Eliminar gordura localizada sem necessidade
de recorrer a cirurgia nem anestesia é o sonho de muitas mulheres que não se reveem no seu corpo.

É também a promessa
de uma técnica estética recente designada como
intralipoterapia, indicada para áreas específicas do
corpo como braços, papada, abdómen, face interna
das coxas, glúteos e ancas.

A chave está na injeção
de uma solução cuja composição química permite
destruir a gordura localizada, emulsionando-a. Para
sabermos mais sobre o seu funcionamento, falámos
com a dermatologista Alexandra Osório, a primeira
especialista a realizar este tratamento em Portugal.

Como funciona

Com o nome comercial de Aqualyx, o produto injetável é uma
«solução aquosa que tem umas nanoesponjas com um soluto biológico», explica Alexandra Osório. Quando introduzida no tecido adiposo,
«com o passar dos dias, vai libertando progressivamente esse
detergente biológico, que destrói a membrana dos adipócitos (células
de gordura), libertando a gordura. Depois, essa gordura é emulsionada
com o tal produto biológico e entra na circulação linfática».

A partir do sistema linfático, «a gordura passa para a metabolização
hepática (do fígado), é degradada e vai para o sistema biliar, sendo
a gordura em excesso eliminada pelas fezes e uma pequena parte
reabsorvida», diz a especialista. A gordura é retirada aos poucos,
pelo que são necessárias várias sessões, e a quantidade de solução
injetada depende da quantidade de gordura a eliminar.

Quem pode fazer

O tratamento dirige-se a homens e mulheres, estando contraindicado
«em caso de doenças agudas ou crónicas da pele no local da
injeção, em doentes com historial clínico de reações alérgicas e em
pacientes com doenças autoimunes, como diabetes, lúpus ou artrite
reumatoide, bem como em grávidas e lactentes», refere Alexandra
Osório.

Outro critério essencial a ter em conta é a espessura da camada
de gordura em que é feita a injeção, que deve ser superior a
dois centímetros. «Não é seguro injetar o produto numa zona com
dois centímteros de gordura porque vamos provocar um túnel de
destruição de gordura, o que pode afetar a pele subjacente e causar
necrose (morte dos tecidos) ou até afetar o próprio músculo», explica
a especialista.


Veja na página seguinte: O que se sente durante o tratamento

O que se sente

Sendo este um tratamento ambulatório, sem recurso a anestesia, «é
normal que o paciente sinta uma reação de ardor aquando da infiltração
e, nos dias seguintes ao tratamento, a zona pode ficar avermelhada
e surgir um hematoma», indica a dermatologista, segundo
a qual «por norma, o paciente sai com prescrição de anti-inflamatório,
para fazer, caso surjam dores ou edema (inchaço)».

Além disso, após a aplicação, é essencial beber muita água e, durante
quatro dias, tem que ser usada uma cinta de contenção.


«A gordura desaparece daquela zona do corpo, ficando um espaço
aberto. A cinta evita que surjam seromas (bolsas
de plasma e linfa) ou líquidos, ajudando
a drenar, facilitando a modelação e a
cicatrização sem inchaço», acrescenta Alexandra Osório.

Passo a passo

As cinco fases em que se processa o tratamento:

1. Em primeiro lugar, faz-se o diagnóstico
do estado de saúde, definem-se os objetivos
do paciente e são identificadas e avaliadas as
áreas a tratar.

2. Depois, delimita-se a zona a tratar para,
de seguida, proceder à injeção subcutânea
da solução, diretamente no tecido adiposo,
através de uma agulha fina.

3. No final do procedimento, a paciente
pode retomar a vida normal com uso de
cinta de contenção durante os primeiros
quatro dias, para evitar o edema, aliviar
a dor e modelar o corpo.

4. A partir do sexto dia após o tratamento,
pode ser aplicada massagem drenante,
para melhorar os resultados do tratamento.

5. Vinte e um dias após a primeira sessão,
pode ser realizada a segunda. No total,
podem ser realizadas quatro a seis sessões,
sempre com 21 dias de intervalo.

Resultados

Variáveis de pessoa para pessoa, os resultados são «visíveis cerca
de quatro dias depois da primeira sessão» e comprovam-se
através de «medições antes e a seguir a cada uma das sessões»,
diz Alexandra Osório, que afasta a possibilidade de este método
de avaliação ser influenciado por medidas adotadas ao nível do
estilo de vida.

«Já consegui uma redução de quatro centímetros
em cada anca. Não se consegue uma redução dessas com dieta
ou exercício em zonas de gordura localizada, porque é difícil ser
eliminada», justifica. A médica reconhece, no entanto, a importância
deste tipo de cuidados para prolongar os efeitos. «Caso
o paciente não adote um estilo de vida saudável, pode voltar a
ganhar volume e gordura localizada», explica a especialista.


Veja na página seguinte: As técnicas complementares

Técnicas complementares

O facto de poder ser «conjugada com outras técnicas que potenciam
a modelação corporal» é, segundo Alexandra Osório, uma
das mais-valias da intralipoterapia, que assim poderá ser mais
eficaz.

É o caso da drenagem linfática, que «pode ser feita entre o
final do quinto ou sexto dia após a primeira sessão e a véspera da
sessão seguinte», sublinha. Em contrapartida, técnicas como a cavitação
e a radiofrequência «não têm indicação em doentes que realizaram
este tratamento», afirma ainda.

Certificação e preços

A intralipoterapia com esta substância
é um protocolo exclusivo a médicos e
clínicas credenciados e Alexandra
Osório apresenta-se como a primeira
profissional com esta certificação em
Portugal. Segundo a dermatologista, o
procedimento é originário de Itália,
sendo usado em países como Polónia,
Espanha, Turquia, Rússia e Grécia, e
conta com a certificação CE, que indica
conformidade com as diretrizes de
segurança da União Europeia.

Em Portugal, o Infarmed confirma que
este dispositivo médico está registado,
mas o mesmo não acontece nos
Estados Unidos, onde a Federal and
Drug Administration (FDA) alerta que
«os produtos usados para realizar
procedimentos de lipodissolução não
estão aprovados para a remoção de
gordura». Este tratamento tem um custo médio de 250 € por sessão e exige, em média, entre quatro a seis sessões de cerca de 30 minutos.

Texto: Rita Miguel com Alexandra Osório (dermatologista)