Uma traição pode ter consequências dolorosas e irreversíveis para uma relação, sendo a mais frequente a separação. Não raras vezes, seguir em frente é a única opção válida e com significado para a pessoa traída, para a qual o seu bem-estar deve ser prioritário e, em momento algum, deve sentir-se culpada por fazer essa escolha.

Ainda assim, algumas pessoas decidem continuar na relação, descrevendo a infidelidade como um crescimento considerado positivo, mesmo que gerado por uma experiência negativa e, eventualmente, traumática. Na realidade, ambas as opções, manter a relação ou seguir em frente, são possíveis.

A literatura aponta para a influência de fatores facilitadores da tomada de decisão de manter a relação, como a existência de uma rede de suporte social, motivação para trabalhar as fragilidades que facilitaram a traição e atribuir novos significados à experiência de ser traído.

É importante sublinhar que ainda que estes fatores estejam presentes, em parte ou na sua totalidade, os processos de superação da infidelidade são desafiantes e emocionalmente exigentes.

Everett Worthington, psicólogo clínico norte-americano especializado em terapia de casal, indica que é necessário tempo e espaço para refletir sobre a traição, os fatores que a motivaram, o impacto na relação e as mudanças que um eventual perdão provocaria no próprio, na relação e na pessoa que traiu.

Expressar as emoções de forma a promover o diálogo (é importante que a pessoa que traiu reflita e comunique como se sentiu, o que a motivou a trair, o que gostava que tivesse sido diferente, que significado atribuí à traição) em detrimento de alimentar discussões e os pensamentos ruminativos (por exemplo, discutir quem é o “verdadeiro culpado”).

As pessoas com uma baixa autoestima tendem a vivenciar, com maior facilidade, sentimentos de culpa, desesperança, tristeza, frustração, zanga e auto-desvalorização. Por oposição, as pessoas com uma elevada autoestima possuem um reportório mais diversificado de estratégias para gerir a dor, dada a maior auto-confiança para lidar com experiências negativas e refletir de forma mais clara e objetiva sobre as situações, pois existe uma menor tendência para ruminar.

O papel do psicólogo nestas circunstâncias, entre outros objetivos e tarefas terapêuticas, integra:

  1. Facilitar o perdão, quando a pessoa sentir que faz sentido e pretender perdoar;
  2. Promover a autoestima;
  3. Atribuir novos significados à experiência (ainda que negativa, pode originar aprendizagens que são positivas);
  4. Desconstruir inseguranças associadas com a capacidade de confiar (por exemplo, refletir que medos correspondem à realidade e são legítimos e que medos são baseados nos traumas do passado e que podem sabotar o presente);
  5. Atenuar a tendência a adotar uma atitude de autorresponsabilização pela traição (o que, mais uma vez, facilita a promoção de uma auto-percepção mais positiva e associada a sentimentos de aceitação e bem-estar);
  6. Reduzir a frequência e consequente impacto de pensamentos negativos e ruminativos, facilitada pelos novos significados atribuídos à experiência.

Em terapia, irá encontrar um lugar seguro, totalmente ausente de julgamentos. A prioridade da intervenção psicológica é, sempre, o bem-estar da pessoa, a qual possui um papel ativo para a mudança e tomada de decisão na sua vida. Este processo será, sem dúvida, um caminho de desenvolvimento pessoal, em que os objetivos terapêuticos serão adaptados à suas necessidades emocionais, as quais podem mudar durante esta viagem de investimento em si próprio/a.  Procure ajuda.

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino da MIND – Psicologia Clínica e Forense.