Por estes dias, uma pesquisa na internet com o termo Marzano, devolve-nos uns quantos resultados apontando Lisboa, mais precisamente um espaço sito no Largo Rafael Bordalo Pinheiro, no Chiado. Afinando a pesquisa, juntando a Marzano uma localização geográfica – Itália -, somos encaminhados para território transalpino, mais concretamente para uma pequena comuna no noroeste italiano, próximo a Milão, na região da Lombardia.
Marzano conta com poucos milhares de almas e, aparentemente, pouco terá de relação com o sempre buliçoso coração lisboeta. Eis que, há uns meses, a mesma dupla de sócios que anteriormente já nos havia dado a pizzaria Valdo Gatti, também na capital, honra um tio-avô. Osvaldo Gatti, italiano, geria há perto de sete décadas um café em Marzano. Agora, neste século XXI, a memória do tio Gatti migra para um espaço lisboeta, o Caffè di Marzano.
À boa maneira latina, o estabelecimento não desarma da mesa ao longo de todo o dia. Do pequeno-almoço faz-se almoço e, deste, um espaço para petiscar tarde fora. Finalmente, com o aproximar da noite, a transformação do restaurante num bar que faz gala de nos mostrar uma coleção bem nutrida de vermutes italianos, assim como outros destilados.
Vamos por partes, porque antes de nos determos face à comida que vem à mesa, há que alimentar os olhos. Caso para dizer que salta à vista, transposta a porta de acesso a este Caffè di Marzano, o abonado pé direito, de vários metros. Amplitude de espaço que permite a instalação de um mezanino. Juntemos ao quadro as paredes em azul egípcio – embora sem consenso por parte da equipa sobre a cor exata -, os apontamentos em dourado (“ouro sobre azul”), um soalho em madeira com carácter, tampos de mesa em mármore, sofás em veludo azul e uma presença arbórea considerável a ornar as janelas.
Não obstante o aparato, o espaço é intimista, embora mudando de feição com o decorrer do dia. O pequeno-almoço de horário alargado (das 8h00 às 12h00) acomoda-se, por exemplo, às panquecas com xarope de ácer (5 euros), aos ovos escalfados, Benedict, mexidos e no forno (entre 4 e 7 euros), aos paninis prensados no forno e com recheios diversos, como a mozarela, tomate e manjericão (4 eutros), às bruchettas (4,5 euros), aos sumos naturais ea os cafés de diferentes carácteres.
Já o almoço pede aquilo que Itália faz bem, as pastas, de diferente feição como a orechiette, a penne sem glúten, fusilli, fettuccine, spaghetti, ou as pizzas, neste caso as irmãs mais pequenas das congéneres apresentadas à mesa da Valdo Gatti, como a Bufalotta, com mozzarella, presunto curado, tomate-cherry e manjericão. Aliás, a massa faz uma viagem diária desde a cozinha da pizzaria instalada no Bairro Alto, para a copa deste Caffè di Marzano. Ainda como novidade, já este 2020, os risotos
Mais tarde, a partir das 16h00 o estabelecimento prepara-se para a noite. As enormes portadas que se divisam para lá do balcão – atrás do qual se dispõe diariamente fruta fresca -, abrem-se para revelar um altíssimo bar. Um ritual diário que nos faz remontar às memórias de outras histórias, quando os Estados Unidos viviam a sua Lei Seca, nos anos de 1920/30 e os bares fervilhavam na clandestinidade.
Aqui, na Lisboa deste século, brilham os vermutes, a par de outros destilados, para degustar puros ou em cocktails. Não falta os clássicos Aperol Spritz (6 euros), Negroni (6 euros) ou Manhattan (6 euros), como também se faz aposta nos vinhos portugueses e italianos sustentáveis. À mesa, sem desmerecer em algumas das propostas que transitam do almoço como as pizzas, faz-se o convite ao petisco com tábuas (9 a 10,5 euros) com seleções de queijos, charcutaria e vegetais, acompanhadas por pão de alho.
Num mundo que descobriu que a sustentabilidade parece ser a chave para o sucesso, ou pelo menos para a sobrevivência da humanidade, o Caffè di Marzano assume-se como um espaço amigo do ambiente e próximo de fornecedores portugueses, exceção feita para os ingredientes que pela natureza do prato pedem origem italiana.
Comentários