Mesmo contra a vontade de parte da família, o filme sobre a vida de Amália Rodrigues está pronto para uma estreia nacional em grande estilo, no dia 4 de Dezembro: estão reservadas 72 salas de cinema, um número record em Portugal, e os promotores sonham com 800 mil espectadores.

Esta semana, oito centenas de convidados já tiveram o privilégio de ver "Amália, o Filme", numa sessão de antestreia no Teatro Camões, em Lisboa.

O elenco compareceu em peso, com a actriz Sandra Barata Belo, de 29 anos, no centro das atenções. É ela que faz de Amália na fita e está confiante: "Fiz o melhor que pude e sabia. O filme é emocionante e ainda me comovo ao rever algumas cenas" confessou a actriz, por sinal uma estreante, minutos antes do visionamento.

Passados nove anos sobre a sua morte, a 6 de Outubro de 1999, Amália Rodrigues ganha um filme que propõe uma "visão da fadista para além dos palcos", seguindo o realizador Carlos Coelho da Silva.

Uma das questões centrais é a tentativa de suicídio em 1984, em Nova Iorque. É inclusivamente esse momento que dá o mote ao filme, um retrato inesperado de Amália. "Sendo Amália a diva dos portugueses, com este filme poderão conhecer pormenores da vida dela, baseados em factos reais, com os quais construímos a história", explicou o realizador, que é casado com a jornalista da SIC Conceição Lino.

A partir da tentativa de suicídio, Amália revive várias das suas memórias íntimas: a sua separação, ainda em criança, dos seus pais, o primeiro casamento falhado com o guitarrista Francisco da Cruz (interpretado por José Fidalgo), o envolvimento conturbado com Eduardo Ricciardi (Ricardo Pereira), o romance nunca consumado com o banqueiro Ricardo Espírito Santo (António Pedro Cerdeira) ou o casamento com o brasileiro César Seabra (Ricardo Carriço).

As expectativas são que o filme venha a ser visto por 800 mil pessoas, mas Carla Chambel, que interpreta Celeste, a irmã de Amália, espera que o número seja ainda superior: "O filme é muito emotivo. Há desempenhos muito bonitos e fortes. A Amália é uma das almas portuguesas e espero que seja o tipo de filme que umas pessoas recomendem às outras", salientou a actriz.

FAMÍLIA INSATISFEITA

Se os actores estão satisfeitos com o produto final, o mesmo não se pode dizer de parte da família da fadista, que entrou com um processo para impedir a exibição do filme.

Mas não conseguiram nada: o Tribunal Cível da Comarca de Lisboa julgou totalmente improcedente a providência cautelar requerida por alguns familiares, contra a produção e exibição de "Amália".

A família da fadista sustentava que a obra exibia pormenores "relativos à vida privada, íntima e pessoal de Amália Rodrigues", evidenciando a obsessão da fadista com a morte e abordando a sua tentativa de suicídio.

Baseando a decisão em entrevistas televisivas de Amália, na vasta bibliografia publicada, no musical de Filipe La Féria e no visionamento do próprio "Amália, o Filme", o Tribunal concluiu que as cenas do filme se reportam a "factos assumidos publicamente por Amália e do conhecimento público", dando resposta negativa a todas as questões invocadas pelos requerentes.

Sandra Barata Belo, a actriz principal, disse entender a posição desses familiares, mas sublinhou que não há razão para eles se preocuparem: "Se alguém fosse fazer alguma coisa sobre a minha família, também ia tentar perceber o que era. Entendo-os, mas eles têm de perceber que não devem temer nada, porque é um trabalho bem feito e cheio de respeito."

Vanessa Amaro (texto)

Bruno Raposo (foto)