Numa primeira leitura, os nomes de Sonny Burke e Peggy Lee não percorrem um caminho evidente rumo às nossas memórias. Contudo, a poucos escapará da sua lista pessoal de imagens marcantes da Sétima Arte, os três românticos minutos de um filme de 1955. Os norte-americanos Soony e Peggy foram, respetivamente, responsáveis pela música e letra de “Bella Notte”, da banda sonora do filme “A Dama e o Vagabundo”. A película nasceu do génio dos estúdios Disney, baseado num conto publicado na revista “Cosmopolitan”. Como cenário, um jantar à luz das velas, numa viela de ambiente italiano. A unir os dois protagonistas caninos, a cadelinha cocker spaniel, de olhar doce, e um shnauzer, de bigodes farfalhudos, um singelo e delicioso prato de massa com almôndegas. Mote para um breve beijo roubado. Simples e marcante.

Como também marcante seriam, cinco décadas depois, outros emotivos minutos, quando o cinema se voltou a render a um simples prato de massa ou, se preferir, pasta.

Como preparar em 20 minutos um Fettucinni com camarão?

Pique uma cebola e aloure-a numa colher de sopa de margarina. Junte 300 g de camarões crus, descascados, e deixe cozer 3 minutos. À parte, misture 3 dl de natas e 2 queijos frescos. Leve a lume brando 2 minutos, mexendo. Retire do lume e junte os camarões e a cebola. Coza 300 g de massa em água abundante temperada com sal. Escorra, misture com o preparado anterior. Deite tudo numa travessa aquecida. Polvilhe com bastante queijo.

No final do artigo encontra o acesso a mais receitas como esta.

À mesa, num pátio transalpino, a atriz Julia Roberts viajou ao som de uma poderosa ária tendo como boleia um licencioso prato de spaghetti. A mestria na confeção da receita, fez do momento um luxo. O filme, “Comer, Orar, Amar” foi êxito de bilheteira mundial.

Dois momentos que se aconchegam no nosso imaginário coletivo. A cozinha, qual microcosmos que reproduz o melhor do mundo, tem o seu segredo na simplicidade. E, o que pode ser mais simples do que juntar dois ingredientes, a sêmola de trigo e a água? Com este duo, está composta a receita base para a massa. Quando à singeleza lhe juntamos a criatividade humana, o que obtemos é uma galáxia de massas, com formas distintas, diferentes fins e resultados culinários.

Na simplicidade de um prato de massa, a magia de podermos reinventar a cozinha
Na simplicidade de um prato de massa, a magia de podermos reinventar a cozinha

Confessemos, a própria menção aos tipos de massa é um inventário de alusões a algo tão diverso como o mundo natural que nos rodeia (pérolas, ondas, ninhos, estrelinhas, conchas, lírios, margaridas), à nossa própria anatomia (cotovelos e cotovelinhos), ao que aprendemos nos bancos da escola (letras, espirais), inclusivamente aos meios de transporte (radiadores, hélices).

Só na Península Ibérica há mais de 150 tipos de massa. Juntemos-lhe as massas e pratos que encontramos, por exemplo, na China (como saboroso é um prato de noodles), Japão, Coreia, Alemanha, França, Estados Unidos, Portugal, entre dezenas de outros países, e compreendemos porque o mundo celebra, a 25 de outubro, o Dia Internacional da Massa.

Criatividade

Tais predicados só podem significar uma coisa: a massa não é uma moda, é uma presença assídua nas nossas vidas. É económica, fácil de transportar e conserva-se por longos períodos. Entra cedo na nossa alimentação, constrói as nossas memórias coletivas - quem nunca reuniu amigos e família em torno de um prato de massa? - caminha a par de todos os pratos à mesa, dos mais simples aos elaborados e não se esgueira a coabitar com quase todos os ingredientes que possamos aqui chamar. Façamos o teste: Marisco? Amêijoas à Bulhão Pato com esparguete; Peixe? Sopa de peixe com cotovelinhos; Carne? Talharim com frango; Charcutaria? Lacinhos com vegetais salteados com cubos de fiambre; Fruta? Tarte de couscous e laranja. Prova superada, apetece afirmar.

A massa vive nas saladas (e, com elas, à boleia dos meses mais quentes), nos pratos de forno (o reconforto da mesa de inverno), nas sopas (tão boas em todas as estações, inclusivamente nas sobremesas (uma aletria e o Natal são casamento duradouro).

Na simplicidade de um prato de massa, a magia de podermos reinventar a cozinha
Na simplicidade de um prato de massa, a magia de podermos reinventar a cozinha

Tão pouco é “senhora” para se acomodar a todos os méritos que trazem os seus milhares de anos de história. Porquê? Porque se reinventa, mesmo neste nosso mundo rápido e digital. E, boa notícia, fá-lo dentro das nossas cozinhas e connosco.

Para mais, é uma amiga que nunca nos assusta. Confessemos, até as mãos mais amadoras na cozinha se lançam num prato de massa. Sequer nos é pedida uma despensa e frigorífico muito nutridos de ingredientes ou a pressão de termos o coelho da “Alice no País das Maravilhas” a controlar-nos o tempo.

Um exemplo? bastam 20 minutos do nosso tempo, uma visita rápida ao frigorífico e despensa para lhes encontrarmos tomates cherry, azeitonas, rúcula, cebolinho, salsa, alho, pinhões e massa ninhos, e temos um fragrante prato de inspiração mediterrânica.

Fácil, e solução para subtrair ao caderninho das receitas SOS o tão gasto esparguete com atum.

massa
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Um caminho para a criatividade com pratos de massa que conta com um trunfo digital; o lugar onde, com um clique, encontra o atalho para centenas de receitas equilibradas, versáteis e imaginativas, como a que apresentamos na caixa que acompanha este artigo. Uma porta de acesso através do Facebook Messenger que terminar com as indecisões sobre o que cozinhar e desperta a criatividade que há em todos nós.

Para encerrarmos a “Bella Notte” do filme “A Dama e o Vagabundo” falta-nos uma das peças-chave do tema. Sonny Burke e Peggy Lee não estiveram sozinhos. Contaram com a interpretação de George Givot, comediante e ator, que deu voz ao italiano Tony, proprietário do restaurante que serviu de palco ao encontro apaixonado. Para além de se perder por uma boa piada, consta que Givot também não dispensava um bom prato de massa com almôndegas. Tudo tem o seu porquê e o limite é a imaginação.