A afamada casta da Bairrada encontra no planalto de Mirandela condições para a produção de um varietal de qualidade e o impensável concretiza-se. O novo Palácio dos Távoras Baga, da Costa Boal, quebra paradigmas e abre novos caminhos para a vitivinicultura na região.
O enólogo Paulo Nunes, com larga experiência na utilização da casta Baga na Bairrada e no Dão, ficou convencido.
"Se me sugerissem um varietal Baga no Dão, diria que era difícil resultar, mas em Trás-os-Montes, ou, pelo menos, no pedaço do planalto mirandês onde está plantada a vinha da Costa Boal, tive surpresas muito positivas", disse oenólogo da Costa Boal.
Vencido o primeiro momento de ceticismo, Paulo Nunes não tem dúvidas: "Vai ser uma pedrada no charco, porque ninguém imagina um vinho Baga em Trás- os-Montes. O novo Palácio dos Távoras Baga é pioneiro, vai abrir caminhos e horizontes e vai desconstruir o modus operandi de muitos produtores da região, tal como aconteceu com o Bastardo e o Alicante Bouschet da Costa Boal".
A comparação com os varietais da casta no seu terroir de excelência, a Bairrada, é inevitável. Em Trás-os-Montes existe um clima continental, com dias bastante quentes, comparando com a Bairrada, com clima atlântico e mais temperado.
Isto leva-nos a um ciclo de maturação mais curto em Trás-os-Montes, a uvas com um pouco mais de grau (em torno dos 12 graus na Bairrada e 13/14 graus em Trás-os-Montes) e a vinhos mais estruturados.
"Sentimos os taninos mais poderosos na Baga em Trás-os-Montes, mais estrutura de boca. Na Bairrada, os taninos são geralmente mais reativos, mais finos e precisam de mais tempo para conseguirmos vinhos mais suaves", especifica Paulo Nunes, lembrando que a estrutura tanina desta casta é muito variável.
"São vinhos Baga diferentes e com abordagens diferentes", conclui Paulo Nunes, lembrando que a "produção do vinho Baga transmontano passa por um processo de aprendizagem que teve o prazer de iniciar".
Transversal à casta, imagem de marca, está a acidez e a frescura, presente também no vinho Baga da Costa Boal, bem como o volume muito equilibrado, a elegância e a mineralidade.
Feliz acidente
A história do novo Palácio dos Távora Baga começou com um feliz acidente. Em 2012, António Boal plantava uma nova vinha, em Mirandela, Trás-os Montes, de Touriga Nacional. Devido a um percalço no cálculo das plantas necessárias, o produtor viu-se sem alternativa quando o viveirista lhe respondeu que apenas tinha disponível bacelos da casta Baga para que pudesse acabar o trabalho.
Ao feliz acidente humano aliou-se a feliz coincidência natural de existir na vinha solo de argila, a par do xisto, particularidade de terroir à qual é especialmente sensível a casta Baga – a presença da argila é determinante para a qualidade dos vinhos desta casta.
Anos mais tarde, foi ainda o feliz casamento do enólogo experiente na casta com a vinha que fez a diferença e tornou possível o novo vinho. "Baga aqui?!", espantou-se o enólogo Paulo Nunes quando começou a trabalhar com a Costa Boal, "não conheço nenhuma outra plantação da casta em Trás-os- Montes".
Sempre na linha de uma "intervenção minimalista na adega", Paulo Nunes utiliza a experiência para decidir "usar ou não usar" o que a vinha dá. No caso do novo Palácio dos Távoras Baga decidiu fazer o desengaço, ao contrário do que é frequente fazer-se na Bairrada, por ser 'too much' manter o engaço na fermentação neste Baga transmontano.
Um nome, duas regiões vitivinícolas
A Costa Boal Family Estates é uma empresa produtora de vinhos do Douro e Trás-os-Montes, liderada por António Boal, herdeiro de uma família de pequenos produtores estabelecidos no Douro desde 1857.
Criada em 2009, a Costa Boal lançou os primeiros vinhos em 2011, em Trás-os- Montes, Mirandela, localidade onde o produtor estudou e casou, ali investindo em vinhas e numa adega e armazém de vinhos. A par, António Boal reforçou laços com o Douro e a sua terra Natal, a aldeia de Cabêda, Alijo, revitalizando e comprando vinhas e investindo na recuperação da adega da família, localizada naquela localidade.
A Costa Boal aposta na valorização do património vitivinícola que possui – cinco quintas, num total de 50 hectares de vinhas com idades entre os sete e os 100 anos – e na criação de um projeto de vinhos consistente e de qualidade superior.
Entre o portefólio da Costa Boal estão as referências Flor do Côa e Costa Boal, no Douro. Da região de Trás-os-Montes, o produtor apresenta os rótulos Palácio dos Távoras, Quinta dos Távoras e Flor do Tua.
Notas de prova
Palácio dos Távoras Baga, Parcela CB, tinto 2016
O Palácio dos Távoras Baga, Parcela CB, de Carolina Boal, a herdeira, que, ainda criança, ajudou a plantar a vinha em 2012, é o terceiro monocasta da Costa Boal (acresce Alicante Bouschet e Bastardo). Produzido em Trás-os- Montes, partir de uvas colhidas na vinha da Costa Boal em Mirandela, Palácio dos Távoras Baga é um vinho com excelente estrutura, muito equilibrado, com taninos elegantes, boa acidez e grande frescura. Foram produzidas 1200 garrafas numeradas.
PVP 20 euros
Palácio dos Távoras Alicante Bouschet 2017
O solo, o lugar e o clima deste varietal da Costa Boal é o mesmo de onde são colhidas as uvas do Palácio dos Távoras Baga. A diferença está na idade das vinhas e na casta. Ao contrário dos dois vinhos reserva, branco e tinto, Palácio dos Távoras, neste vinho é a casta que dá o carácter. Estruturado e poderoso, este Alicante Bouschet é feito a partir de uvas colhidas em vinha velha de Mirandela, o que mostra que há mais lugares (e história) para os vinhos desta casta do que o Alentejo, região considerada de excelência para a produção da casta.
PVP: 30 euros
Palácio dos Távoras Vinhas Velhas branco 2018
Produzido a partir de vinhas velhas do planalto de Mirandela, Trás-os-Montes, com cerca de 60 anos e com mais de uma vintena de castas diferentes. Este branco fermentou em barricas usadas, sem adição de leveduras selecionadas. Vinho com complexidade e subtileza, que se mostra aos poucos e que dará ainda uma boa prova dentro de meia dúzia de anos.
PVP: 18 euros
Palácio dos Távoras Vinhas Velhas tinto 2016
À semelhança do branco Palácio dos Távoras Vinhas Velhas, este é um vinho de parcela, do lugar, e não da casta. Feito a partir de uvas colhidas na vinha velha de cerca de 60 anos, localizada no planalto de Mirandela, a 350 metros de altitude, este tinto transmontano teve desengaço total e acabou de fermentar em barrica nova de carvalho francês, onde permaneceu por mais de um ano.
PVP: 18 euros
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