Em ambos os casos são súbitos, breves, involuntários, repetitivos e não cumprem um propósito.
Os tiques motores podem traduzir-se em movimentos abruptos, que podem acontecer de forma isolada, (por exemplo piscar os olhos, encolher os ombros, “sacudir” o pescoço, fazer caretas), ou movimentos coordenados (por exemplo, tocar em outras pessoas, saltar, fazer gestos obscenos - copropraxia, imitar movimentos de outras pessoas – ecopraxia, ou realizar vários movimentos em simultâneo, como levantar-se e olhar para trás ao mesmo tempo).
Os tiques vocais traduzem-se na produção de sons únicos, tais como aclarar a garganta, tossir, fungar, ou podem compreender a expressão de verbalizações, incluindo a repetição de palavras ou frases de outros (ecolália), uso de linguagem obscena (coprolália), ou menos frequentemente, a repetição rápida de uma palavra ou frase (palilália).
Habitualmente os tiques aumentam em situações de maior ansiedade e stress, diminuindo quando a criança está concentrada numa atividade específica ou quando está descontraída.
Estima-se que os tiques afetem 12-18% das crianças em idade escolar, surgindo mais frequentemente entre os 5 e os 7 anos, sendo na pré-adolescência que atingem uma intensidade máxima. Na maioria dos casos, diminuem com a entrada na vida adulta.
Os tiques podem ser transitórios, acabando por desaparecer após algumas semanas ou poderão prolongar-se. Quando estão presentes vários tiques motores e pelo menos um tique vocal, de forma continuada (várias vezes ao longo do dia, quase todos os dias ou de forma descontinuada por mais de um ano), e com um impacto significativo na vida da criança, considera-se a presença da Síndrome de Gilles de La Tourette.
Neste caso, deverá ser realizada uma avaliação por um técnico especializado (Neuropediatra ou Psicólogo Clínico), no sentido de confirmar a presença desta perturbação. A intervenção nos tiques poderá ser farmacológica e/ou psicológica, de acordo com a intensidade dos mesmos.
A intervenção psicológica com maior taxa de sucesso baseia-se em técnicas cognitivo-comportamentais. Contudo, o apoio psicológico poderá estender-se a outros objetivos, para além da redução dos tiques, uma vez que estas crianças e adolescentes apresentam por vezes outras perturbações associadas (Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção, Perturbação Obsessivo-Compulsiva) e outros sintomas como por exemplo, baixa auto-estima ou dificuldades na socialização.
Deste modo, é fundamental a avaliação médica e psicológica, no sentido de esclarecer as necessidades de apoio e acompanhar a criança e a família.
Soraia Nobre
Psicóloga clínica
soraia.nobre@pin.com.pt
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