Os professores e educadores retomaram, no início do mês, o ensino à distância, o que implicou usar a internet de casa, os seus computadores e até os telefones pessoais para dar aulas, acompanhar alunos e contactar famílias de alunos.
Para os diretores, a situação precisa ser rapidamente corrigida: “Os professores estão a gastar eletricidade, internet e até quando um computador se avaria é do seu bolso que sai o dinheiro para o arranjo”, alertou Filinto Lima.
O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) lembrou também os casos de docentes que tiveram de comprar mais equipamentos porque os que existiam em casa deixaram de ser suficientes para garantir que pais e filhos conseguiam todos trabalhar.
Entre um computador pessoal que se avaria e um professor com filhos em idade escolar, existem várias situações que tornaram mais dispendiosa a missão de dar aulas.
“É preciso imputar um valor que cubra os gastos com eletricidade, internet e mesmo avarias de equipamentos. É injusto que sejam os professores a acarretar com estas despesas. Nas empresas esse custo é suportado pela entidade patronal”, defendeu Filinto Lima.
A Federação Nacional dos Professores anunciou hoje que pediu a intervenção da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) para fiscalizar precisamente a situação dos professores e educadores que estão a suportar as despesas relativas ao teletrabalho.
A decisão da federação surge depois dos resultados de um inquérito que revelou que a generalidade dos docentes em teletrabalho (95%) estava a pagar do seu bolso os custos relativos a despesas do seu trabalho.
“Os computadores são dos docentes, tal como os telemóveis (instrumento fundamental para a atividade assíncrona) e as despesas com Internet de banda larga (necessária para suportar as plataformas em que se desenvolve a atividade síncrona), bem como com operadoras de telecomunicações são, igualmente, asseguradas pelos professores e educadores”, alertou a Fenprof lembrando que o Código de Trabalho prevê a obrigação de “a entidade empregadora disponibilizar, instalar e manter os equipamentos necessários ao exercício do trabalho por meios telemáticos (teletrabalho) e assumir as despesas inerentes ao mesmo”.
À Lusa, Filinto Lima lembrou que em Gaia, a autarquia cedeu um computador a cada professor do 1.º ciclo e aos educadores de infância. Para o diretor, este procedimento deveria ser generalizado e alargado a todos os níveis de ensino.
“Temos de contar com a generosidade dos professores que usam os seus computadores ao serviço do Ministério da Educação”, lamentou.
O também diretor do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, em Vila Nova de Gaia, contou que o agrupamento emprestou computadores a alguns docentes.
“Nós tivemos três professores cujos computadores se avariaram e acabámos por ceder equipamentos que tínhamos aqui na escola. Mas tem de haver um plano do Ministério da Educação que garanta equipamentos para todos os professores. A tutela tem de ceder um computador a cada professor”, defendeu.
O programa Escola Digital prevê a distribuição de computadores por alunos e professores mas, até ao momento, só os estudantes foram abrangidos pela medida.
Entretanto, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que está em discussão pública, veio anunciar uma verba para a compra de 260 mil computadores para alunos e professores. Mas a ideia é que este dinheiro esteja disponível para garantir que nos próximos anos possa haver a manutenção de equipamentos.
O representante dos diretores escolares lembrou também as inúmeras situações que levam a que os docentes usem os seus telefones para contactar alunos e famílias. No final do mês, é a casa dos professores que chegam as contas para pagar.
“Os professores são voluntaristas e generosos e quando há um problema não pensam duas vezes e usam os seus telefones pessoais, mesmo correndo o risco de algumas pessoas menos bem-intencionadas ficarem com os seus números de telefone”, exemplificou.
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