Isto gera nos elementos questões e até alguns conflitos dependendo da idade e da situação particular. Podem surgir perguntas, como por exemplo, “porque passas mais tempo com ele(a)”, “porque é que ele(a) dorme no vosso quarto”, “não compreendo porque ele(a) pode fazer coisas que eu não posso…”.

A situação pode ser desafiante para a dinâmica familiar, mas é essencial escutar todas as questões e dúvidas, ou seja, permitir que os(as) filhos(as) possam exprimir os seus sentimentos para que seja possível explicar a vivência inerente à história daquela família. O diálogo é a ferramenta mais importante para que o ciúme desse(a) irmão(ã) possa ser trabalhado pela família.

Por vezes a criança repete comportamentos do seu irmão(ã) “especial” para que também possa ter os mesmos privilégios ou a mesma atenção e isto nem sempre é percecionado dessa forma. Os/as pais/mães queixam-se dessas manifestações verbalizando que a criança é muito difícil e não têm competência para lidar com as ocorrências. Se explorarmos como foi transmitido à criança a realidade do(a) seu(sua) irmão(ã) “especial”, como tudo aconteceu, como o pai e a mãe atravessaram emocionalmente o diagnóstico, na maior parte das vezes os pais e as mães relatam que evitam falar acerca do assunto em vez de salientarem o que esse nascimento lhes trouxe de positivo e significativo, para que também o(a) irmão(ã) possa ter um olhar mais autêntico.

Enquanto o(a) irmão(ã) não souber a verdade poderá sofrer por lhe ser demasiado complicado viver com regras e medidas diferenciadas relativamente ao(à) seu(sua) irmão(ã). Muitas vezes ambas as crianças conseguem brincar descontraidamente e com alegria. A dificuldade não se trata da relação vivida entre eles(as), mas a existência de verdades não faladas no interior do seio familiar. Os(as) pais/mães julgam ser muito precoce introduzir o tema e enquanto adiam a explicação que reflete atitudes díspares na relação com um(a) e outro(a) irmão(ã), a criança tem oportunidade para colocar a hipótese de preferência dos/as pais/mães pelo/a seu(sua) irmão(ã) e assim sentir-se desvalorizado(a).

Algumas ideias para reflexão:

- A terapia familiar pode ser um instrumento precioso para que a expressão de emoções possa ser revelada em família e assim acontecer a facilitação das vivências;

- Crianças “especiais” trazem emoções que se podem traduzir em sentimentos contraditórios: confiança, desespero, desalento, amor, revolta, otimismo, força… a superação da angústia ajudará na relação com todos(as) os(as) intervenientes desta relação de carinho.

Sandra Helena

Psicoterapeuta

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