Separados pelo sono. Esta acaba por ser a (nova) realidade de muitos casais nos dias que correm. Se um casal não partilha tudo, incluindo o sono, é caso para fazer levantar algumas sobrancelhas, incluindo as dos próprios. Passar a dormir noutra cama ou, havendo essa possibilidade, num quarto diferente, nunca é uma decisão tomada de ânimo leve. Podem demorar anos até o fazerem. Mas o que é que causa esta necessidade de distância do outro?
"São muitas as razões que podem fazer um casal sentir-se menos íntimo", justifica a psicóloga clínica e sexóloga Maria Joana Almeida. Na verdade, basta uma discussão mais acesa para os elementos do casal "se zangarem ao ponto de não quererem partilhar o sono", como muitos dos seus pacientes lhe contam durante as consultas. Também pode ser uma fase menos boa da relação ou simplesmente coincidir com uma altura de maior ansiedade e stresse.
Um período em que um ou ambos estão a ser pressionados no trabalho para se dedicarem e produzirem mais também o pode gerar. No entanto, dormir em camas ou quartos separados não significa, necessariamente, que haja algum problema no relacionamento. "Há casais que vivem em casas e países diferentes e mesmo assim têm uma relação. Desde que haja compatibilidade e compreensão, não o vejo como um sinal de dificuldades", afirma.
Maria Joana Almeida também diz que esta solução costuma ser adotada por casais onde um ou os dois sofrem de "doenças crónicas, que obrigam a levantar muitas vezes de noite ou que dormem de maneiras diferentes". Além de cerca de 60% dos portugueses sofrer de distúrbios do sono, como afirmam os especialistas, há indivíduos que ressonam, que têm insónias e/ou que se levantam muitas vezes de noite para ir à casa de banho e até comer ou beber água.
Cada um para seu lado?
O sono é fundamental para a manutenção da nossa saúde mental e física, uma vez que ajuda na regulação emocional, no desempenho cognitivo, na gestão do peso corporal e até no reforço do sistema imunitário, como certamente saberá. Contudo, existem uma série de fatores que podem interferir com o sono profundo e o descanso reparador de que tanto precisamos, ameaçando o nosso bem-estar fisiológico e psicológico e até a vida do casal.
"O stresse do dia a dia, a quantidade de coisas que temos para fazer não nos permite dormir as horas necessárias, os problemas que não conseguimos pôr de parte quando vamos para a cama, as doenças crónicas e outras complicações de saúde ou ainda a poluição sonora", enumera a psicóloga clínica e sexóloga Maria Joana Almeida.
Se conseguirmos recuperar da agitação do quotidiano, dormindo bem e o suficiente, isso reflete-se nas nossas relações amorosas, familiares, sociais e laborais. "Temos mais energia e estamos mais disponíveis para as outras pessoas", confirma mesmo a especialista portuguesa.
Se isso só se consegue dormindo em camas e/ou quartos distintos, assim seja, como também defendem muitos outros especialistas, nacionais e internacionais, nas suas intervenções públicas sobre o tema. "A intimidade faz-se com proximidade afetiva, para a qual é necessário estar acordados", frisa a psicóloga clínica e sexóloga portuguesa. Igualmente, não é por estarem separados durante o sono que a sua vida sexual irá sofrer, acredita mesmo a médica.
Alimentar a relação está, assim, nas mãos de cada um. Maria Joana Almeida assegura que "a comunicação entre o casal é sempre mais importante". Será este aspeto e a capacidade de adaptação dos dois que ditará o sucesso do relacionamento, como também afirmam outros conselheiros e terapeutas relacionais. "As pessoas devem escolher o seu caminho e ser criativos nas maneiras como dão resposta aos seus problemas e necessidades", incentiva ainda.
Texto: Filipa Basílio da Silva
Comentários