‘É demasiado novo para essas coisas?’, ‘Eu sei lá mexer com isso.’, ‘Tenho de transportar aquilo para todo o lado?’, atrasando o processo de aprendizagem e automatização do SCAA, que poderia ter contribuído para o aumento das competências comunicativas e da qualidade de vida.

Esta é a segunda parte sobre o tema Sistemas de Comunicação Aumentativa e Alternativa. Pode ler a primeira parte AQUI.

O que é: 
Os Sistemas de Comunicação Aumentativa e Alternativa incluem todas as formas de comunicação que complementam ou substituem a fala, permitindo a expressão de pensamentos e necessidades a indivíduos que não podem comunicar (exclusivamente) através da oralidade. Podem ser usados gestos, imagens, símbolos, escrita, entre outros, para garantir a comunicação.

Os mitos:

“O meu filho vai parecer diferente.”
O seu filho tem uma dificuldade de comunicação, o que por si só é uma particularidade. Provavelmente, se você usa óculos, não sente isso como uma diferença. O SCAA não é um brinquedo, mas sim uma via primária de comunicação de modo a promover autonomia e funcionalidade, tornando-o ativo no seu dia-a-dia. Pretende-se que seja a “voz” do seu filho, a sua maneira de comunicar e de ser funcional. É a ‘diferente’ via de comunicação que lhe permitirá pedir, rejeitar, informar, conversar, esclarecer, negar, perguntar, ralhar, zangar-se, emocionar-se, ser feliz e autónomo! Ele terá a sua própria voz.

“Ele percebe tudo o que eu digo, e eu percebo tudo o que ele diz. Porque precisa de um SCAA?”
A família e as pessoas mais próximas da criança podem compreender o que ela quer dizer quando chora, quando se aproxima de determinado objeto, quando estica o braço ou quando balbúcia, no entanto, as restantes pessoas com quem o seu filho se cruza têm muita dificuldade em interpretar e extrair significado dos comportamentos dele. Quem melhor conhece o seu filho não deve assumir constatemente o papel de “tradutor” sobre o que ele quer dizer. Ser capaz de comunicar diariamente com pessoas desconhecidas e com crianças da sua idade é uma parte importante na promoção do desenvolvimento infantil. Para além dos vários parceiros comunicativos, é essencial que o seu filho tenha capacidade para comunicar em diferentes contextos (escola, lojas, rua).

“O SCAA é da responsabilidade exclusiva do Terapeuta da Fala”
Apesar de a comunicação ser uma das áreas de intervenção do Terapeuta da Fala, ela está presente em todos os contextos. Para além disso, para desenvolvermos um SCAA, é necessário que o seu uso e apoio sejam transversais a todos os profissionais e familiares da criança. Os pais têm um papel fulcral neste processo. Se a responsabilidade for atribuída a um número reduzido de pessoas, é provável que a interação e retorno do uso da comunicação sejam diminutos e pouco variados, limitando o seu uso e utilidade para a criança. Para além da própia criança e da família, para a escolha do SCAA devem ser envolvidos todos os profissionais de processo clínico e educativo, de modo a entender todas as singularidades, particularidades e necessidades da criança e de cada contexto, assim como partilhar desafios e estabelecer etapas comuns de evolução.

“O SCAA vai solucionar todas as dificuldades”
Infelizmente, nao foi descoberto ainda o método com 100% de eficácia para a comunicação. Até os nossos grandes comunicadores enfrentam desafios pessoais e barreiras linguísticas, emocionais, sociais, entre outras.

“Não devemos juntar a utilização de baixa e alta tecnologia”
Os sistemas de baixa tecnologia dizem respeito a todos SCAA que não dependem de aparelhos eletrónicos. Podem ser desde simples cartões pictográficos ou de letras até manuais mais complexos. São, no entanto, geralmente fazíveis manualmente.

Os sistemas de alta tecnologia, por sua vez, requerem um sistema eletrónico, como um sintetizador de voz, por exemplo.

Ambos apresentam tanto vantagens como desvantagens. O facto de os sistemas de baixa tecnologia não requererem bateria para a sua utilização, permite um uso permanente. Por sua vez, os sistemas de alta tecnologia podem ser de mais fácil transporte (um tablet) ou oferecer maior precisão e complexidade comunicativa (sintetizador de voz), embora sejam tipicamente mais dispendiosos.

A sua combinação, embora não obrigatória, pode oferecer um complemento e um maior ajuste ao contexto e necessidade para a comunicação. E necessário ter em conta o perfil cognitivo, capacidade de manipulação, apoio na transição e transporte dos sistemas e perceber a pertinência de cada sistema para a necessidade de cada criança.

Ana Paris Leal – ana.paris@pin.com.pt
Ana Beirão – ana.beirao@pin.com.pt
Terapeutas da Fala

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