Se repararmos bem, muitas vezes utilizamos a música como uma “muleta”, isto é, procuramos na música um agente facilitador da inspiração, da concentração, ou até da alegria e da tristeza. E, através da música permitimo-nos a sentir e a experienciar diversas emoções que, por vezes, de outras formas não somos capazes de o fazer.

E se temos dúvidas quanto à importância da música, basta pensarmos como quase todos nós, de uma maneira ou de outra, contactamos desde sempre com a música, sendo esta um potencial agente de vinculação do bebé com os seus pais. Quantos de nós não adormeceram ao som de músicas de embalar? Quantos de nós não se recorda das músicas da infância ou que nos acompanharam na adolescência? E muitas vezes, mais do que a letra, aquilo que é mais marcante é o ritmo e a melodia. Ritmos e melodias que nos fazem tranquilizar, viajar em pensamento e harmonizar o nosso interior, despertando aquilo que precisa de ser pensado e elaborado.

Nesta linha de pensamento, um exemplo paradigmático de como o poder da música pode ser avassalador é quando temos crianças com dificuldades específicas de desenvolvimento, como por exemplo, crianças com perturbações do espectro do autismo e grande parte da estimulação sensorial que é feita através da música, facilita o despertar da criança de dentro para fora e, gradualmente, a sua conexão com ela própria e com os outros de forma cada vez mais aprimorada e cada vez mais intensa.

Assim, é inequívoca a importância da música no nosso dia a dia e na relação que temos com o nosso pensamento, com o nosso corpo e com as nossas emoções. Por isso, para nos potenciarmos, podemos utilizar a música de forma mais direcionada e promotora do nosso equilíbrio.

Os adolescentes fazem este movimento com muita facilidade, quando usam a música para se expressarem, para reivindicarem os seus direitos, ou simplesmente, quando o turbilhão emocional é tão grande que colocam fones, ou música excessivamente alta, quase como uma forma de não ouvir todo o ruído interno que os assola - o que embora não seja eficiente a longo prazo, lhes permite no imediato manter o equilíbrio.

Para o conseguirmos fazer de forma eficiente, cada um de nós precisa de se conhecer cada vez mais e utilizar a música como uma forma de facilitar a expressão emocional essencial à nossa saúde mental, facilitar atenção e concentração essencial à aprendizagem e à performance, ou até utilizar a música como agente reparador de situações emocionais mais difíceis ou desafiantes. Assim, com a música e pela música, podemos gerar crescimento e transformações internas.

Um artigo das psicólogas Sara Almeida e Cátia Lopo da Escola do Sentir.