As crianças - como todos nós - precisam, acima de tudo, de se sentir amadas e de sentir que, no colo dos pais (ou de outra figura de referência), encontram espaço para existir, para se permitirem a mostrar tudo aquilo que são as suas coisas boas e também para se permitirem a mostrar tudo aquilo que são os seus lados menos bonitos ou mais sofridos.
Apesar desta ser a principal necessidade das crianças, muitas vezes dedicamos muito pouco tempo a essa necessidade e, por entre a correria do dia a dia, acabamos por nos desligar, assumindo uma postura mais funcional e menos proativa ao nível das necessidades emocionais das crianças.
A verdade é que se para os adultos as emoções não são sempre fáceis de partilhar com os outros ou de elaborar e dar significado, para as crianças também não é um caminho simples e sem sobressaltos. E o caminho mais fácil é guardar para dentro de si aquilo que é o seu mundo emocional.
Por isso, se queremos que as crianças sejam capazes de olhar para as suas emoções e de partilhar aquilo que vivenciam, é essencial que os adultos se tornem pontes para o mundo emocional da criança. Assim, devemos ficar atentos não só ao que as crianças expressam por palavras, mas também a tudo aquilo que elas nos dizem com o corpo todo.
Isto é, cada gesto e cada movimento mais agido ou mais passivo dá-nos informação da forma como uma criança se sente e devemos ser capazes de utilizar a linguagem não verbal das crianças como uma coordenada para chegarmos ao coração da criança e para lhe abrimos o colo a tudo aquilo que vivencia.
Por exemplo, existem birras que de alguma forma sentimos que são uma manipulação da parte da criança e essa é uma coordenada para agirmos com limites e firmeza. Por outro lado, existem birras que são quebras emocionais da criança e, nesse caso, a coordenada certa será responder com afeto e proximidade.
No fundo, nunca nos devemos afastar da ideia de que uma criança será tão mais feliz quanto mais amor tiver e quanto mais espaço tiver para o seu mundo emocional se expressar de forma adequada. Se, a par disto, formos capazes de ler as coordenadas dos comportamentos das crianças, estaremos a dar-lhes aquilo que precisam para se desenvolver emocionalmente.
Neste caminho, o grande desafio é sermos capazes de ouvir aquilo que as crianças não nos dizem, mas que nos vão mostrando no seu dia a dia pelas sua atitudes, por meias palavras e estados emocionais.
Assim, se uma criança está rabugenta, devemos ser capazes de parar junto dela, de a sentir e traduzir-lhe por palavras tudo aquilo que se passa dentro dela, de forma a dar-lhe a segurança de que, aconteça o que acontecer, está sempre ali alguém capaz de ouvir até o que a criança não lhe diz.
Um artigo das psicólogas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
Comentários