Durante a Semana da Moda de Milão, um mural provocador do artista contemporâneo aleXsandro Palombo está a gerar debate na indústria da moda. A obra, exposta nas ruas da cidade, retrata Anna Wintour, a icónica editora da Vogue americana, nua enquanto cola uma capa da revista com a bandeira dos Estados Unidos, rasgada no centro, revelando o dedo do meio de Melania Trump. A mensagem parece clara: uma crítica à decisão da Vogue de excluir a atual Primeira-Dama americana das suas capas.

Anna Wintour, Vogue e a exclusão de Melania Trump

Tudo porque Melania Trump nunca foi capa da Vogue enquanto Primeira-Dama, ao contrário de Michelle Obama, Hillary Clinton e Jill Biden. Em 2019, Wintour afirmou, em entrevista à CNN, que a revista escolhe destacar mulheres que acredita representarem liderança e progresso. A declaração, interpretada como um afastamento deliberado de Melania Trump, continua a ser um tema controverso, que ganha novo fôlego com o seu regresso à Casa Branca.

Mais recentemente, um artigo da Vogue descreveu Melania como "mais parecida com uma freelancer mágica do que com uma funcionária pública". O comentário incendiou ainda mais a discussão sobre a postura editorial da revista e inspirou a obra de Palombo, que utiliza a arte urbana para denunciar questões de género, poder e hipocrisia dentro da indústria da moda.

A resposta artística de aleXsandro Palombo

Palombo, conhecido pelo seu estilo irreverente e provocador, já abordou temas polémicos em várias obras e em diversos momentos. O mural em Milão não é apenas um protesto contra a Vogue, no momento em que acontece uma das principais semanas da moda mundiais, mas também uma reflexão sobre como as mulheres são tratadas e representadas pelos meios de comunicação. "Num mundo ainda marcado pelo sexismo, as palavras podem tornar-se ferramentas de opressão, especialmente quando são usadas para insultar e diminuir mulheres," afirmou o artista em comunicado.

Ele relembra ainda um episódio de 2011, quando Anna Wintour publicou um perfil elogioso sobre Asma al-Assad, esposa do ditador sírio Bashar al-Assad, descrevendo-a como "jovem, chique e magnética". Para Palombo, essa contradição levanta questões sobre os padrões seletivos da indústria.

Arte, moda e política. Onde está a fronteira?

Esta não é a primeira vez que Palombo usa a moda como tema de provocação artística. Em 2013, a sua série Marge Simpson Style Icon ganhou notoriedade internacionalmente ao ser publicada na Vogue UK, e, em 2022, Cardi B recriou fielmente a sua ilustração Marge Simpson in Mugler, reforçando o impacto do artista na cultura pop.

A sua série Just Because I Am a Woman, que retrata líderes políticas como Angela Merkel e Hillary Clinton como vítimas de violência de género, faz parte da coleção do Museu de Artes Decorativas do Louvre. Mais recentemente, o Museu do Holocausto de Roma adquiriu as suas obras sobre Liliana Segre e Sami Modiano, sobreviventes do Holocausto.

A Vogue contra as mulheres?

A questão que o mural de Palombo levanta vai além de Melania Trump e Anna Wintour: trata-se do papel dos meios de comunicação na representação feminina. Quando uma revista que se posiciona como defensora das mulheres recorre a aparentes exclusões seletivas, está a contribuir para uma cultura de misoginia em vez de a combater?

A verdade é que enquanto Anna Wintour assiste aos desfiles na primeira fila da Semana da Moda de Milão, Melania Trump está, pelo menos nas paredes da cidade, na capa da Vogue. A arte, mais uma vez, desafia a indústria da moda a olhar para dentro e refletir sobre os valores que realmente defende.