A dermatite atópica (DA), é a doença inflamatória crónica da pele mais comum em todo o mundo, com uma prevalência estimada de 10-20% em crianças e 7-10% em adultos.

A etiologia desta dermatose ainda não se encontra totalmente esclarecida. É atualmente reconhecida como uma doença multifatorial complexa, com componente genética fortemente influenciada por diversos fatores de imunidade e ambientais. 

É uma dermatose que se caracteriza pela presença de manchas vermelhas, descamação e comichão intensa, com uma distribuição simétrica e característica que se acompanha, por vezes de escoriações, fissuras e exsudação. Salienta-se ainda que a esta patologia se associam frequentemente comorbilidades atópicas (asma, rinite alérgica, as alergias alimentares) e não atópicas (patologia psiquiátrica, infeções).

Apesar de não existir mortalidade associada a esta condição, existe uma elevada taxa de morbilidade com repercussão a vários níveis: económico, psicológico, social e familiar. Do ponto de vista da criança, esta dermatose pode impor consequências únicas, profundas, duradouras, irreversíveis, que nem sempre se correlacionam diretamente com a gravidade da doença e que serão tanto mais relevantes quanto mais tempo ela persistir. Destacam-se as alterações de humor, da qualidade de sono, o absentismo escolar, os déficits de aprendizagem e a interferência direta na maioria das atividades do quotidiano. 

Do ponto de vista parental, tratar de uma criança com dermatite atópica moderada a grave implica uma enorme disponibilidade de tempo (absentismo laboral), desgaste psicológico e investimento financeiro. Frequentemente os cuidadores experimentam sentimentos de frustração e impotência face à recorrência da dermatose, ansiedade e angústia face ao sofrimento da criança e incerteza quanto ao seu futuro. 

A DA é ainda uma dermatose sem cura conhecida, mas muitos progressos têm sidos feitos do ponto de vista do tratamento. Formas ligeiras de doença são facilmente controladas cumprindo as medidas gerais e recorrendo, quando necessário, à terapêutica tópica anti-inflamatória. São as formas graves de doença que representam o maior desafio terapêutico. Durante muitos anos, a terapêutica sistémica limitava-se aos imunossupressores convencionais com eficácia limitada, elevado risco de toxicidade e ausência de estudos que validassem e orientassem a utilização destes fármacos em crianças (todos usados off-lable).

Felizmente, a compreensão da fisiopatologia da doença levou a que nos últimos anos se verificasse uma revolução nesta área terapêutica. O reconhecimento da via Th2 como a principal via envolvida levou ao desenvolvimento de vários fármacos inovadores (biológicos – dupilumab e tralocinumab – e inibidores da via JAK-STAT – baricitinib, abrocitinib, upadacitinib) que permitem o tratamento mais precoce, mais seguro, mais eficaz e prolongado, de forma a reduzir o impacto que a DA tem na qualidade de vida dos doentes. No entanto, apenas um destes fármacos se encontra aprovado também em crianças (> 6 meses de idade) – o dupilumab. 

Atualmente são amplamente reconhecidas diferenças entre adultos e crianças com dermatite atópica a vários níveis. É certamente mais fácil conduzir estudos em adultos, contudo, crianças não são “pequenos adultos” e os resultados dos ensaios clínicos em adultos não devem ser extrapolados para esta faixa etária. Assim, é fundamental a existência de fármacos estudados e aprovados em idade pediátrica para uma escolha terapêutica mais assertiva e personalizada.

Um artigo da médica Maria João Cruz, dermatologista do Centro Hospitalar e Universitário de São João e assistente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.