Há cerca de 2 anos fiz uma chamada de atenção, num texto publicado na plataforma Healthnews, sobre os fatores de risco profissionais de natureza psicossocial nos profissionais de saúde, a propósito da publicação dos dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) de 2022. Apontavam então para quase o dobro dos episódios de violência (relativos quer a 2020, quer a 2021), que médico(a)s, enfermeiro(a)s e outros profissionais de saúde teriam sido vítimas. Nesse contexto indagava-se se estariam, de facto, a aumentar esses episódios ou se esses casos continuariam a aumentar devido ao aumento da sua notificação?

Assinalava, à data, ainda um nosso recente estudo num grande hospital em Lisboa, observacional e transversal, que teria revelado uma insuficiência de respostas organizacionais adequadas num contexto de livre acesso a zonas de trabalho e ainda uma insuficiente proteção por agentes de segurança que, ultimamente, tem, de facto, melhorado.

Aparentemente, a pouca familiaridade dos prestadores de cuidados com os procedimentos internos de notificação então identificada (dados anteriores a 2020) foi caracterizada como área carenciada de melhoria, bem como a insuficiente expressividade das estratégias intervencionistas destinadas a incrementar essas melhorias. Daí para cá tais aspetos têm, de facto, também vindo a ser melhorados.

Mas essa melhoria será suficiente?

Se assim for, por certo, a frequência desses episódios terá tendência a reduzir-se?

O referido Observatório Nacional da Violência Contra os Profissionais de Saúde no Local de Trabalho, desenvolvido pela DGS há alguns anos, com o objetivo de disponibilizar um sistema de notificação online dos episódios de violência tem sido, efetivamente, muito útil. Indicam agora os dados recolhidos que, em 2024, foram reportados 2581 episódios (dos quais quase 600 de violência física), o que representa, apesar das medidas implementadas, novo aumento em relação a 2023. E, releve-se, são ,em média, quase dois episódios diários de violência física sobre trabalhadores …

Será que temos feito o suficiente para a prevenção dos episódios que aquele Observatório nos revela?

Será que se tem feito o suficiente para a prevenção desses (e de outros) fatores de risco de natureza profissional?

Será que se dá igual importância ao diagnóstico de situação e à implementação de medidas concretas de prevenção?

É que os fatores de risco profissionais em médicos e outros profissionais de saúde não se circunscrevem aos agentes microbiológicos, como foi o caso recente da COVID19 em prestadores de cuidados ou em outras situações com risco específico de exposição ao agente. Existem inúmeros outros factores relacionados não só com as condições de trabalho, mas também com a atividade concreta.

Julgo que (em média) mais de sete episódios diários de violência infligida a médicos e outros profissionais de saúde, em 2024, deveriam determinar respostas mais “musculadas” de prevenção. É que se presume, obviamente, que aquele Observatório determina aspetos de diagnóstico que só se entendem como informação determinante para a ação “terapêutica” desses mesmos riscos psicossociais, que, parece-me, será por certo o pretendido! Ou estarei completamente equivocado?

Nafarros, 23 de junho de 2025