
António Raminhos tem sido uma das vozes mais proeminentes a levantar-se para falar sobre questões de saúde mental. Para além dos espetáculos de comédia que já fez dedicados à temática, o humorista tem também um podcast - 'Somos Todos Malucos' - no qual fala das suas próprias experiências, ouvindo também as de outros convidados.
Diagnosticado com Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) e ansiedade, o comediante contou um pouco da sua história a Vasco Palmeirim num outro podcast - 'Dos Pés à Cabeça'.
"Desde que me lembro de mim que lido com questões obsessivas e com ansiedade, mas só para aí aos 26 anos é que eu encontrei um psicólogo que me direcionou", revela.
Questionado sobre a forma como os pais lidaram com os seus sintomas, que se manifestaram logo na infância, Raminhos respondeu: "Como se lidava nos anos 80. Nos anos 80 não havia ninguém com questões de saúde mental. Tu não tinhas um vizinho bipolar, era só uma besta. Não era? Ou não tinhas um primo com uma depressão, era um totó que vivia à custa dos pais e não saía de casa".
O convidado nota que era visto como o "nojentinho" ou o "esquisitinho".
"Os meus pais levaram-me a um psicólogo dos anos 80, uma bruxa", afirmou, deixando Palmeirim surpreendido.
"Não era uma bruxa, era uma médium, é um conceito ainda um bocadinho diferente, mas foi muito engraçado porque esta médium, que era a Dona Manuela, foi na realidade a minha primeira psicóloga, porque ela fez aquilo que ninguém tinha feito até então, que foi ouvir-me. E ela aceitou que aquilo que eu estava a sentir era verdade", descreveu.
Os sintomas da ansiedade e do POC em Raminhos
Raminhos procurou explicar a diferença entre as "pessoas comuns" e as que lidam com transtornos como o seu na hora de processar os pensamentos.
"Há estudos que dizem que nós temos 30 mil pensamentos diários. Há outros que dizem 16 mil. Não interessa. O que interessa é que são muitos e muitos desses pensamentos são bosta. Todos nós temos. A grande diferença é que uma pessoa que lida com a ansiedade ou uma perturbação obsessiva-compulsiva fica-se nestes pensamentos. Porquê? Porque estes pensamentos causam extrema ansiedade", explicou.
"Eu tinha muitos medos de contaminação, tenho menos hoje, mas houve uma altura, para aí aos meus 18 anos, em que já quase não saía da casa, porque não conseguia andar de autocarro, nem de metro, nem nada. (...) Nós somos os realizadores dos nossos maiores filmes de terror", reconhece.
O comediante lembrou ainda a primeira vez que foi a um psiquiatra, após ser aconselhado pelo seu psicólogo a fazê-lo. "O meu primeiro psiquiatra era num prédio de habitação, era o rés-do-chão inteiro do prédio. Eu fiquei para aí 20 minutos à porta do prédio, dentro do meu carro, à espera que ninguém entrasse no prédio, que era para ninguém me ver entrar. Eu já fui a casas de strip com menos vergonha!", lembra, deixando Palmeirim às gargalhadas.
Ataques de pânico em espetáculos
Já foram algumas as ocasiões em que António Raminhos diz ter sofrido ataques de pânico em espetáculos. "Estou a fazer o espetáculo normalmente e a minha cabeça começa: eu quero ir-me embora daqui, eu vou desmaiar, eu não aguento, eu vou morrer".
"Isto é uma sensação de morte iminente (…) é uma sensação de despersonalização, quase como se estivesses a viver duas realidades ao mesmo tempo", faz ainda saber, revelando que já tem mecanismos para lidar com estas situações.
"O meu cérebro estava dividido em três partes: uma que estava a debitar o texto, outra parte que estava a ter o ataque de pânico e a terceira parte que estava a dialogar com o ataque de pânico", recorda, sublinhando que foi assim que conseguiu acalmar-se naqueles momentos.
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