Hoje em dia passamos muito mais horas com colegas e chefes do que propriamente com a nossa família e amigos. Um chefe tem o poder de influenciar todo o ambiente em seu redor, com o seu comportamento, quer pela positiva, quer pela negativa. Sem darmos conta dos sinais e alertas, mais ou menos evidentes, podemos adoecer lentamente até chegarmos a um estado no qual já tudo está perfeitamente descontrolado.
Chefes tóxicos geralmente são altamente qualificados, mas não têm a menor noção dos estragos que fazem à sua volta. Pior do que isso, acham sempre que estão a agir de forma correta.
Existem demasiados trabalhadores a sofrer por terem de trabalhar com pessoas difíceis, sendo que esta questão se torna ainda mais delicada quando nos referimos a chefias, pois são estes que têm o poder de gerir pessoas e projetos.
Chefes que inibem competências
Todos conhecemos alguém vítima de um chefe stressado, rude, mal formado ou disfuncional, que em vez de estimular capacidades, de multiplicar talentos e aproveitar o melhor de cada um, inibe pessoas e competências. Outra característica muito comum de chefias tóxicas é a capacidade em reter talentos.
As organizações muitas vezes toleram trabalhadores com comportamentos inadequados pois o seu objetivo são os resultados imediatos ou a curto prazo. Aos poucos vai sendo gerada uma toxicidade com consequências perversas para organizações, trabalhadores, desempenho, famílias e para a própria sociedade.
Estes trabalhadores suscitam ambientes de desconfiança e mau estar, que levam a um aumento do absentismo, abandono da organização, actos de sabotagem, baixos níveis de motivação e um fraco desempenho dis colaboradores. Tal pode gerar problemas de saúde e bem estar nos membros da organização e respetivos familiares.
Aos poucos vai-se assistindo ao aparecimento de comunidades onde impera o stress e as suas consequências físicas e psicológicas, com concepções distorcidas daquilo que deveria ser a ideia de um local de trabalho saudável.
Como combater este ciclo?
Estes trabalhadores entram num ciclo onde todas as manhãs fazem um esforço sobre-humano para se levantar e encontrar forças para encarar um novo dia, num meio onde se sentem a sufocar e onde já não conseguem ter um foco nem motivação. Não se despedem porque sabem que o desemprego é um flagelo social e têm contas para pagar e filhos ou famílias para sustentar.
Não temos formas de mudar a personalidade de um chefe tóxico, mas podemos encontrar estratégias para lidar com a adversidade e com isso conseguir algumas melhorias ou ligeiras alterações de comportamento.
A personalidade mantém-se, mas o comportamento pode mudar. Por exemplo, com gestores e chefes que vivem em permanente stress: o segredo muitas vezes passa por não entrar em “braços de ferro” e não debater opiniões. No fundo, consiste em cingir-se aos factos e manter a neutralidade.
Se possível exponha por escrito as suas opiniões ou assuntos que precise de ver tratados. Esta é uma forma simples para garantir que não se geram equívocos desnecessários. Perante um chefe injusto ou mesmo disfuncional, é sempre preferível que mantenha uma postura polida, bem educada e afirmativa.
Importa ainda ressalvar que todos os chefes têm as suas susceptibilidades e fragilidades, pelo que nenhum gosta de se sentir ameaçado, pois torna-se ainda mais agressivo e inclinado a retaliar. Ou seja, em vez de ver um problema resolvido, passa a ter dois ou mais. Resguarde-se, mantenha alguma distância, foque-se nos objetivos e cumpra escrupulosamente aquilo que são as suas tarefas, sem que se deixe dominar pelo medo.
É de extrema importância que o trabalhador não tome como ofensas pessoais as investidas de pessoas tendencialmente agressivas pois o seu estilo implica sempre alguma falta de critério e objetividade.
Em todas as áreas da nossa vida existem emoções positivas ou negativas. As organizações não são excepção. O problema de tais emoções não advém portanto da sua existência, mas da forma como são ou não geridas.
Não tenha medo de mudar e sobretudo nunca se esqueça da importância de uma boa saúde mental.
Um artigo de Marta Martins, psicóloga nas Clínicas Leite.
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