A verdade é que a saúde mental está repleta de mitos e, apesar de ser um assunto da ordem do dia, os pais ainda sentem dificuldades em procurar apoio ajustado às necessidades das crianças e, como fator agravante, nem sempre são capazes de despistar os sinais de alerta que devem levar à procura de apoio especializado.

Em primeiro lugar, é fundamental tomarmos consciência que pedir ajuda não significa que os pais estão a desempenhar de forma incorreta o seu papel, mas sim que, perante a dificuldade, são capazes de estar atentos e de tomar as medidas mais sensatas para o saudável desenvolvimento de uma criança.

Por isso, é essencial que tenhamos em consideração alguns sinais de alerta que os pais e os educadores devem ter em consideração sempre que surgem e se prolongam no tempo, mesmo após as estratégias dos pais para inverter esses sinais. Assim, deve ser procurada ajuda sempre que emergem comportamentos que prejudicam o dia-a-dia da criança, nomeadamente:

  • Dificuldades na relação com os outros - seja isolamento social, tão característico das crianças mais contidas e com medo de falhar, seja agressividade e comportamentos mais agido em relação aos outros, muitas vezes característico das crianças mais agitadas.
  • Quebra do rendimento escolar - o rendimento escolar reflete em grande parte a estabilidade emocional e social da criança, sendo um aspeto que rapidamente entra em défice aquando destas dificuldades.
  • Agitação excessiva, dificuldades de concentração, tiques ou rituais que persistem no tempo.
  • Dificuldade em controlar os esfíncteres - a dificuldade em controlar a urina e as fezes, deve ser tida como um sinal de alerta psicológico, tendendo a ser reflexo de alguma angústia e instabilidade.
  • Dificuldade me lidar com lutos ou separações - sempre que perante um luto ou uma separação significativa uma criança parece ser incapaz de reagir deve ser procurada ajuda. Da mesma forma, se após cerca de 6 meses da perda ou separação, a criança continuam com uma tristeza profunda, deve ser procurada ajuda.
  • Dores físicas excessivas, sem justificativa médica - por exemplo, dores de cabeça, dores de barriga. As queixas generalizadas de dores corporais e que, tendencialmente, oscilam em intensidade e em localização, são muitas vezes um sintoma psicossomático que deve ser tido em consideração.
  • Dificuldades alimentares - seja por défice ou por excesso, a relação com a comida é muitas vezes uma forma de nos acalmarmos e de nos libertarmos emocionalmente, por isso, as dificuldades alimentares devem ser tidas como um sinal de alerta importante.

Estes são os principais sinais de alerta evidenciados pelas crianças e aos quais os adultos devem responder procurando ajuda especializada.

O essencial é termos em consideração que as crianças ainda não são capazes de dar significado as suas emoções e a tudo aquilo que vivenciam na relação consigo e na relação com os outros e que, por isso mesmo, também não são ainda capazes de pedir ajuda quando a nível mental não se sentem ‘em forma’, assim, muitas vezes as dificuldades de foro mental aparecem, tendencialmente, ‘mascaradas’ e não ficam claras para os adultos à volta da criança, sendo imprescindível que estejam atentos.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida da Escola do Sentir.