Quem tem cães e possui, em simultâneo, um jardim com relva sabe à partida e até por experiência
própria que os cães e a relva são normalmente como o
azeite e a água, ou seja, não se misturam.

Quando começamos a analisar a temática dos efeitos
da ação dos cães na relva, o que salta com destaque notório
é a provocada pelo apreço que os cães têm em fazer as suas
necessidades fisiológicas na relva.

Existem numerosos mitos urbanos sobre a ação da urina
e das fezes dos cães que suscitaram mesmo estudos científicos
sobre esse tema. Em primeiro lugar, é importante esclarecer por que a urina
dos cães queima a relva. Os responsáveis por esse efeito são os
sais de ureia, presentes na urina de todos os animais sendo a sua
concentração diretamente proporcional à quantidade e qualidade
de proteínas ingeridas pelos animais.

O facto de a urina das cadelas provocar, normalmente,
manchas de maiores dimensões e que provocam na relva zonas
secas mais extensas com maior dificuldade de recuperação,
prende-se não com a composição da urina em si, em comparação
com a dos cães, mas com os hábitos de urinar das cadelas,
comuns aliás aos cachorros de ambos os sexos, até à idade de
um ano.

Os cães levantam a pata e utilizam a urina para marcar
território, provocam assim mais danos nos arbustos e herbáceas
do jardim do que propriamente na relva. Os danos provocados
pela urina dos machos agravam-se consideravelmente se
viverem em conjunto com cadelas, porque neste caso têm
tendência para urinar por cima das manchas da cadela também
como resposta territorial.

As manchas de relva seca por ação da urina tendem a ter um
desenvolvimento de relva maior do que o normal nas bordaduras,
provocando um verdadeiro anel verde já que os escorrimentos
laterais, quer por efeito da rega quer da chuva, proporcionam
às plantas sais de ureia em concentrações que permitem o seu
desenvolvimento sem as intoxicar. Neste caso, a urina tem um
efeito de adubo.

Estudos demonstram que quanto mais concentrada é a
urina maiores sãos os danos que provoca.
Os danos provocados pelas fezes dos cães são sempre
incomparavelmente menores e isto essencialmente por
duas razões. A primeira prende-se com o facto de por serem
sólidas a libertação dos sais de ureia ser controlada. A segunda porque normalmente são recolhidas, não chegando
sequer a degradar-se no relvado.

Veja na página seguinte: Como atenuar os danos causados pelos cães

Atenuar danos

Se vedar o acesso ao relvado ao seu cão está fora de questão
na gestão da família, então há que tomar alguma medidas
preventivas para que os danos sejam atenuados.

A primeira medida preventiva prende-se com a educação
do seu animal, que deve ser habituado a utilizar uma zona
determinada do seu jardim, que se aconselha que esteja coberta
com gravilha ou um material tipo mulch, como a casca de
pinheiro. Quando solta os seus animais deve-os acompanhar neste
trajeto para que não se distraiam pelo caminho.

Se os animais são
já adultos, este tipo de treino também é possível aconselhando-se o corte de relva onde tenham urinado e a sua colocação neste
local para que o animal se habitue. É também aconselhado que
na preparação do espaço seja considerada a colocação de postes
porque os machos gostam mais de marcar território urinando
contra os postes. A esta solução pode acrescentar o vedar a área
de relvado onde não quer que o seu animal vá. Esta decisão nem
sempre é popular no seio da família.

A alteração da dieta do seu animal por forma a diminuir a
concentração em proteínas solúveis deve ser discutida com o
veterinário. No entanto, quanto menos proteica for a ração, menos
sais de ureia são produzidos, uma vez que estes resultam da degradação
das proteínas insolúveis).

Quanto mais água o seu animal beber menos concentrada é a urina. Assim, a comida enlatada origina menos
quantidade de sais de ureia por unidade de urina. Uma medida prática
que pode tomar é de misturar água à ração seca do seu animal.

Uma vez o mal feito, como se costuma dizer, podemos sempre adotar medidas que
facilitem a recuperação do seu relvado.
Os efeitos da urina são tanto mais nefastos quanto o seu relvado
estiver mal adubado ou mal regado, as boas praticas de manutenção
de um relvado facilitam assim a sua recuperação.

No entanto, algumas medidas especificas devem ser tomadas.
A rega normal de um relvado não é suficiente para diluir a urina,
cada mancha deve receber pelo menos três vezes o volume de urina
em água para que esta tenha efeitos diluente. Muito importante é,
assim, utilizar uma mangueira localmente nas manchas mas esta
intervenção tem que ser nas 8 horas seguintes ao descuido.

É por
isso necessário dar uma volta diária com atenção ao seu relvado já
Relva de qualidade marcada por manchas de urina
que neste período a relva apresentará sintomas de secura mas não
estará castanha. Se intervir nesta fase, a relva não chegará a ficar
com uma mancha cor de palha.

Veja na página seguinte: A importância de diluir a urina no solo

Uma vez a mancha seca instalada deve, na mesma, regar coma
mangueira para diluir o mais possível a urina no solo, provocando
a sua migração em profundidade.

Quando começar a ver a relva a
querer despontar verde no interior da mancha, então está na altura de
escarificar e ressemear toda a mancha para a completa recuperação.

Uma solução mais rápida passa pelo corte e pela retirada da zona afetada,
eliminando e substituindo o solo por baixo da mancha e colocando uma porção de areia e de um remendo com tapete de relva.

O seu relvado
fica instantaneamente arranjado mas cuidado que neste caso o
tapete usado deve ser idêntico a seu relvado e a sua relva tem que
estar com uma qualidade idêntica á do tapete senão fica com ar de
remendada.

Cuidados imprescindíveis

Estas são algumas das recomendações a ter em conta:

- Cuidado com os produtos que
se vendem para dar ao seu animal
por forma a diluir a urina. São
normalmente causadores de aumento
da pressão arterial e de pedras nos
rins. Consulte sempre o veterinário
antes.

- As rações com alto conteúdo
proteico são destinadas a cães ativos,
como cães de caça. O vulgar cão de
família não necessita de rações de
alto teor proteico.

- Quanto maior o teor em proteínas
solúveis da ração do seu cão, melhor
para o seu relvado.

- Tenha sempre água em abundância
para o seu animal e não se esqueça de
molhar a ração seca.
n A utilização de repelentes para
o seu cão está comprometida pela
rega e/ou pela chuva, pelo que os
resultados não são entusiasmantes.

Texto: Ana Caldeira Cabral (engenheira agrónoma)