
Todos nós, a certa altura, já experienciámos aquela dor aguda no peito, acompanhada do conhecido nó na garganta, quando alguém em quem confiamos vai embora, mesmo que por pouco tempo! É como se o nosso corpo soubesse, ainda antes de nós, a falta que aquela pessoa nos faz.
Se, até aos crescidos, estas manifestações são suficientes para tornar os maiores matulões em pessoas sensíveis e vulneráveis, imagine-se nos mais pequeninos! Especialmente quando, na impossibilidade de ficarem em casa, com os pais ou com os avós, chega a altura de entrar para o berçário. Que medo!
Será mais ou menos isto que se passa nas suas cabecinhas: “Então passei estes meses todos ao cuidado das pessoas que mais me amam, que me
dão todos os miminhos do mundo e para as quais, mediante um pequeno choro, sou tratado como realeza... Para agora ser entregue a um estranho
que não me garante a individualidade dos cuidados a que estou habituado, e que tem de repartir a atenção por outros tantos meninos e meninas
iguais a mim? Isso era o que mais faltava! A mim não me enganam! “.E nós compreendemos, pois também não queríamos que nos fizessem o
mesmo, não é?
Este medo e ansiedade que os nossos filhotes sentem nestas ocasiões, seja para a entrada no berçário, creche, escola, ou para ficar aos cuidados de uma nova ama, é o que nós, na psicologia, chamamos de ansiedade de separação. Uma manifestação natural, com pedigree evolutivo, que nos impulsiona para nos mantermos perto daqueles que nos garantem a segurança e sobrevivência. Apesar de ser um comportamento adaptativo, pode desenvolver-se em psicopatologia se essas mesmas manifestações começarem a interferir com o normal decorrer do dia-a-dia e, nesse caso, devemos procurar ajuda de um profissional.
Uma outra razão que leva os mais pequeninos a sentirem esta ansiedade de separação é o facto de, durante a maior parte do primeiro ano, ainda não terem a capacidade de permanência do objeto, ou seja, de compreenderem que, embora algo não esteja no seu campo visual, essa mesma coisa continua a existir. Isto significa que, quando os papás saem da sala, é como se tivessem desaparecido de vez!
Aqui ficam algumas dicas para ajudar a mitigar esta sensação:
- Em primeiro lugar é necessário estarmos atentos aos sinais: Perceber que não se trata de uma birra desnecessária, mas sim da comunicação de um medo. Se tivermos conscientes disso conseguimos responder de forma mais adequada à situação.
- Rotinas, rotinas, rotinas: Os bebés adoram rotinas. A previsibilidade que as rotinas dão à vida de um bebé ajudam a antecipar aquilo que vai acontecer (por exemplo: que está a chegar a hora de ir para a creche).
- Transmitirmos calma: Os bebés apoderam-se das emoções dos pais para perceberem como reagir a uma determinada situação. Muitas vezes a ansiedade de separação (dos pais) só prejudica quando chega o momento de os deixar com as educadoras. Se mostrar confiança nas pessoas com quem eles vão ficar, eles também sentir-se-ão mais seguros.
- Algo que os lembre de nós: Uma foto para colocar na mochila, uma “tatuagem” (desenho de um coração na mão, por exemplo) ou uma imagem em que possam pensar ajuda a que, nos momentos em que a saudade aperta, eles possam redirecionar a sua atenção para algo concreto e lhes lembra que, mesmo longe, estamos por perto.
- O seu brinquedo preferido: Muitas vezes os nossos pequenotes têm um brinquedo, um peluche, ou uma fraldinha de eleição que levam para todo o lado e fá-los sentirem-se mais seguros. Deixar que o levem para a escola pode ser uma boa estratégia para facilitar o processo nas primeiras vezes. Nas crianças mais crescidas, falar sobre o assunto é sempre uma boa opção. Ouvir os seus medos e dar voz às suas preocupações, garantindo sempre o apoio necessário, é a estratégia mais honesta que podemos utilizar.
Existem várias fases ao longo do desenvolvimento da criança que são mais propícias a manifestações deste tipo de ansiedade, por exemplo, por volta dos 8 meses quando a angústia do estranho se torna uma preocupação para eles. Contudo, quando estas questões são endereçadas de forma tranquila e coerente, não deixamos espaço para mal-entendidos que levem ao agravamento da situação e, nos casos mais difíceis, ao aparecimento de psicopatologia.
Um artigo de Clementina Almeida, psicóloga clínica.
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