RuPaul é o seu grande ídolo, mas não demorou muito até que Phabullo Rodrigues da Silva Araujo - verdadeiro nome de Pabllo Vittar - ganhasse ainda mais seguidores do que a famosa Drag Queen norte-americana. Porém, esta é apenas uma das muitas conquistas que até agora somou: dois álbuns lançados, vários singles de sucesso e parcerias com artistas brasileiros e internacionais de renome, como Anitta ou Diplo.

Espera com a sua música e com a forma sincera como se assume, "um menino gay que é Drag Queen", abrir mentalidades e lutar pelos direitos da sua bandeira - a comunidade LGBTQ.

Na sua segunda visita a Portugal, para um concerto que decorre na noite desta quarta-feira, dia 24, no Campo Pequeno, quisemos conhecer um pouco melhor a história da artista numa entrevista em que se fala de preconceito e sobre a tolerância necessária para mudar mentalidades.

Para começar, tenho de lhe perguntar se prefere ser chamada de o Pabllo ou a Pabllo?

Como eu estou em ‘persona’ quero que você me chame no feminino, mas quando eu não estou também não me importo. É só um artigo bobo.

Ser artista era um sonho de infância?

Sempre foi, nunca pensei que um dia eu ia viver disso. Mas eu gosto muito e me realizo. Sou uma pessoa muito realizada no meu trabalho.

Ainda se lembra da primeira vez em que se caracterizou como Drag Queen?

Foi no meu aniversário de 18 anos, numa festa de Halloween. O meu aniversário é no dia 1 de novembro e então eu ia sempre a festas de Halloween, nessa aproveitei para me montar pela primeira vez.

Tem muita gente que é assim como eu, tem a voz aguda, é gay, afeminado e passa por esse tipo de bullying

Já era uma vontade antiga?

Já, sempre foi. Eu sempre brinquei com o feminino, com maquilhagem da minha mãe, com roupas. Sempre fui fascinado.

A voz mais feminina, que muitos julgam não ser natural, trouxe-lhe problemas na infância?

Devido à minha voz aguda todo o mundo tirava sarro de mim. Mas hoje em dia eu não ligo. Tem muita gente que é assim como eu, tem a voz aguda, é gay, afeminado e passa por esse tipo de bullying. Eu quero empoderar essas pessoas, que elas não sintam vergonha. Sintam orgulho de serem da forma como são.

No seu caso, a sua infância e adolescência foram marcadas pelo bullying?

Sim, bastante. Mas isso ajudou-me a ser quem eu sou hoje. Deixou-me mais forte.

Sinto-me muito honrada quando alguém me confunde ou fala que eu sou uma transexual, é porque eu sou muito bonita

Como é que os seus pais ajudaram nesse processo?

A minha mãe sempre me apoiou, sempre esteve comigo a dar-me todo o apoio do mundo.

A Pabllo é muitas vezes confundida com uma transexual. Aliás, muitas pessoas têm a dúvida se mudar de sexo seria ou não um desejo seu. Alguma vez lhe passou pela cabeça fazê-lo?

Não e não sei porquê. Não teria vergonha, tenho amigas que são. Mas eu não sou, sou um menino gay que faz Drag Queen. Sinto-me muito honrada quando alguém me confunde ou fala que eu sou uma transexual, é porque eu sou muito bonita então, meu amor.

Como define a sua identidade de género?

Sou gay. Sou um menino gay que faz Drag Queen.

Qual a sua opinião sobre a forma como é definida a identidade de género?

Cada um é como é. Se você se sente bem a ser o que é, eu vou-te respeitar.

Sinto-me muito orgulhosa e muito honrada, porque é muito difícil ser LGBTQ

É visto em todo o mundo e particularmente no Brasil como um ícone da liberdade LGBTQ. Identifica-se com todos os conceitos defendidos pela comunidade?

Sim, claro. Até porque eu sou da comunidade LGBTQ, sou uma das vozes da comunidade e defendo a minha bandeira até ao fim.

Quando começou a sua carreira, defender esta bandeira era um objetivo?

Sempre foi, até porque eu comecei a cantar nas 'prides' [paradas gay]. Não tem para onde correr, estamos todos no mesmo barco. Temos de nos unir e defender.

Como é que se sente ao ver o seu papel na defesa dos direitos LGBTQ é reconhecido não só no Brasil como um pouco por todo o mundo?

Sinto-me muito orgulhosa e muito honrada, porque é muito difícil ser LGBT. E é muito bom poder dar voz à comunidade brasileira.

O preconceito está ainda muito presente no Brasil?

Sempre, não diria nem que está perto de acabar... está é longe. Mas nós resistimos!

Que direitos faltam ainda conquistar?

Num conceito de LGBTQ em geral falta muita coisa.

Como por exemplo?

O direito de casar com a pessoa que você gosta, por exemplo. Ter direito de ter o nome que você quer, ser chamada por um nome.

No meio artístico sofreu algum tipo de preconceito pela forma como se assumiu?

Não, pelo menos que tenha chegado à minha pessoa ou que tenha visto. Preconceito passamos sempre, as pessoas vão sempre falar nas suas costas. Isso vai sempre acontecer, mas eu tenho uma energia muito boa dentro de mim.

E na rua alguma vez viveu alguma situação que a tenha magoado particularmente?

Não, na rua as pessoas são sempre muito carinhosas.

Falou há pouco no direito de cada um casar com a pessoa que ama. Casar e constituir família é um desejo seu?

Não. Acho que eu já tenho uma família, já tenho os meus amigos, já tenho pessoas de que gosto. Não penso em casar.

É difícil ter um relacionamento amoroso quando se é tão famosa?

É mais por não ter tempo. Quando você está num relacionamento quer estar perto da pessoa, quer dividir as coisas com a pessoa. Eu não tenho tempo.

Vai ser incrível, vou trazer toda a minha alegria do Brasil, tanto para os portugueses como para a comunidade brasileira que vive aqui

Quando não está a trabalhar deixa de lado a Pabllo Vittar ou continua a preferir usar os cabelos longos, maquilhagem e toda a produção com que nos habituámos a vê-la?

Não mesmo. Eu gosto de ser o Pabllo sem maquilhagem, com o meu cabelo, a minha toquinha, meus óculos, meu chinelo.

Esta noite, 24 de abril, regressa aos palcos portugueses.

Vai ser incrível!

E que mais espera dos fãs que a vão ver ao Campo Pequeno?

Muita bunda de fora. Eu também vou colocar [risos]. Vai ser incrível, vou trazer toda a minha alegria do Brasil, tanto para os portugueses como para a comunidade brasileira que vive aqui.

A Pabllo já tinha estado em Portugal anteriormente. O que acha do nosso país?

É muito parecido com o Brasil, são muito carinhosos. Gritam muito e querem estar sempre perto. Têm muita energia.

E que tal é o ‘rebolado’ das portuguesas?

Olha, menina, não deixam a desejar não, viu? O ano passado na 'pride' eu vi.

Em relação ao futuro da sua carreira, há novidades a caminho?

Estou a gravar um EP com feats internacionais e a começar um projeto novo para o meu terceiro álbum de estúdio. Estou bem ansiosa, porque o que eu gosto de fazer é criar.

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