Como se esconde por detrás de perfis falsos, por norma, o catfish (aquele que pratica catfishing) evita qualquer encontro pessoal e tem sempre desculpas para não ligar a webcam. Deste modo, não revela a sua verdadeira identidade. Encontra nos sites e aplicações de relacionamentos os meios virtuais de excelência para estabelecer contacto com as potenciais vítimas de catfishing e colocar em prática estratégias enganadoras.

Se até há poucos anos as pessoas privilegiavam os encontros pessoais e procuravam conhecer quem morava perto para viver o seu romance, nos dias de hoje, com a internet, estreitou-se a distância geográfica e alargou-se a possibilidade das pessoas se ligarem facilmente a outras de qualquer parte do mundo, surgindo novas formas de interação e novos modelos de relacionamento.

As relações amorosas que se inscreviam no projeto “até que a morte nos separe” ou “felizes para sempre” parecem ter caído em desuso.

É um facto que as redes sociais alteraram o modo como se iniciam as relações amorosas ou como são mantidas. O namoro virtual entre quem nunca se viu antes instalou-se como opção de relacionamento. A falta do contacto pessoal é, agora, preenchida com SMS´s, emojis ou por um sem número de conversas tidas sob a forma de frases escritas, no telemóvel, tablet ou computador.

As vítimas do catfish são, normalmente, pessoas emocionalmente fragilizadas, debilitadas e carentes de atenção e afeto. Algumas destas vítimas são excessivamente crédulas, outras desiludiram-se com relações anteriores e já perderam a esperança de encontrar, no dia-a-dia, alguém que lhes dê atenção, carinho e amor. Do mesmo modo, pessoas que sempre se sentiram privadas de afeto tendem a uma procura incessante de quem as compreenda, ofereça suporte emocional e acarinhe.

Um rosto encantador na foto do perfil, conversas agradáveis, sedutoras e reconfortantes e o sentimento de que há alguém que as ouve, entende e se mostra totalmente disponível para iniciar um relacionamento (ainda que virtual), pode representar tudo o que as vítimas, carentes, querem encontrar.

A significativa vulnerabilidade emocional que as caracteriza pode ser condição suficiente para que aceitem propostas quase que inaceitáveis. Não raras vezes, o catfish consegue manter relacionamentos relativamente longos, sustentados em falsos sentimentos, mentiras e incontáveis justificações. Noutro registo oposto, encontram-se vítimas do catfishing que se deparam com inícios e fins de relacionamentos virtuais abruptos, efémeros e constantes. Qualquer um dos casos traz sofrimento para estas pessoas, sendo que a fragilidade emocional pode acentuar-se tanto mais quantas forem as ruturas amorosas.

Contrariamente ao que seria desejável, a dependência emocional daqueles que seduzem, enganam ou mentem, tende a aumentar e a gerar círculos viciosos, nos quais se repetem comportamentos de procura incessante de amor recíproco e desilusões.

Tal como as vítimas de relacionamento abusivo, as vítimas tendem a culpabilizar-se pelas relações que se iniciaram ou terminaram, podendo sentir uma panóplia de sentimentos negativos que invadem a mente, geram angústias e teimam em ficar. A vergonha por se deixarem “cair” em falsas promessas de amor pode fazer com que se calem, não partilhando o seu sofrimento com ninguém, aumentando, ainda mais, o impacto da situação.

Por mais simples que estes casos possam parecer, o sofrimento, sentido com maior ou menor grau e intensidade, é transversal a todas as vítimas de catfishing.

Frequentemente, desenvolvem estados depressivos ou de muita ansiedade e têm dificuldades de envolvimento em relacionamentos saudáveis e duradouros.

As vítimas de catfishing beneficiam da consulta psicológica para encontrar estratégias emocionais pessoais que reforcem a sua autoestima, identifiquem e digam “NÃO” às pessoas e relações tóxicas.

Um artigo da psicóloga clínica Lina Raimundo, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.