A carreira foi o principal destaque da entrevista a Joaquim Monchique, tendo também recordado um dos piores espetáculos da sua vida, que foi quando a avó materna, Maria, morreu.

“Hoje já não fazia isso, só que tinha uma sala esgotada sentada”, começou por dizer, contando que a avó morreu no dia em que iria completar 90 anos.

“Teve um ciclo maravilhoso. Eu telefonava para saber como é que tinha corrido a festa e ninguém me atendia o telefone. Achei aquilo muito estranho e dois minutos antes de começar a peça, a minha mãe diz-me que a minha avó tinha falecido. Até hoje não sei como é que fiz a peça, ainda por cima era uma comédia”, lembrou.

“O teatro é uma responsabilidade muito maior. Na televisão as pessoas pegam no comando e é muito fácil mudar de canal ou desligar, no teatro as pessoas saíram de casa, arranjaram-se, pagaram para te ir ver”, continuou.

Joaquim afirma que teve “muita sorte com a família que teve”, tecendo rasgados elogios à referida avó, de nacionalidade espanhola. “Aquela avó mostrou-me a cor. Vivíamos num país com três cores, branco, cinza e preto, vindo do salazarismo, mas ali ao lado, em Espanha, havia cor. E ela mostrou-me isso”, destacou.

O ator perdeu cedo o pai, tinha 14 anos quando este partiu, e do progenitor herdou o “carisma”. “Lembro-me de ir na rua com ele e as pessoas ficarem a olhar para trás, ele era muito bonito, a minha mãe também. Tive um pai maravilhoso que partiu muito cedo”, afirmou.

"Já posso morrer descansada, já o vi ao vivo"

Outro momento especial que viveu após um espetáculo foi uma vez, na cidade do Porto, quando encontrou uma senhora com cerca de 95 anos, numa cadeira de rodas. “Eu estava a sair e ela olhou para mim, viu que era eu, fez-me um sinal, eu fui ter com ela e ela disse-me: ‘Já posso morrer descansada, já o vi ao vivo’. Aquilo ficou-me ali. Na televisão nós temos uma dimensão, ao vivo é outra coisa”, partilhou.

“A primeira casa que eu fiz tinha 10 anos"

A arte de representar não é a única paixão de Joaquim Monchique. O ator também adora o trabalho como designer de interiores. “A primeira casa que eu fiz tinha 10 anos. Os meus avôs fizeram uma casa de férias e o mestre de obras um dia veio e eu disse-lhe como é que se devia fazer as janelas… Ele foi ter com a minha avô e ela disse para ele fazer o que eu dissesse. E a casa está lá”, recordou.

Joaquim frisou que conhece tudo sobre obras. “Até estou um bocadinho arrependido porque podia ter ido para arquiteto de interiores e hoje estava a viver em Paris”, acrescentou, na brincadeira.

“Aliás, já ajudei vários amigos, já fiz várias casas, só que as pessoas não mostram, obviamente. Eu vou às feiras de Milão de designer”, continuou, revelando que um “dos seus sonhos é fazer um hotel”.

“Eu sou muito hoteleiro porque toda a vida andei metido em hotéis com as turnés que faço. Sei exatamente o que é que um hotel tem de ter para a pessoa se sentir bem. Um dia vou fazer um hotel”, salientou.

“Ser pai não fazia sentido"

A paternidade nunca foi um objetivo de vida, um tema que esteve também em destaque durante a conversa. “Ser pai não fazia sentido. Fazia sentido se o meu filho tivesse a mesma infância que eu tive”, desabafou. “Eu não teria a carreira que tenho hoje e a capacidade de trabalho se tivesse tido um filho, sei perfeitamente que não”, confessou, realçando o quanto foi feliz na sua infância. “Tenho esta alegria porque fui uma criança muito feliz”, afirmou.

"Não suporto atores. Para ego já estou cá eu"

Apesar de ter vários amigos que trabalham no mundo das artes, faz questão de manter-se ligado a pessoas que têm profissões diferentes para “sair da bolha”.

“Como não tive irmãos, estou sempre a organizar jantares e coisas para estarmos juntos. Nós somos um grupo de sete ou oito, nenhum de teatro, não suporto atores. Para ego já estou cá eu. Normalmente os atores, e estou a generalizar, são muito chatos, muito egocêntricos, estão sempre a falar dos projetos e eu quero sair daquela bolha. Então tenho amigos das mais diversas áreas, muitas das quais dedicadas a esta área da arquitetura e designer de interiores”, explicou.

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