Gustavo Santos. Um nome que tanto já deu que falar nas redes sociais. Dono de uma personalidade própria e de uma opinião bem vincada, o escritor e apresentador não tem medo de dizer o que pensa, independentemente do assunto. Assume-se responsável pelas suas palavras e orgulha-se de tomar decisões em função da pessoa que mais ama na vida: ele mesmo.

Nunca foi um objetivoagradar a toda a gente?

Nunca. Não foi, não é e nunca será. A minha principal premissa na vida é agradar-me a mim porque esta é a minha vida, são os meus sonhos, é a minha missão. Se isso acontecero amor para com os outros torna-se uma consequência natural. Nunca se pode tentar agradar aos outros em primeiro lugar se esse agradar ao outro pode ser desagradável para nós.

Mas o Gustavo dividemuitas opiniões. Há que o ame e há quemo odeie...

Sim, tal e qual como Jesus, Ghandi, Mandela, Luther King... todos esses, os grandes líderes foram amados e odiados. Principalmente quando falamos sobre amor que é a maior de todas as guerras, só que não é uma guerra de armas, é uma guerra de ações, de coragem. As pessoas que não acreditam nisto basta experimentarem um dia serem quem elassão, dizer não a quem lhes apetece, fazer o que lhes apetece, dizer às pessoas o que sentem, afirmar o que pensam. Vão ver a guerra que vão comprar. Quando as pessoas se amam a esse ponto e é isso que eu faço na minha vida, naturalmente promovem a discórdia. E eu sei que grande parte da minha missão, porque eu vou sempre assumir a minha verdade, ela promoverá a discórdia, há pessoas que me vão admirar e há pessoas que me vão odiar.

Como é que lida com as críticas mais duras?

Assim como com os elogios absolutamente fantásticos. A minha vida para mim é muito simples de entender porque eu vou sempre respeitar-me. Mesmo que se diga que eu sou fantástico, não vou ficar a pensar que sou melhor do que aquilo que sou. E se se disser que eu não valho nada, também não vou ficar a pensar que sou pior do que sei aquilo que sou.

Acha que hoje as pessoas não se amam o suficiente?

Claro. A sociedade em que nos encontramos está formatada para as pessoas não serem felizes. Desde que nós nascemos e somos criados até à adolescência e fase adulta, tudo o que nos dizem é que temos de colocar o outro em primeiro lugar. Não podes magoar aquele, mas se te magoares a ti, aguenta-te. Tens de ajudar o outro a lutar pelo sonho dele e só depois é que vais lutar pelo teu. Tensde ajudar o outro a não ser tão carente, mesmo que tu fiques numa carência profunda.

E como é que viveu isso na sua vida?

Em primeiro lugar tem de vir sempre o teu sonho, não o sonho que os outros têm e muito menos o sonho que os outros têm para ti. Por exemplo, os meus pais tinham um sonho para mim. Acima de tudo a minha mãe: que eu fosse profissionalmente 'isto' e o meu sonho foi dançar. E abdiquei de tudo para seguir a dança. Esta minha escolha que foi em amor próprio por mim magoou-a, masnão sou minimamente responsável pela dor que ela sentiu. Ela é que não soube aceitar que o filho dela tem a sua própria vida. Naquele momento foi uma dor traumática para ela, mas neste momento temos uma relação absolutamente fantástica.

A grande maioria dos pais está-se nas tintas para os sonhos dos filhosE isso continua a acontecer hoje em dia?

Sim. A grande maioria dos pais está-se nas tintas para os sonhos dos filhos, o que querem é que eles tenham segurança profissional, independentemente de gostarem daquilo que fazem ou não. É indiferente porque eles também são infelizes, por isso o filho é mais um. Este é um claro indicador que tu tens de aparecer sempre em primeiro lugar, as tuas vontades têm de ser sempre respeitadas em primeira instância. E apareceres em primeiro lugar não quer dizer que sejas mais importante do que os outros, mas se tens uma vontade e o mundo inteiro tem uma vontade para ti, aquela que vais respeitar é a tua. Logo, tu estás em primeiro lugar.

Então não concorda com a teoria de que estamos numa sociedade egoísta?

Não, pelo contrário. O amor próprio não tem nada a ver com egoísmo. Egoísmo é eu exigir ser a pessoa mais importante da vida de outra pessoa. E se ela não respeitar as minhas escolhas em primeiro lugar vou cobrar, atacar, julgar ou ofender. Sou a pessoa mais importante da minha vida porque amo-me. Estou muito mais perto de ser incondicional com os outros. E ser incondicional é o amor porque o amor não tem condições, o medo é que tem. O egoísmo é exigir que o mundo viva com aquilo que eu acho que é certo.

Aprópria sociedade em si manipula os cidadãos para que os grandes continuem a reinar à grande e à francesaMas ainda há esperança para melhorar?

