Seja em filmes, séries, ou na vida real, são várias e repetidas as piadas sexistas sobre o ciclo menstrual e o efeito deste no humor e comportamento das mulheres, descrevendo-as como temperamentais e irracionais, e tecendo comentários como “Estás muito irritável hoje, deves estar com o período”. A imagem que tem sido criada e alimentada acerca dos processos naturais do corpo feminino aumenta e mantém um estigma bastante prejudicial para o sexo feminino e sociedade em geral.

Tomi-Ann Roberts, professora de Psicologia, na Faculdade de Colorado, e seus colaboradores investigaram sobre as opiniões de estudantes universitários face a uma mulher em duas condições: 1) que deixa cair um tampão da sua mala, e 2) em que deixa cair um gancho de cabelo. Na primeira condição, por estudantes de ambos os sexos, a mulher foi considerada menos competente, menos simpática e os participantes procuraram distanciar-se e evitá-la mais (sentando-se mais longe dela), em comparação com a segunda condição.

Outros estudos mostram que mulheres menstruadas são, tendencialmente, vistas como menos atraentes, mais impuras, instáveis e agressivas. Além disso, crenças sobre implicações negativas nas capacidades das mulheres durante a menstruação podem levar a profecias autoconfirmatórias que afetam a sua carreira. O estigma e o tabu associados à presença do período menstrual obriga, muitas das vezes, a que as mulheres se sintam compelidas a esconder a sua existência, aumentando o seu desconforto e mal-estar.

De acordo com a psicóloga, investigadora e professora auxiliar da Universidade de Illinois, em Chicago, Tory Eisenlohr-Moul, que estuda os efeitos psicológicos da menstruação, estes estereótipos estão errados por várias razões. Ao contrário do que se crê, para a maioria das pessoas menstruadas o ciclo menstrual não provoca mudanças significativas no humor e comportamento. Apesar de ser comum a ideia de que todas as mulheres sofrem de Síndrome Pré-Menstrual (TPM), marcada pela presença de sintomas pré-menstruais (por exemplo, dor de cabeça ou dores corporais) que afetam o funcionamento da pessoa, quando feita uma monitorização cuidada dos sintomas, percebe-se que a síndrome não afeta todas as mulheres.

Quando estes sintomas estão presentes de forma mais severa, algo que ocorre em cerca de 6% das pessoas do sexo feminino, poderá estar presente uma Perturbação Disfórica Pré-Menstrual. Esta perturbação caracteriza-se por alterações severas:

1)     De humor, como instabilidade emocional, irritabilidade ou aumento de conflitos, humor deprimido acentuado e/ou ansiedade acentuada.

2)     Fisiológicas e comportamentais, como diminuição de interesse pelas atividades habituais, dificuldade de concentração, falta de energia acentuada, alteração significativa do apetite, alterações de sono, sensação de sobrecarga e sintomas físicos (tais como sensibilidade ou inchaço dos seios, dor articular ou muscular, sensação de inchaço ou ganho de peso).

Para este diagnóstico, estes sintomas devem estar presentes na semana antes do início da menstruação, com melhoras poucos dias após o seu início, tornando-se mínimos ou mesmo ausentes na semana pós-menstrual, e causar um sofrimento clinicamente significativo e/ou interferência na vida e atividades quotidianas. Mesmo nesta perturbação, os estudos colocam a hipótese de que não se trata de uma perturbação do sistema reprodutivo, mas sim de uma hipersensibilidade do cérebro a mudanças hormonais normais. Por isso mesmo, uma maior sensibilidade à ansiedade parece estar associada a sintomas mais severos, facilitando que o impacto físico e psicológico da menstruação seja único para cada mulher.

Não obstante, mesmo na população saudável, podem surgir vários sintomas moderados que afetam de alguma forma a vida diária. Assim, no decorrer do período perimenstrual (dias antes e durante a menstruação), podem estar presentes sintomas de desconforto como dores de cabeça, irritabilidade, ansiedade e tristeza, dores de costas, acne. Além do desconforto inerente a estes sintomas, estes podem ainda impactar a satisfação com a própria imagem corporal, forma de vestir, autoestima e perceção de atratividade. Devido às alterações fisiológicas associadas ao processo menstrual, podem existir também alterações no sistema imunitário, digestivo, cardiovascular e temperatura corporal.

A falta de conhecimento sobre os processos fisiológicos e reprodutivos do sexo feminino pode trazer grande impacto negativo à saúde mental das mulheres, podendo afetar também outras áreas da sua vida, como a laboral, ou a satisfação das suas relações (quer seja pela falta de abertura para falar sobre o fenómeno e compreensão do mesmo, ou até o estigma relacionado com as relações sexuais durante a menstruação).

Além de se tratar de um processo natural que expressa a capacidade de gerar vida, durante a menstruação o corpo tem um maior gasto calórico, queimando mais calorias. Os estudos mostram a importância de considerar estes e outros benefícios da menstruação, sendo que mulheres com uma atitude positiva face a este ciclo reportam sentirem-se mais criativas e sincronizadas com a sua feminilidade.

É importante desmistificar aquilo que é a natureza sexual e reprodutiva do ser humano. Muitas mulheres sentem-se envergonhadas por este aspeto da sua fisiologia e sentem a pressão de perpetuar a imagem limpa, divertida e leve que os anúncios de produtos de higiene muitas vezes transmitem, escondendo a sua dor e embaraço.

O ciclo menstrual pode trazer desafios que não precisam de ser agravados por secretismo, discriminação e estereótipos. Se sofre por dores menstruais fortes, não hesite em pedir ajuda médica. Caso estas afetem o seu funcionamento emocional, comportamental, social e relacional, a ajuda psicológica poderá ser um auxílio importante na gestão saudável dessas alterações.