Tudo começou em Campo de Ourique, em 2018, quando ainda era a Padaria da Esquina. Depois veio Restelo, Belém e agora Alvalade, numa nova morada, uma vez que o chef já tinha tido uma experiência no bairro, mas no Mercado de Alvalade, espaço encerrado na Pandemia. De nome renovado e numa localização estratégica – o Centro Comercial de Alvalade, mesmo ao lado do supermercado - também podemos ver no chef Vítor Sobral um homem novo.
A base essa mantém-se, seja no cuidado da escolha de matérias-primas, com farinhas de mó de pedra, seja nos métodos de produção mais saudáveis e sustentáveis, as cada vez mais faladas fermentação natural e massa-mãe. E sabemos que o pão é uma espécie de religião na casa dos portugueses. Tirem-nos tudo, menos um pedaço de pão. E se este for de qualidade melhor.
“A grande diferença das nossas lojas é que os nossos produtos são feitos de forma artesanal, sem aditivos químicos”, afirmou Vítor Sobral no evento de apresentação da nova loja à imprensa, ressalvando que “infelizmente o consumidor tem muito pouca oferta desta na cidade de Lisboa”, lamentando que o uso de farinhas industrializadas e de leveduras químicas se tenha generalizado.
No segmento padaria, as grandes novidades são o pão de forma rústica e baguete rústica, dois tipos que o chef assume serem mais moles do que a restante oferta do Pão da Esquina, onde se destacam, o de trigo barbela, pão de mistura, tipo alentejano, de sementes e nozes, de espelta ou broa de milho.
No que diz respeito à pastelaria, por uma questão de se evitar desperdício, “optámos por ter uma diversidade maior de bolos de fatia, do que ter aqueles bolos que, com uma porção mágica de farinha e de um químico, estão sempre a sair e são muito grandes”, diz o chef numa alusão ao processo de industrialização que sabemos que existe nesta área, frisando por seu turno que os seus bolos “depois de dois ou três dias são melhores do que quando estão frescos”. De acordo com Vítor Sobral, os ex-libris desta secção são o bolo de arroz e o croissant do Porto.
Já nos salgados, “é o que é. Fazer-se de uma forma o mais tradicional possível”, resume. Há sandes do dia e sopa do dia à disposição. Sugestão da nossa parte: não deixe de provar a bola de enchidos.
Mas a grande novidade, pelo menos no Pão da Esquina, é o facto de ter um espaço dedicado às comidas pré-congeladas, um engenho que a necessidade aguçou devido à Pandemia.
“Nós tivemos de ser de alguma forma criativos”, explicou o chef evidenciando o grande caminho que foi feito em termos de oferta de embalagens que antes “eram muito ruins” e onde se nota “uma evolução incrível na forma como são feitas e são recicladas”.
“Tivemos de apurar, tecnicamente, a maneira de fazermos a comida para a enviar em take-away e para a congelar e as pessoas poderem ter uma refeição rápida, com alguma qualidade, sem ser uma refeição de uma cozinha industrial”, referiu ainda.
Arroz de pato com cogumelos e alecrim (17,50€, para duas pessoas), bacalhau lascado, batata-doce e tomate (21,50€, para duas pessoas), bochecha de porco alentejano com creme de beringela (14,50€, dose individual) e caril de lulas e camarão com arroz de cardamomo e caju (14,50€, dose individual), são alguns dos pratos disponíveis, que estão neste momento com preços de campanha de lançamento.
O chef promete aumentar a oferta em breve, com sugestões diferentes daquelas que tem disponíveis no projeto Chef à Mesa, que também já demos a conhecer. Todos os produtos estão também disponíveis para take-away ou delivery, pela Uber Eats.
Há ainda lugar para o desejo de desenvolver parcerias com outras pastelarias a nível nacional de forma a poderem oferecer produtos que não sejam de tão fácil acesso em Lisboa. Por exemplo, “à segunda-feira queijadas de Sintra, à terça o bolo de mel da Madeira, à quarta as queijadas de São Vicente. Coisas que no dia a dia, as pessoas tenham dificuldade em encontrar, criar-se uma dinâmica para que quem quer encontrar esse tipo de produtos, saber que tem um calendário nas nossas lojas”.
Quem acompanha o percurso de Vítor Sobral sabe que o chef não é conhecido por ser politicamente correto e diz o que tem a dizer, sem papas na língua. E foi isso que aconteceu. “Há um amigo meu brasileiro que diz que há muitas coisas caras ruins. Mas baratas e boas, não há assim tantas”, enfatiza, alertando para o facto de ser cada vez mais importante o consumidor final saber ler e interpretar os rótulos dos alimentos. Mesmo numa questão de preço: “pelo menos (comam) arroz e feijão, não é preciso inventar muito”, concluiu.
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