Estamos numa sociedade com um potencial enorme para evoluir, mas a educação a quetemos acesso está baseada nos nossos pais, que vêm com medos, bloqueios gigantes dos pais deles. Aprópria sociedade em si manipula os cidadãos para que os grandes continuem a reinar à grande e à francesa, isto tudo está formatado para que não passes de uma ovelha. E a mensagem que venho dizer é ‘não, tu tens de ser o lobo, tens de criar a tua própria alcateia’. Tens de sair dessa massificação de inconsciência onde andamos todos, que ninguém sabe para onde vai, mas andamos atrás de alguém. Tens de ter a coragem de sair desse rebanho e afirmar a tua verdade. Há pessoas que te vão admirar porque gostavam de ter a tua coragem e há pessoas que te vão odiar e dizer, ‘quem é que este gajo pensa que é?’. E a resposta é tão simples: Eu sou apenas um homem que se ama, mais nada.

Criou-se a moda de todos defenderem o Charlie Hebdo… agora é moda mandar o TrumpabaixoE a nível político, qual a opinião do Gustavo?

Eu não me meto em política. Criou-se a moda de todos defenderem o Charlie Hebdo… agora é moda mandar o Trumpabaixo, depois há de aparecer outra moda qualquer e a massificação vai toda atrás daquilo que os meios de comunicação defendem. Eu gostava muito do Obama, não só por ter sido o primeiro líder negro. Ele veio de certa forma revolucionar e unir as pessoas, mas sempre promovendo a discórdia, porque não há hipótese, uma pessoa que defenda a sua verdade vai sempre promover a discórdia. Defendo o amor e vivo no planeta medo. Claro que me interessa que as pessoas que estão no poder liderem pela paz e não pelas armas. Não sei o trabalho que o Trump vai fazer, não sou um apoiante nem uma pessoa que lhe deseja que corra mal. Mas uma coisa é certa: ele está lá porque a maioria da América votou nele, isso ninguém lhe pode tirar. O povo tem de ser responsabilizado pela pessoa que elegeu e a partir daí existe uma responsabilidade mútua, tanto da pessoa que dirige, como dos que votaram nele.

O nosso Presidente da República é um homem de afetosE aqui em Portugal?

Aqui em Portugal temos um Presidente da República absolutamente extraordinário. Nem o vejo como Presidente, mas sim como um homem de afetos. A grande mudança no mundo tem de começar por estarem nos cargos políticos homens de afetos, homens que sejam humanos. E não aquilo a que estamos habituados que são pessoas de números, de cálculos, de medo e de ditaduras. O Marcelo é um homem de afetos e sinto-me bastante orgulhoso de estar num país cuja cabeça de facto é um homem humano.

Hoje é possível ser feliz ou é cada vez mais difícil?

É absolutamente possível sermos felizes. Mas chega a ser difícil porque assumir a nossa verdade é extremamente difícil. Até acho que sou um privilegiado, porque há umas décadas, se eu dissesse aquilo que digo, a vida podia não me correr bem. Hoje já não me prendem, hoje já não me dão tiros, mas também não tenho medo que isso aconteça e aí é uma premissa grande da relação que tenho com os líderes de afetos. Eles sempre disseram: ‘Eu prefiro morrer a lutar pela minha verdade, do que viver o resto da minha vida na mentira’. E aí estamos completamente de acordo. Esta é a minha missão. Eu nasci para a cumprir e a minha missão, assim como a de qualquer pessoaé ser feliz.

De tudo o que aconselha às pessoas o que é mais difícil de colocar em prática?

Assumir a verdade. É dizer ‘este casamento já não me faz feliz’, ‘mãe não me voltas a falar assim’. É a pessoa aliar a consciência à coragem, porque a decisão é sempre a soma destes fatores, a consciência para se saber o que é que se quer e o que é melhor para nós e a coragem para agir em conformidade. Grande parte das pessoas é indecisa e triste,porque tem consciência, mas não tem a coragem.

Das reações que já recebeu dos leitores qual a mais surpreendente?

Honestamente, não me transcendo com as opiniões boas que dizem a meu respeito, recebo muitas sobre os meus livros, como mudaram a vida das pessoas e digo ‘estás a mentir, porque não foi o livro que mudou, o livro são letras pretas em páginas brancas’, o que mudou foi a interpretação que deste ao que leste.Não ando aqui a cumprir a minha missão para ser reconhecido pelos outros, masporque é isto que me faz feliz. É por isso que sou indestrutível, é por isso que ninguém me consegue derrubar, porque não estou na mão de ninguém. Não estou na mão da opinião pública, se falarem mal de mim, não fico a pensar que sou mau. E se falarem muito bem o meu ego não dispara.

Como é que surgiu a iniciativa de publicar os seus livros noutras línguas?

É mais um sonho que atinjo. Já saiu em Espanha, vai sair também no Brasil este ano. É a prova de que quando não se desiste há um mundo extraordinário pelafrente. Na minha vida como sempre tive vinculado àquilo que me apaixona, acabo por superar todas as dificuldades. Podes escrever um livro… eu escrevi os primeiros livros que não venderam nada e o facto de não desistir, de haver sempre esperança no horizonte, fez com que agora meus livros rompam fronteiras. Mas nada disso, honestamente, me deslumbra.

Falta-me viver experiências maravilhosas, com o meu cão, com o meu filho e com tudo o que possa vir daíO que lhe falta fazer?

Falta-me plantar uma árvore[risos]. Mas já tenho lá uma oliveira em casa, por isso o compromisso jáestá feito. Falta-me viajar muito mais. Escrever muito mais livros. E falta-me viver experiências maravilhosas, com o meu cão, com o meu filho e com tudo o que possa vir daí.