Quando convidamos alguém para ir a nossa casa, abrimos a porta e recebemos as pessoas num espaço que é comum, e a circulação é livre nesse mesmo espaço… a entrada para os espaços privados da casa está ligada ao grau de intimidade das visitas.

 

Na familia, existem espaços familiares, os comuns e os privados, e em cada um desses mesmos espaços também existem os lugares de cada um. Esta geometria familiar, não é mais que uma banda sonora, que muda com os processos de maturação e crescimento de cada familia.

 

A escolha da casa, quando os jovens adultos se emancipam, a compra da casa a dois, no projecto casal… as exigencias, as limitações, os sonhos e a realidade… assim se inicia a jornada da definição dos espaços. Esta jornada intensifica-se com o nascimento e crescimento dos filhos, e desde cedo começam os desafios… muitos deles ligados à pertença, à posse, à exclusividade.

 

Por vezes os pais falam em ceder, em negociar, mas certo é que na sua competencia única de orientadores e modelos, são eles quem define limites, quem avalia riscos e quem efectivamente valida a capacidade de escolha dos seus filhos, através da pedra basal mais importante, a confiança. Tudo isto seria muito mais facil e tranquilo, se não fossem comuns as discordancias, as divergencias, a necessidade de controlar algo, na mesma medida em que crescemos.

 

O quarto dos filhos, costuma ser sempre um local mágico, ao qual se atribuem imensos papeis… o lugar de estudo, o lugar de descanso, o lugar do castigo, o lugar dos sonhos, das lagrimas, da música, do computador…. Não é então de estranhar, que sejam fáceis as guerrilhas domesticas em torno do quarto.

 

As perguntas que mais se ouvem em consulta estão muito relacionadas com a gestão diaria dos espaços privados vs espaços comuns.

 

Televisão no quarto sim ou não?  Se sim, não sai de lá, se não é sempre uma discussão sobre o telecomando…

Computador no quarto sim ou não?

Telemóvel, durante a noite onde deve ficar?

 

Efetivamente, o quarto encerra em si um território exclusivo, de privacidade, pertença… como se de um prolongamento se tratasse. Mas o domínio de um território só acontece quando se cresce, quando se consegue ser responsável por esse mesmo território, quando os membros mais velhos da ‘tribo’ delegam essa função.

 

Assim sendo, é importante que todos compreendam que a conquista do espaço, está intimamente ligada ao crescimento… que para arrumar, primeiro desarruma-se, que ninguém nasce ensinado, que existem regras indiscutíveis e outras nem tanto… é também muito importante, que todos compreendam que o crescimento é sempre uma novidade, que é indiscutivelmente o maior desafio que enfrentamos e sempre com sucesso… e que na conquista do espaço, as questões arquitectónicas são maioritariamente metáforas das outras conquistas diárias.

 

No meu quarto mando eu – é também um voto de confiança dos pais para os filhos….

 

No meu quarto mando eu – é um pedido de deixem-me crescer…

 

No meu quarto mando eu – é uma das crises normativas e transaccionais das famílias

 

No meu quarto mando eu – pode ser um problema, quando todos os outros espaços familiares foram engolidos e tudo o que representam na vida da família, deixa de existir. Nestas alturas, procure ajuda, pois o espaço que se perdeu deu lugar a um outro espaço menos satisfatório e menos saudável para todos.

 

Mafalda Correia

mafalda.correia@pin.com.pt

Núcleo de Apoio e Terapia Familiar

 

PIN – Progresso Infantil