interpretar erroneamente pelo comportamento do outro que este continua interessado; não contar a terceiros da separação).
  2. Fase da zanga, em que predomina a sensação de impotência, injustiça e, como o próprio nome indica, zanga perante a pessoa perdida (por exemplo, pensar “Como é que ele foi capaz?”, “Quem é que ela pensa que é?”; “Como foi capaz de me fazer isto?”).
  3. Fase da culpa, em que a pessoa vivencia sentimentos de culpa pela perda, associados a um discurso autodepreciativo, ativador de fragilidades na autoestima (“Eu não sou suficiente”, “A culpa foi toda minha”). Não raras vezes, nesta fase, são alimentadas as crenças de que “vou ficar sozinho(a) para sempre” ou “não mereço ser feliz”. Esta fase é facilitada pela nossa necessidade, enquanto seres humanos, de encontrar um significado para as experiências e, em alguns momentos, resultado da instabilidade emocional, recorremos à autorresponsabilização, à sensação de falha enquanto atribuição de significado para a perda.
  4. Fase da depressão, em que existe um confronto com a realidade e potencial irreversibilidade da perda/término da relação, definida pela tristeza, sentimentos de vazio, negligência do autocuidado (“A minha vida sem ele, não faz sentido”).
  5. Fase da aceitação, em que a pessoa em luto compreende que é capaz de viver sem a pessoa perdida e adota um papel ativo em relação ao seu bem-estar, à sua vida e ao seu futuro (“Começar do zero foi uma experiência de desenvolvimento pessoal!”, “Com o fim, percebi que sobrevivo sozinha, que posso ser feliz sem depender de outra pessoa”).

Naturalmente que as fases anteriores são flexíveis e nem todas as pessoas passam, rigorosa e consecutivamente, por cada uma destas fases. Inclusive, a pessoa pode “saltar” entre fases, não vivenciado cada uma delas (ou pela ordem do modelo).

O ser humano, perante uma experiência que o ultrapassa, tende a recorrer a estratégias compensatórias, tomem-se como exemplos a fome emocional, compras compulsivas, consumo exacerbado de álcool e/ou drogas, comportamentos sexuais de risco, recorrer a jogos da sorte (pois “Sorte no jogo, azar no amor”).

Especificamente no que remete para o envolvimento com terceiros, após o término da relação, este tende a estar presente na fase da zanga, não raras vezes, numa tentativa de ferir o outro/tentativa de vingança. Contudo, um dos medos do ser humano é o “medo de ficar sozinho”, o que facilita também o envolvimento, por vezes impulsivo, em novas relações, apesar da indisponibilidade emocional.

Na maioria das vezes, as pessoas em luto tendem a isolar-se, pelo evitamento de frases feitas como “tens uma vida toda pela frente”, “antes isso que uma doença ou a morte de um familiar”, o que facilita os sentimentos de incompreensão, solidão e ausência de momentos de reflexão (tendencialmente mais objetivos, realistas e produtivos) acerca da perda.

É importante referir que este processo de luto pode ter um impacto destrutivo da autoestima, no sentido de sentimentos de falha, inadequação e desvalorização, o que destaca a necessidade de, em alguns casos, recorrer a ajuda psicológica.

Não está sozinho(a). Liberte-se da culpa, assuntos pendentes e, em sessão, adquira as ferramentas que irão permitir provar a si próprio que consegue sobreviver emocionalmente a esta experiência de perda e que para ser feliz ao lado de alguém, tem de ser feliz sozinho. Dependa somente de si mesmo para preencher o vazio que, nestes momentos, rouba o seu bem-estar.

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.