O lugar onde passamos mais tempo é, sem dúvida, a nossa mente. Se este for um espaço de crítica, pessimismo e pensamentos auto-derrotistas, o dia-a-dia torna-se mais difícil (e a vida também).
Desta forma, um dos elementos mais importantes para a saúde mental e bem-estar é, não raras vezes, a capacidade de ter um discurso interno positivo, associado à auto-compaixão.
Em primeiro, surge a questão: o que é a compaixão? O termo compaixão diz respeito à capacidade de o ser humano sentir compreensão pelo sofrimento que o outro carrega e, simultaneamente, sentir desejo de aliviar (ou tentar ajudar a atenuar) esse mesmo sofrimento – daí que este termo se distinga de outros, como a empatia (capacidade de identificar com o sofrimento do outro e demonstrar compreensão e sensibilidade perante o mesmo) – pois envolve o desejo de aliviar a dor, um papel ativo para a mudança.
A compaixão, enquanto conceito, envolve três elementos distintos, nomeadamente uma componente cognitiva, que é a capacidade de reconhecer e ter consciência da existência do sofrimento; uma componente afetiva, a capacidade de empatizar e ser sensível ao sofrimento do outro; e uma componente intencional, a disponibilidade e motivação para atenuar o sofrimento.
Neste sentido, por auto-compaixão entende-se a sensibilidade perante o nosso próprio sofrimento, a capacidade de nos tratarmos a nós próprios com bondade, cuidado e responsabilidade emocional, aliada à motivação para quebrarmos os ciclos que alimentam a nossa dor.
A auto-compaixão exige não só aceitação (das nossas emoções, experiências e história de vida), mas também compromisso.
Quando falamos em aceitação, estamos a referirmo-nos à aceitação das experiências negativas e dos erros como aprendizagens (não podemos mudar o que aconteceu, mas a forma como percecionamos as experiências e o consequente impacto e influência que continuam a ter nas nossas vidas).
A tentativa de incluir uma maior auto-compaixão no nosso discurso interno (o que dizemos para nós próprios) é um compromisso com o nosso bem-estar. Ao substituir pensamentos negativos como “só cometo erros” por pensamentos como “os meus erros, não me definem, sou mais do que isso” ou “é com os meus erros que evoluo”, a nossa mente torna-se num lugar de foco, motivação e coragem, em detrimento de um espaço destrutivo e de autossabotagem.
Isto significa também que aceitação não é sinónimo, de todo, de conformismo, pois para atingir a aceitação é imperativo o contacto com a dor – o qual vai aumentar a tolerância ao sofrimento e um maior controlo sobre as nossas emoções.
A auto-compaixão envolve também uma maior capacidade de perdoar – a nós próprios e aos outros. Para algumas pessoas e situações, perdoar pode ser um ato de coragem, mas, paralelamente, o passo que necessitavam nas suas vidas para encontrar a paz interior, uma sensação de alívio e libertação facilitadora do bem-estar.
Outro elemento associado a este conceito, a auto-compaixão, é a capacidade de reconhecer o sofrimento como uma experiência humana, inevitável, comum a todos os seres humanos e pertencente ao ciclo da vida. O objetivo não é, de todo, desvalorizar o sofrimento individual de cada pessoa, mas, ao reconhecer a dor como um fenómeno humano e universal, é destacado o papel ativo de cada um de nós para a mudança, pois uma posição de impotência perante o sofrimento apenas alimenta a sensação de frustração, desamparo e descontrolo sobre a própria vida.
Em terapia, são providenciadas ferramentas para ser mais confortável estar em contacto com o sofrimento, o que inclui emoções dolorosas, pensamentos negativos e imagens traumáticas. Por sua vez, é um espaço seguro, ausente de julgamentos ou críticas, facilitador da mudança do discurso interno e da forma como a pessoa perceciona os eventos de vida negativos (e compreende que é muito mais do que as suas escolhas ou experiências que, numa posição humana de impotência, foi obrigada a gerir e a sobreviver). Ao aprender a adotar uma postura de maior auto-compaixão, existe uma maior possibilidade de a pessoa desenvolver uma perspetiva (mais) positiva sobre a vida, uma maior segurança e satisfação nas relações interpessoais – todo um conjunto de mudanças positivas.
Liberte-se de tudo o que limita o seu bem-estar e “prende” ao ciclo de insatisfação e mal-estar em que (tantas ou algumas vezes) se sente. Recorra a ajuda psicológica, não está sozinho(a).
As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino, da Mind | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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