A oposição, num registo normativo, pode ser vista como um comportamento saudável e desejável quando permite à criança/adolescente proteger-se e adaptar-se. O comportamento de oposição “normal” define-se como tarefa típica de determinadas fases do desenvolvimento cuja função é promover competências de auto-regulação.

As fases de desenvolvimento que coincidem com a idade pré-escolar e adolescência podem caracterizar-se pela presença de comportamentos de oposição transitórios, com características diferentes em cada uma destas fases. Quando se ultrapassa o patamar normativo, estes comportamentos tornam o dia-a-dia mais difícil e surgem obstáculos que resultam num enorme desgaste para as famílias, que nem sempre advém da realização da tarefa em si mas sim do tempo que a criança demora a transitar para uma nova tarefa. É neste momento de transição que tudo pode acontecer.

O final pode ser feliz, muitas vezes é, mas para alguns pais e filhos estes momentos são mais complexos pela incapacidade da criança corresponder a pedidos que exigem que se adapte a uma realidade que não se enquadra nos seus desejos e/ou planos para aquele momento. Exprime-se por um inflexível comportamento de oposição que pode surgir acompanhado por reacções de extrema reactividade emocional como o choro, gritos, insultos ou mesmo a agressão física. A duração destes episódios é muito variável, pode manter-se por instantes, minutos ou horas, acontecer todos os dias ou uma vez por semana. Ultrapassado este momento, é como se nada tivesse acontecido. Se estas situações são recorrentes e sobretudo se implicam sofrimento para a criança e família então é importante procurar ajuda.

Considerando o cenário de chegada a casa no final de um dia, é fundamental definir prioridades, o que implica realizar primeiro as tarefas obrigatórias e, em seguida, as tarefas de lazer. Para as crianças, contrariamente ao que a maioria dos pais defende, o mais adequado é, por exemplo, começar por fazer os trabalhos de casa, depois tomar o banho e finalmente usufruir de tempo de brincadeira, quando o há, antes do jantar. As tarefas mais exigentes devem ser as primeiras para evitar uma experiência de frustração mais intensa para a criança, por ter de abandonar um momento lúdico para fazer algo que não lhe agrade e/ou lhe vai exigir esforço mental.

Esta experiência de frustração favorece o surgimento de comportamentos de oposição e é aqui que o tempo poderá começar a ser preenchido com conflito. Quanto mais autoritários e emocionais os pais se tornam, mais “opositoras”, se tornarão as crianças.

Os dois registos alimentam-se e perpetuam o conflito. Os pais devem, por isso, manter um estilo de comunicação assertivo e empatizar com o esforço que o pedido implica para a criança. Geralmente, a cooperação da criança depende, quase na totalidade, desta assertividade. É importante não derivar para a crítica mesmo que o comportamento seja visto como demonstração de “má educação”.

Se após manter alguma resistência a criança transitar para a tarefa, o reforço/elogio não deve ser omitido ainda que se antecipem outros desafios semelhantes. Reforçar a cooperação, mesmo que surja depois de respostas desadequadas, é tão fundamental quanto a atribuição de consequências lógicas.

Para a criança, esta abordagem fornece pistas que promovem uma maior capacidade de auto-regulação e ajuda na avaliação do seu próprio comportamento (através das respostas dos pais) que lhe permitirá diferenciar o adequado do desadequado. Para além disto, as rotinas diárias funcionam como o contexto em que qualquer criança treina as suas competências de auto-regulação e de resolução de problema. São as primeiras experiências de adaptação a exigências externas e à autoridade, pelo que não podem depender, unicamente, da presença de motivação.

Desenvolver esta capacidade é investir no reforço de comportamentos adaptativos que ao longo do crescimento vão ser exigidos em diferentes contextos.

Daniela Nascimentodaniela.nascimento@pin.com.pt
Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação
Coordenadora do Núcleo de Défice de Atenção, Hiperactividade, Perturbações do Comportamento e do Humor

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